A inteligência venezuelana recebeu ordem para prender um líder opositor na madrugada desta quinta-feira, depois que o presidente Nicolás Maduro chamou de tentativa de "golpe de Estado" os incidentes que deixaram três mortos durante protestos estudantis na quarta-feira.
A juíza Ralenys Tovar ordenou ao Serviço Bolivariano de Inteligência a detenção do opositor Leopoldo López, acusado de homicídio, lesões graves e associação para delinquir, informa o site do jornal El Universal, que publicou uma imagem da ordem apreensão 007-14.
Uma porta-voz de López afirmou que não tinha informações a respeito.
Na quarta-feira, milhares de estudantes, acompanhados por líderes da oposição, protestaram nas ruas de Caracas e de outras cidades contra a insegurança, a inflação e a falta de produtos básicos, em uma nova etapa da mobilização dos jovens registrada há 10 dias.
O protesto, o mais intenso contra Maduro desde que ele sucedeu Hugo Chávez, provocou incidentes durante várias horas. Três pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e quase 80 foram detidas.
- Lamentável o assassinato de um membro combativo da Revolução Bolivariana perto da Praça Candelária (a 200 metros de onde os opositores protestavam). Foi assassinado de forma vil pelo fascismo - , havia dito mais cedo Diosdado Cabello, presidente da Câmara, em um ato transmitido pela televisão oficial, ao anunciar o primeiro morto dos protestos.
A primeira vítima fatal era um simpatizante do chavismo, identificado como morador do bairro popular 23 de Janeiro, reduto do governo. Ele faleceu durante as manifestações.
- Calma e prudência, esta é uma provocação da direita (...) Até quando vamos continuar registrando mortes? - , disse Cabello, que não deu detalhes sobre as circunstâncias em que o ativista do chavismo morreu durante a manifestação.
Um manifestante do município opositor de Chacao teve sua morte anunciada na página do Twitter do prefeito da cidade, Ramón Muchacho.
A Venezuela, com gigantescas reservas de petróleo, tem uma inflação anual de 56,3% e um índice de escassez que em janeiro alcançou um em cada quatro produtos básicos, enquanto a violência provoca entre 39 e 79 homicídios por ano a cada 100 mil habitantes, segundo as estatísticas oficiais ou de várias ONGs.
Em um discurso exaltado transmitido por rádio e televisão, Maduro denunciou um - golpe de Estado em desenvolvimento - , mas prometeu que - a revolução bolivariana vai triunfar -
Maduro, que assistiu a um grande desfile militar, que exibiu mísseis em rampas de lançamento móveis e blindados, disse ter dado - instruções muito claras às forças de segurança (...) quem sair para tentar exercer violência sem permissão para mobilização será detido -
Oposição nas ruas
Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular (um dos maiores da oposição) e agora com ordem de captura, é um dos três dirigentes que estimulam a tática de ocupar as ruas com protestos antigovernamentais com o lema "A saída".
Os outros dois líderes do movimento são o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e a deputada Maria Corina Machado, que tem imunidade parlamentar.
A tática da oposição nas ruas rendeu acusações de golpismo e divergências com outros opositores, como o ex-candidato presidencial Henrique Capriles.
Os três dirigentes ratificaram a estratégia na noite de quarta-feira.
- Diante de uma tirania a resposta é a rua e a mobilização", disse a deputada Maria Corina Machado, que chama o governo de ditadura Castro-Comunista -
- Seguiremos com nossa agenda de luta nas ruas - , completou o prefeito Ledezma.
Maduro foi eleito em abril de 2013 por pequena margem de 1,5% ante Henrique Capriles. Mas oito meses depois, nas eleições municipais de dezembro de 2013, os candidatos do governo receberam 55% dos votos.
Um grupo de pessoas usando símbolos chavistas roubou uma câmera que pertencia à equipe de jornalistas da Agence France-Presse que cobria nesta quarta-feira as manifestações em Caracas contra o governo.
A unidade de polícia procurada pelos jornalistas se recusou a prestar ajuda e se limitou a dizer que a equipe não deveria estar no local.
- Vocês deveriam saber o perigo que estavam correndo quando vieram para cá - , disse o coronel da Guarda Nacional Bolivariana D. González às jornalistas Patricia Clarembaux e Mariana Cadenas.
Na câmera roubada estavam gravadas imagens que registram o uso de gás lacrimogêneo contra os manifestantes, prisões e golpes dados por homens uniformizados contra seis estudantes. Havia também o relato de uma jovem que contava o que tinha acontecido.