Arrastando barcos atrás de suas picapes, equipes de resgate formadas por voluntários atravessam o Texas, nos Estados Unidos, para socorrer as pessoas que ficaram ilhadas nas inundações causadas pelas fortes chuvas da tempestade Harvey.
Uma ajuda particularmente apreciada na periferia pela polícia local, sobrecarregada pelos estragos do furacão Harvey.
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– Facas, cordas, arreios, água, coletes salva-vidas para as crianças (...) Com sorte, é tudo o que precisamos – enumera Tyrel Cox.
Aos 31 anos, o funcionário de uma plataforma offshore não hesitou em pegar a estrada com seu pai e seu barco, saindo de Waco, no norte do Texas.
– Fui guarda-costas, tenho um barco, e eles lançaram um pedido de ajuda, então viemos – explica, com as mãos no volante e se preparando para liderar um comboio de dezenas de carros e barcos reunidos à espera de saber onde a polícia do condado de Harris precisa de ajuda.
Após arrasar Houston, quarta metrópole dos Estados Unidos, com 2,3 milhões de habitantes, as inundações paralisavam boa parte da aglomeração, atingindo mais de 6 milhões de pessoas, pois o socorro oficial tem dificuldades para chegar.
Em Cypress, nada de caminhões de bombeiros ou ambulâncias nas ruas. Apenas a polícia local e o exército improvisado de voluntários percorrem a pequena cidade da periferia noroeste de 46 mil habitantes.
– Pessoas chegam de todas as partes, inclusive daqui, para nos ajudar a ver se ainda há pessoas presas em suas casas – explica uma policial.
– Nossos homens já estão muito ocupados, não conseguem nem mesmo chegar até aqui (...). Então, os moradores e o escritório do xerife devem se unir e tentar ver o que pode ser feito – acrescenta a agente Simon.
Ele complementa:
– Estamos tentando chegar a um bolsão onde os habitantes provavelmente não têm mais eletricidade, não podem carregar seus telefones ou acessar as redes sociais para pedir ajuda, então tentamos enviar voluntários.
Pessoas como nós
Lee Dejong, 29 anos, espera ao lado do carro para partir em busca de moradores ilhados. Ele veio com um colega de Austin, 1h30min de distância ao noroeste de Houston, assim que ouviu que as inundações ameaçavam a cidade e sua periferia, onde um de seus colegas mora.
Na estrada, os dois compraram um barco de ocasião, oferecido pelo Facebook. Com pudor, se esquivam da pergunta sobre o preço e afirmam apenas que escolheram um pequeno porque tinham apenas um carro. Mas, em um estacionamento, encontraram dois jovens de Hempstead, perto de Cypress, que tinham um veículo maior.
– Queríamos ajuda. Eles tinham um barco e nós uma picape – explica Armando Guerra, 24 anos.
Os quatro esperam as ordens da polícia de Harris à margem de uma estrada que se tornou um verdadeiro rio.
Mais ao sul, em Clodine, um bairro de Houston Ouest, a cena se repete.
Andrew Brennan veio com um barco desde a Louisiana, onde as cicatrizes do furacão Katrina, que destruiu parte de Nova Orleans em 2005, seguem vivas.
– Viemos porque eles foram nos ajudar no furacão Katrina – afirma.
Cabelos longos, ele dirigiu mais de cinco horas para chegar até Houston.
– É a nossa primeira operação de resgate, espero poder ajudar – revela Brennan.
Por meio de um aplicativo e em coordenação com os moradores, esses voluntários trocam informações sobre a localização de habitantes ilhados.
Foi ao ver o nível da água subir em sua casa, em Clodine, que a família Alvarez pediu ajuda. Após várias horas, enfim, foi salva por uma equipe de voluntários.
Ainda trêmula, Sonia Alvarez diz que esperava ver chegar ajuda.
– Bombeiros ou esse tipo de pessoa, mas foram pessoas como nós que vieram nos ajudar (...). Pessoas com as quais frequentamos a escola, vizinhos – desabafa, finalizando:
– Uma coisa é certa, tenho orgulho de ser texana e de Houston.