A campeã olímpica americana McKayla Maroney reconheceu ter sido vítima de abusos sexuais do médico da seleção de ginástica artística dos Estados Unidos, revelação que se soma ao escândalo que o esporte atravessa e revive o caso Weinstein.
"Larry Nassar, médico do time feminino de ginástica e da seleção olímpica, abusou de mim", garantiu a atleta nas redes sociais na terça-feira.
Maroney conquistou uma medalha de ouro e outra de prata nas Olimpíadas de Londres, em 2012.
A denúncia pública não abre a caixa de Pandora, mas reforça a polêmica em torno de Nassar, preso preventivamente por abusos sexuais contra ginastas durante 20 anos.
Em fevereiro, o médico foi acusado 22 vezes por agressões sexuais, inclusive a menores de 13 anos de idade. Nassar integrou o time dos Estados Unidos entre 1996 e 2016, com experiência em quatro Jogos Olímpicos.
A Federação de ginástica dos Estados Unidos aplaudiu "a valentia" da jovem. A instituição garantiu por meio de comunicado que "reforça e melhora as políticas e procedimentos sobre abusos sexuais" para garantir a segurança de seus atletas.
"Sei o difícil que é falar publicamente de algo tão horrível e tão pessoal, porque também aconteceu comigo", explicou Maroney em carta publicada no Twitter.
A medalhista acompanhou seu depoimento com a hashtag #MeToo (eu também, em português), popularizada nas redes sociais para denunciar comportamentos sexuais abusivos contra mulheres. O movimento começou após atrizes acusarem o poderoso produtor Harvey Weinstein de estupro, agressão ou assédio.
"As pessoas devem saber que isto não acontece apenas em Hollywood. Acontece em todos os lugares. Sonhava em ir aos Jogos Olímpicos, mas as coisas que tive que passar para chegar lá foram desnecessárias e repugnantes", contou.
"Tudo começou quando tinha 13 anos e não acabou até eu deixar o esporte", sublinhou. Maroney revelou ter sofrido abusos antes da disputa por equipes em Londres, vencida pelos EUA, e antes da final do salto, em que terminou na segunda colocação.
- "Nunca é tarde" -
A campeã olímpica agora tem 21 anos e revelou que Nassar dizia ser necessário aplicar "um tratamento médico que ofereceu à pacientes há mais de 30 anos".
"Parecia que cada vez que este homem podia, eu deveria ser 'tratada'", manifestou.
"A pior noite de sua vida" foi em 2011, quando Nassar deu soníferos durante um voo para o Japão, onde seria disputado o Mundial. Maroney tinha apenas 15 anos.
A seguinte memória da atleta é "estar sozinha com ele em seu quarto de hotel recebendo um 'tratamento'". "Pensei que ia morrer nesta noite", confessou.
Maroney recomendou às vítimas de assédio falarem sobre suas histórias, porque "nosso silêncio deu poder à pessoas equivocadas durante muito tempo e nunca é tarde".
Pediu "tolerância zero aos agressores e a quem os protegem", "educar e prevenir" e "exigiu responsabilidades".
O escândalo iniciou em dezembro de 2016, quando o jornal Indianapolis Star publicou, após nove meses de investigação, que 368 membros de clubes afiliados da Federação de Ginástica sofreram abusos nas duas décadas anteriores. Entre eles, crianças e adolescentes.
Três ex-atletas do time americano acusaram posteriormente a conduta de Nassar. Entre elas Jamie Dantzscher, campeã olímpica em Sidney-2000. A ginasta garantiu ter sofrido abusos entre os 13 e 18 anos.
O presidente da Federação de Ginástica, Steve Penny, pediu demissão em março por sua administração da crise e por alertar as autoridades tarde demais.
* AFP