A Berlinale recebeu nesta quinta-feira (22) com aplausos o filme mexicano "Museo", no qual Gael García Bernal vive um enigmático estudante que, em 1985, ganhou as manchetes do país ao tentar executar um espetacular roubo no Museu de Arqueologia.
Seu diretor, Alonso Ruizpalacios ("Güeros"), resgatou este acontecimento que manteve os mexicanos em alerta durante meses e obteve resultado: na exibição de seu filme, que disputa o Urso de Ouro, para a imprensa, o público, depois de ver algumas produções sombrias no festival, riu e recebeu a obra com gratidão.
O filme exalta o México: sua história, sua cultura e suas paisagens, pelas quais Juan (Gael García Bernal) e seu amigo Wilson (Leonardo Ortizgris) viajam após ter roubado na noite de Natal um autêntico tesouro do Museu de Arqueologia.
"Me interessa celebrar meu país. Estou muito orgulhoso de ter podido filmar no museu e em Palenque", onde há um complexo arqueológico maia no estado de Chiapas, disse Ruizpalacios em coletiva de imprensa em Berlim.
Juan, um jovem estudante de Veterinária insatisfeito consigo mesmo e hostil com sua família, especialmente com seu pai (Alfredo Castro), convence Wilson, seu fiel amigo incapaz de contradizê-lo, de roubar o museu, que conhece muito bem por ter trabalhado nele.
O roubo é facilmente executado, mas o que fazer com as peças depois? Os dois amigos não haviam previsto semelhante mobilização no país, atônito ante a perda de um tesouro histórico de valor incalculável, e ainda consternado pelo terrível terremoto que quatro meses antes havia deixado mais de 10 mil mortos.
Embora em "Museo" o espectador seja advertido de início de que se trata de uma "réplica" da história real, Ruizpalacios admitiu que os feitos "acabaram sendo um obstáculo" para o filme, no qual trabalhou em uma versão livre.
Tampouco as famílias dos dois assaltantes desejavam que o filme fosse feito e se negaram a participar. "De início nos pareceu um inconveniente, mas acabou sendo um presente", insistiu o cineasta.
À margem do espetacular roubo, rodado minuciosamente com muitos planos que se sucedem em um ritmo acelerado, Ruizpalacios desejava "refletir essa viagem interior de crime e castigo" dos personagens.
- A chegada surpresa de García Bernal -
Mas da mesma forma que ainda não há nenhuma explicação oficial sobre o motivo do roubo, o diretor admite que depois de três anos explorando a personalidade do protagonista não teve uma resposta definitiva.
"Tudo nele era contraditório. É frustrante para os mexicanos, mas temos que viver sem saber" suas motivações.
Gael García Bernal, esperado na Berlinale na sexta-feira, surpreendeu ao aparecer durante a coletiva de imprensa, logo após aterrissar em Berlim, em meio aos aplausos dos jornalistas.
Até o diretor do festival, Dieter Kosslick, entrou na sala para abraçá-lo e parabenizá-lo: "Você conseguiu!", disse ao ator de "Diários de motocicleta", que contou que agora está ensaiando uma peça de teatro.
Gael García Bernal admitiu que tinha apenas seis anos quando o roubo aconteceu. Lembra do terremoto, mas "nessa época quase não sabia o que era um museu. Na verdade não guardo nenhuma recordação", afirmou, sorrindo.
O júri da Berlinale anunciará no sábado o filme vencedor do Urso de Ouro dos 19 que estão na disputa, entre eles outro latino-americano, "Las herederas", do paraguaio Marcelo Martinessi.
* AFP