Após convidar seus aliados a manter a Europa forte e unida, em sua última viagem oficial ao continente, o presidente americano Barack Obama advertiu contra a "escalada de um tipo de nacionalismo sumário, de identidade étnica, ou de tribalismo construído em torno da noção de 'nós' e 'eles'", evocando tanto a eleição de Trump quanto o Brexit e o lugar ocupado hoje na França pelo partido de extrema-direita Frente Nacional.
Além de Atenas, Obama também irá à Alemanha, onde os principais líderes do continente – entre eles o francês François Hollande, a britânica Theresa May e o italiano Matteo Renzi – vão se reunir em um último encontro com o americano, ciceroneado pela chanceler Angela Merkel.
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Não foi por acaso que o presidente americano escolheu a Grécia para estar entre os dois países europeus de sua viagem de despedida. A Grécia é "o berço da democracia", lembrou Obama, e ela "deu o exemplo com a crise dos refugiados": um milhão de pessoas, sobretudo sírios e iraquianos, chegaram ao país desde 2015 e mais de 60 mil ainda estão lá.
– Quero agradecer publicamente ao povo grego – declarou Obama, o qual demonstrou - segundo ele - "uma compaixão extraordinária".
O presidente lembrou ainda que a relação entre os dois países na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) "é da mais alta importância". Ele felicitou a Grécia por ser um dos cinco membros da Otan a "manter o compromisso de dedicar 2% de seu PIB para a defesa".
– Se a Grécia consegue fazer isso em tempos econômicos difíceis, todos os nossos aliados deveriam poder fazê-lo – acrescentou. – A austeridade sozinha não pode trazer prosperidade – completou o presidente americano, referindo-se a uma Grécia que se encontra sob tutela financeira da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) desde 2010.
Fazendo um apelo pela continuidade das reformas estruturais, Obama se pronunciou a favor de "um alívio da dívida grega" – uma indireta sobretudo para a Alemanha, que se mantém reticente sobre o assunto.
Depois da imposição de draconianas medidas de austeridade em troca de um plano de resgate internacional, a Grécia tenta sair da recessão, com uma leve recuperação econômica.
– Acredito, ardorosamente, em que para realizar reformas que se sustentem no tempo, as pessoas precisam de esperança – disse Obama em entrevista ao jornal grego Kathimerini.
Nela, prometeu estimular os credores de Atenas "a adotar as medidas necessárias, em especial em relação a um alívio da dívida, para que (o país) possa retomar um crescimento econômico robusto".
Para o premiê Alexis Tsipras, essas decisões "dirão respeito não apenas à Grécia, mas também à Europa e, portanto, à economia mundial".
Dia simbólico
Na quarta-feira, está previsto o dia mais simbólico da viagem, no qual o presidente americano visitará a Acrópole e, depois, pronunciará um discurso sobre os desafios da globalização. Paira uma grande expectativa sobre esse discurso, em um momento de efervescência de vários movimentos populistas, dos dois lados do Atlântico.
O 44º presidente dos Estados Unidos provavelmente imaginou outro clima para sua última viagem oficial, mas a chegada de Donald Trump à Casa Branca provoca surpresa e preocupação. Levanta também inúmeros questionamentos sobre a política externa dos Estados Unidos, em particular no que diz respeito aos acordos sobre o clima e à política nuclear de Irã.
Com a visita de Obama, o centro de Atenas se encontrava hoje sob um forte dispositivo de segurança. Ao anoitecer, a Polícia grega lançou gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para conter o avanço para o centro de cerca de 2.500 manifestantes anti-Obama. Entre os participantes, simpatizantes da esquerda em sua maioria, havia cerca de 400 pessoas pertencentes a movimentos anarquistas, informou a Polícia à AFP. Os manifestantes levavam cartazes com frases como "Obama non grata", "Não à guerra", ou "Não ao imperialismo".
Depois de Atenas, Obama segue para a Alemanha, onde se reúne com Angela Merkel e com os demais líderes europeus.
*AFP