Portugal se prepara neste domingo para prestar suas últimas homenagens ao ex-presidente socialista Mario Soares, que morreu no sábado aos 92 anos, figura histórica que abriu o caminho para a libertação do país do jugo da ditadura de Salazar em 1974.
Sua família gostaria que as cerimônias fúnebres, previstas para segunda e terça-feira em Lisboa, fossem um reflexo da personalidade do ex-chefe de Estado jovial que cultivada a "proximidade com as pessoas", indicou seu ex-assessor José Manuel dos Santos.
"Obrigado, Soares!", "Toda uma vida dedicada à luta pela liberdade" ou "Sinto muito, mas me retiro", eram as manchetes dos jornais, enquanto os canais de televisão exibiam imagens em loop do "pai da nação".
Terça-feira à tarde, o ex-político será enterrado no cemitério dos Prazeres, no oeste da capital, onde já está o corpo de sua esposa, a atriz e filantropa Maria Barroso, que morreu em julho de 2015.
O governo socialista declarou três dias de luto nacional e pediu que "todos os cidadãos" prestem homenagem a esta "grande figura da história contemporânea portuguesa, o fundador do nosso sistema democrático e símbolo da liberdade".
No cenário político português, por mais de quarenta anos, Mario Soares foi o fundador do Partido Socialista, duas vezes chefe de governo, presidente da República de 1986 a 1996, e deputado europeu.
Longevidade política
Questionado sobre o segredo de sua longevidade política, ele gostava de dizer que "sempre senti um grande desejo de viver e uma enorme curiosidade".
– Eu tenho uma certa energia vital. Dadas as inevitáveis moléstias da vida, eu viro com facilidade a página – assegurou.
Filho de um padre, Mario Soares se definia como agnóstico, mas permanecerá na memória dos portugueses como um homem de convicções e um incansável defensor dos valores democráticos.
Para seu biógrafo Joaquim Vieira, a França, onde viveu no exílio no início dos anos 70, teve um papel importante em sua formação política:
–Soares começou sua carreira como um comunista antes de romper com o PC no início dos anos 50. Em seguida, as suas ideias socialistas vieram principalmente da França. Fora de Portugal, ele era visto como o líder político que salvou Portugal do comunismo após a Revolução dos Cravos – disse à AFP.
Uma página que é virada
Para os portugueses, uma página importante da história é virada.
– Ele contribuiu enormemente para a entrada de Portugal na Europa. Infelizmente, se vai quando tudo o que ele sonhou está desaparecendo pouco a pouco. Isso vai com ele – lamentou Maria Fernanda, uma funcionária de 62 anos.
– Foi uma personalidade muito importante de Portugal. Ele lutou pela democracia, a integração europeia, a descolonização e contra o fascismo – disse Fátima Sá, de 66 anos, uma aposentada do serviço público.
– Mario Soares será lembrado como um ativista e líder político que desempenhou um papel central no retorno de Portugal para a democracia – reagiu o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau.
– Ele encarnou com François Mitterrand e Helmut Kohl o grande impulso europeu – afirmou o presidente francês, François Hollande.
Para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "Mario Soares foi um dos grandes homens públicos do século XX, não só em Portugal, mas na Europa e no mundo inteiro."