Recentemente, em uma manhã, um conjunto de pessoas com doença mental percorria as instalações de um hospital psiquiátrico daqui, pisando em quartos sujos, desmantelados; trocando angústias; e enchendo os administradores de perguntas.
Entretanto, eles não eram pacientes. Eles carregavam notebooks, canetas e câmeras enquanto documentavam as condições do hospital em ruínas, parte de um movimento incipiente de ex-pacientes para responsabilizar o sistema de saúde do México por um registro de negligência e abuso que é considerado um dos piores nas Américas.
- Nós nos tornamos ativistas para proteger nossos próprios direitos - , disse Raúl Montoya, diretor da Colectivo Chuhcan, uma organização de pessoas com desordens psiquiátricas exigindo o fim dos problemas sistêmicos.
Nos últimos anos, grupos de cidadãos surgiram no México para lutar por uma abrangente variedade de causas, incluindo acesso mais amplo a registros públicos, julgamentos justos para aqueles presos sob circunstâncias questionáveis e um sistema de avaliação obrigatório para professores.
Agora, um número crescente de pessoas com doenças mentais severas, uma população que é amplamente zombada e ignorada por aqui, está se juntando à luta, pressionando um assunto que tem sido muito bem documentado. Um relatório de 2010 da Disability Rights International, um grupo de direitos humanos, encontrou evidências de tortura e outras formas de crueldade ou tratamento desumano nas instituições psiquiátricas mexicanas.
Em janeiro, o presidente Enrique Peña Nieto, prometendo cumprir as antigas promessas de arrumar o sistema de saúde mental, assinou uma lei que tem a intenção de avaliar a superlotação, melhorar os tratamentos e reduzir o estigma da doença mental ao reintegrar pessoas com desordens psíquicas na população em geral.
Todavia, especialistas dizem que o progresso tem sido fragmentário, e que as promessas de melhorar o sistema, repetidamente, são insuficientes. Frequentemente, o dinheiro e a atenção são voltados para melhorias no curto prazo, ou mesmo, estéticas, ao invés de desenvolverem os programas de reabilitação e outros cuidados no longo prazo.
- O México, preciso dizer, está desperdiçando um pouco do próprio dinheiro - , disse o Dr. Robert L. Okin, psiquiatra e conselheiro da Disability Rights International, que visitou vários hospitais psiquiátricos em setembro, para inspecionar as condições. - É reorganizar as cadeiras do Titanic. -
Em um dos hospitais, alguns membros da equipe admitiram que os pacientes não tinham atividades, e que passavam os dias na cama ou arranhando paredes.
Em outro, estava em andamento a construção de três novos prédios para visitas ambulatoriais e escritórios administrativos. Ainda assim, um programa piloto para ajudar pacientes a aprender tarefas diárias através de visitas ao mercado e a restaurantes atende apenas seis pacientes, e sua expansão tem sido lenta por falta de recursos. O hospital também tinha planos para uma casa de recuperação para até cinco pacientes, mas sofreu para achar elementos básicos como mobília.
Formado em 2011, o conjunto Chuhcan começou como um projeto da Disability Rights International mas, desde então, tem estado sozinho. Seus membros encorajam uns aos outros em suas reabilitações, dão apoio emocional para pacientes psiquiátricos e organizam campanhas de conscientização para erradicar o estigma relacionado às doenças mentais. Em agosto, eles começaram a visitar hospitais psiquiátricos e a pressionar o governo em busca de melhores condições.
Problemas de doença mental são, em grande parte, um tabu e, frequentemente, mal-interpretados no México. Porém, indícios de aceitação estão aparecendo. O Radio Abierta, programa mexicano de rádio criado por pacientes psiquiátricos, tem crescido de maneira estável desde que começou em 2009. Ele permite que os convidados, muitos deles com desordens psiquiátricas, dominem as ondas durante uma hora por semana, e o programa tomou mais corpo incluindo especialistas e estudantes de psicologia.
- Essas não são mais vozes que ninguém pode escutar; elas ganharam espaço - , disse a Dra. Sara Makowski, psiquiatra que fundou e apresenta o programa, que fomenta discussões sobre qualquer coisa desde futebol até budismo.
O programa tem sua própria versão de humor - com slogans como "uma vez que você entra no barco maluco, é difícil sair dele" -, mas também mostra reclamações sérias.
- Eles me deram banho de água fria; eu me oponho a isso! - , disse Jaime Gustavo, paciente de um hospital perto do local improvisado para a gravação do programa, sobre um episódio recente.
Makowski disse que responder tais reclamações levou os administradores daquele hospital a negar o acesso dela ali. Cerca de 20 pacientes do hospital participaram do programa quando ele foi ao ar pela primeira vez; hoje, apenas cinco contribuem regularmente.
Okin também sabe o quanto instituições mentais podem ser fechadas. Durante uma de suas visitas ao hospital, um médico lhe disse que ele não poderia tirar fotos e ameaçou prendê-lo se ele tentasse fazer isso.
Tais restrições de acesso tornam as observações dos membros do conjunto Chuhcan ainda mais importantes, segundo especialistas.
- Ter passado pela toxicidade dessas condições, dia após dia - , disse Okin, dá a eles - uma compreensão não falada a um nível visceral que nós, simplesmente, não temos. -
Durante uma recente visita à instituição, Natalia Santos, presidente da Chuhcan, e dois outros membros do grupo tomaram notas detalhadas sobre quais pertences os pacientes podiam ter ali, a expressão facial deles e a extensiva falta de atividades. Eles frequentemente perguntavam aos pacientes como eles estavam se sentindo e de que precisavam.
- Quem melhor para fazer este trabalho do que alguém que tenha sua própria deficiência? - , perguntou Santos, que sofre de esquizofrenia paranoica e depressão. - Eu posso ver que eles não estão bem. Alguns mostram medo, outros raiva e outros impotência. -
Alguns pacientes que os reconheceram de visitas anteriores tentaram lhes dizer - alguns através de gemidos e gestos - sobre casos de abuso no hospital, e outros simplesmente ansiavam por um contato humano com pessoas de fora.
O grupo pareceu assustado durante o passeio, devastados pelos cheiros ruins e pisando em calçadas sólidas.
- Às vezes, nós paramos para pensar que poderíamos acabar deste jeito se não nos controlarmos - , disse Santos, que foi hospitalizada duas vezes. - Eu tento ser forte. -
Saúde mental
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