Enfrentando uma crise política nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump decolou de Washington, nesta sexta-feira (19), para um viagem de oito dias a cinco países. O republicano passará por Arábia Saudita, Israel, Cisjordânia, Itália e Bélgica na próxima semana. Será a primeira viagem internacional prolongada de Trump desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro.
O presidente norte-americano deixa o país sob a acusação de que teria pedido ao ex-diretor do FBI, James Comey, o encerramento da investigação sobre as relações do ex-assessor da Casa Branca, Michael Flynn, com a Rússia. Trump também é alvo de críticas pela suspeita de que teria repassado informações sigilosas aos russos durante a visita do chanceler Serguei Lavrov a Washington, na semana passada.
Além de colocar Trump em situação delicada, a pressão da interna reavivou as dúvidas sobre a capacidade do mandatário norte-americano de desempenhar a função presidencial em missão diplomática.
– O fato é que ninguém sabe como Donald Trump vai se comportar ou o que dirá nas reuniões que nunca esteve – resume Stephen Sestanovich, do Conselho de Relações Exteriores.
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Os conselheiros do presidente imprevisível, de 70 anos, afirmam que seu estilo "amigável, mas franco" é uma garantia de eficiência nas relações internacionais.
Trump, pouco simpático a viagens longas, será acompanhado pela esposa Melania, pouco presente em atividades públicas nos primeiros meses do governo republicano. Sua filha, Ivanka, e seu genro, Jared Kushner, dois dos seus assessores mais próximos, também estarão com Trump.
O magnata do ramo imobiliário, que tenta ajustar as incendiárias declarações de campanha, terá de explicar como seu lema favorito, a "América primeiro", é compatível com o multilateralismo.
– O presidente sabe que "América primeiro" não significa "Estados Unidos sozinhos", muito pelo contrário – declarou o general H.R. McMaster, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Discurso sobre o Islã
A Casa Branca antecipa uma viagem "histórica", na qual o presidente irá ao encontro das três grandes religiões monoteístas. Em Riad, onde chegará no sábado (20), Trump deverá se esforçar para marcar o contraste com o antecessor, Barack Obama, que despertou a desconfiança das monarquias sunitas do Golfo.
Um poderoso discurso contra o Irã xiita, o silêncio sobre questões de direitos humanos e um provável anúncio de contratos de armas são os ingredientes para que a recepção seja boa na Arábia. No entanto, o presidente faz uma aposta arriscada ao se pronunciar na capital saudita para mais de 50 líderes de países muçulmanos: um discurso sobre o Islã.
– Vou chamá-los a combater o ódio e o extremismo – prometeu antes da viagem, citando uma "visão pacífica do Islã".
Em Israel, onde espera impulsionar a ideia de um acordo de paz com os palestinos, Trump se reunirá com Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, e com o presidente palestino Mahmud Abbas, em Belém, nos territórios palestinos ocupados.
A etapa da viagem deverá ser cercada de polêmicas, principalmente quanto a organização da visita ao Muro das Lamentações e a transmissão aos russos de informações confidenciais obtidas pelo aliado israelense.
O encontro com o papa Francisco no Vaticano terá um aspecto singular, uma vez que as posições dos dois são opostas em questões como imigração, refugiados ou mudanças climáticas.
A Europa, onde Trump semeou discordância com declarações contraditórias sobre o Brexit, o futuro da União Europeia e o papel da Otan, será a última etapa da turnê com uma reunião cúpula da Aliança Atlântica em Bruxelas e outra do G7, em Taormina, na Sicília.
Até agora, Trump não reafirmou o compromisso dos Estados Unidos com o artigo 5 do tratado da Otan sobre a solidariedade do país em caso de agressão externa.
Viagem de Nixon em 1974
A percepção da viagem nos Estados Unidos também será crucial. Consciente de que a ameaça terrorista é uma questão de preocupação central, o presidente republicano espera voltar com compromissos concretos com seus aliados na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Mas, quaisquer que sejam as impressões sobre a viagem, não serão suficientes para fazer esquecer os casos que sacodem a presidência em Washington.
Para Bruce Riedel, um ex-oficial da CIA e agora analista do Brookings Institution, uma comparação que naturalmente vem à mente é a viagem ao Oriente Médio, em 1974, de Richard Nixon, que esperava um sucesso diplomático "para desviar a atenção do escândalo Watergate".
– Isso não funcionou, a imprensa americana se concentrou implacavelmente sobre Watergate, tratando a viagem como um acessório, enquanto as revelações continuavam a se acumular – lembra ele.
*AFP