O americano Edward Snowden, que revelou um vasto programa secreto de vigilância eletrônica pela internet nos Estados Unidos, prometeu novas revelações e expressou seu desejo de permanecer em Hong Kong e de resistir a qualquer tentativa de extradição ao seu país, indicou nesta quarta-feira um jornal desta zona administrativa chinesa.
- Não sou um herói nem um traidor. Sou um americano - declarou Snowden em uma entrevista que teve um trecho divulgado pelo South China Morning Post (SCMP).
Neste trecho, divulgado on-line antes da publicação da entrevista completa, o ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA), de 29 anos, mostra-se decidido a revelar "outros detalhes explosivos" sobre os alvos dos programas de vigilância americanos.
Snowden também fala de seu medo pela segurança de sua família e de seus planos imediatos, indicou o jornal, depois de entrevistar o também ex-agente da CIA nesta quarta-feira em um local secreto no território semi-autônomo chinês.
- As pessoas que pensam que cometi um erro ao escolher Hong Kong se equivocam sobre minhas intenções. Não estou aqui para fugir da justiça, estou aqui para denunciar a criminalidade - acrescentou, segundo o jornal de língua inglesa.
Snowden prometeu lutar contra qualquer tentativa de extradição realizada pelo governo americano, indicou ele ao jornal, depois de chegar a Hong Kong no dia 20 de maio e vazar uma operação global de espionagem efetuada pela NSA para os jornais The Guardian e The Washington Post.
- Minha intenção é pedir que os tribunais e o povo de Hong Kong decidam meu destino. Não tenho razão alguma para duvidar do seu sistema - declarou o ex-agente ao SCMP.
Muitos legisladores em Washington estão em pé de guerra depois que Snowden vazou a operação de monitoramento de tráfego na web e de registros telefônicos de usuários privados, em um esquema que, segundo a Casa Branca, é necessário para manter os americanos a salvo do terror.
Investigações criminais estão em andamento, mas até o momento os Estados Unidos não entraram com um pedido formal de extradição para Hong Kong, ex-colônia britânica que manteve o seu sistema legal separado mesmo depois de seu retorno ao domínio chinês, em 1997.
Em última análise, Pequim mantém o controle sobre a Defesa e as Relações Exteriores - e pode vetar decisões de extradição tomadas por tribunais de Hong Kong. A imprensa de Hong Kong afirmou que Snowden buscava a representação de advogados proeminentes com experiência em direitos humanos e em casos de asilo.
Ele ganhou o apoio do movimento pró-democracia da cidade, que marcou uma manifestação para o próximo sábado. Os organizadores do protesto afirmaram que os manifestantes se dirigirão primeiro ao consulado dos Estados Unidos e, em seguida, à sede do governo.
-Temos que protegê-lo. Estamos pedindo que o governo de Hong Kong defenda a liberdade de expressão - afirmou Tom Grundy, um porta-voz dos organizadores, à AFP nesta quarta-feira.
- Não sabemos quais leis ele pode ou não ter quebrado, mas, se Pequim tem a palavra final, eles não precisam extraditá-lo se ele for um dissidente político - disse.
A batalha prolongada que se anuncia sobre o destino de Snowden ameaça complicar a tentativa de aproximação entre China e Estados Unidos, após o encontro na Califórnia no último fim de semana entre Barack Obama e o líder chinês, Xi Jinping. A União Europeia já manifestou preocupação pela magnitude da operação coordenada pela NSA.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, afirmou na terça-feira que Obama havia assinado uma ordem executiva exigindo proteção para os denunciantes da comunidade de inteligência que utilizarem canais "apropriados" - o que não inclui vazamentos para jornais, o caso de Snowden - com o objetivo de denunciar supostas irregularidades.
Mas Carney rejeitou todas as perguntas sobre Snowden e recusou-se a falar de suas ações enquanto as investigações estiverem em andamento. No Capitólio, no entanto, a linguagem era mais direta.
O chefe da maioria republicana da Câmara dos Representantes, John Boehner, descreveu os vazamentos de Snowden como uma violação "gigante" da lei.
- Ele é um traidor - disse Boehner à rede ABC News em uma entrevista. A divulgação dessa informação coloca os americanos em risco. Ela mostra aos nossos adversários quais são as nossas capacidades- disse.
O chefe da NSA, o general Keith Alexander, vai depor diante de uma comissão do Senado americano ainda nesta quarta-feira para explicar o Prism, a operação de inteligência divulgada por Snowden.