Penitas, Texas - A cerca da fronteira atrás da casa de Manuel Zamora transmite força e proteção, com seus postes de aço perfeitamente alinhados logo além do sinuoso Rio Grande. Mas todas as noites, atravessadores chegam. Após o anoitecer e também ao nascer do dia, dezenas de imigrantes escalam ou contornam o muro, e sua chegada é anunciada pelos latidos zangados dos cachorros no quintal.
- Veja, eles vêm vindo - disse Zamora logo cedo em uma manhã recente. Ele apontou na direção do pátio do vizinho, onde um jovem vestindo um moletom escuro e tênis brancos disparou na direção da estrada, com a respiração visível no amanhecer de inverno. Três outros seguiram, apressando-se a entrar em um sedan branco que chegou no momento exato em que colocaram os pés na calçada.
- Não sei como o governo pode impedir isso - Zamora disse, observando o carro se afastar. - É impossível impedir o tráfego. Com certeza, não se consegue impedi-lo com leis e muros.
A questão vem desafiando o Congresso há décadas, e enquanto os legisladores buscam uma revisão completa das leis de imigração, o país está mais uma vez debatendo o que fazer acerca da segurança das fronteiras.
De acordo com todos os indicadores, a migração ilegal para os Estados Unidos caiu vertiginosamente - em parte devido à aplicação mais severa das leis de imigração - e permanece estável em níveis baixos há vários anos. Mas visitas a mais de seis localidades de fronteira nos últimos dois anos revelam que os níveis de controle variam significativamente ao longo da fronteira.
Muitos trechos que já foram pontos populares de travessia passaram por melhorias inegáveis. Os abrigos de imigrantes a partir de El Paso, Texas, atualmente estão frequentemente vazios. Uma geração após San Diego ser sobrecarregada com milhares de imigrantes correndo abertamente para a cidade diariamente, especialistas, agentes do Patrulhamento da Fronteira e deportados em Tijuana, México, afirmam que as chances de chegar ao Sul da Califórnia são pequenas, com probabilidade de sucesso de um em dez, ou menos.
Em outros setores da fronteira houve menos progresso. No Vale do Rio Grande, no sul de Texas, ainda ocorrem travessias de dezenas regularmente, com tranquilidade relativa, apesar de aumentos perceptíveis nas capacidades da Patrulha de Fronteira. Os cortes do governo no orçamento, que entram em vigor em março, podem piorar as coisas.
Está cada vez mais claro para as pessoas que vivem ao longo da fronteira com o México - ou que tentam protegê-la - que não existe algo como uma fronteira completamente segura, assim como não existem cidades sem crime. Mesmo em áreas com muros elevados e aviões não tripulados ou helicópteros sobrevoando, a segurança da fronteira pode ser quebrada.
- A fronteira dos EUA com o México está mais bem controlada do que em qualquer época em nossa história - disse Robert C. Bonner, que serviu no governo do Presidente George W. Bush como comissário da Proteção Alfandegária e de Fronteiras dos EUA. Porém, afirmou, há uma falta de acordo entre os legisladores e o público acerca do desafio. - O terreno pode ser bem diferente, dependendo de qual parte da fronteira analisarmos, e há táticas diferentes que precisam ser utilizadas - disse. - E isso exige quase uma análise quilômetro a quilômetro.
Suly Ochoa, de 56 anos, uma auxiliar de saúde domiciliar cuja casa fica ao longo do muro da fronteira em Granjeno, Texas, diz que o que ela quer da política de fronteira é simples: - Precisa ser mais inteligente.
Como muitos de seus vizinhos nessa pequena cidade com 303 habitantes, que foi fundada em terras doadas pelos espanhóis em 1767, ela e sua família veem imigrantes atravessando através dos espinheiros e capim alto há décadas.
Muitas vezes, eles ajudavam os mais desesperados, chamando ambulâncias para crianças ou para gestantes. Mas os moradores se tornaram cada vez mais preocupados com a segurança, já que gangues mexicanas de drogas entraram para o ramo de traficar pessoas e narcóticos. O índice de criminalidade na maior área de McAllen, Texas, apesar de baixo, agora inclui ocasionalmente o que parecem ser execuções seletivas.
Ochoa contou que ela e muitas outras pessoas em Granjeno esperavam que o muro de fronteira de 20 milhões de dólares - uma extensão de 2,7 quilômetros de concreto e entulho, com cinco metros e meio de altura - os ajudaria a se sentirem mais seguros. Agora, alguns anos após a construção, parece mais um desperdício. - Não serve pra nada - afirmou, parada perto do muro. - Para mim, é dinheiro jogado pelo ralo.
Parte do problema é que as cercas e muros cobrem uma área limitada no trecho do Vale do Rio Grande - pouco menos de 87 quilômetros implantados em uma fronteira relativamente reta perto da fronteira curva de 509 quilômetros de rio. E mesmo dentro da área cercada, por causa das fazendas e parques em frente ao rio, existem várias aberturas com portão.
Ochoa afirma que vê cargas de drogas pelo menos uma vez por semana - geralmente grandes caminhões pick-up carregados com fardos de maconha mal cobertos com uma lona. Travessias de imigrantes acontecem quase todas as noites, geralmente em grupos de 10 a 20 pessoas.
Autoridades da Patrulha de Fronteira ressaltam que estão fazendo mais do nunca. Na década de 90, lembram agentes aqui, eles não tinham orçamento para manter seus tanques de gasolina cheios. Agora, a quantidade de funcionários no setor mais do que triplicou, para aproximadamente 2500 agentes. Informações adicional são fornecidas por aviões não tripulados e helicópteros, em conjunto com câmeras montadas pelo governo para rastrear animais selvagens.
O Patrulhamento da Fronteira também recebeu ajuda da Guarda Nacional e de aproximadamente 100 membros da equipe de resposta móvel do Patrulhamento da Fronteira que foi criada há alguns anos para acompanhar padrões de contrabando.
Organizações criminosas dominam Reynosa, a cidade mexicana do outro lado da fronteira de McAllen, e transformaram o contrabando ao longo desse trecho da fronteira em um monopólio sofisticado. O Cartel do Golfo controla o acesso ao rio (chamado de Rio Bravo no México) e espanca ou mata qualquer um que tente atravessar sem pagar.
Nos finais de semana, traficantes frequentemente invadem a fronteira por vários pontos, relataram agentes e imigrantes, o que significa que mais drogas e mais imigrantes são pegos - e mais atravessam. Os traficantes também se tornaram mestres do engodo e do atraso. Ochoa disse que já viu carros menores no acostamento, seguidos por grandes caminhões, que passam enquanto as autoridades estão ocupadas.
De igual modo, na noite em que Hinojosa ressaltou os pontos perigosos do trecho, dezenas de agentes passaram várias horas rastreando um grupo de imigrantes que atravessara o rio entre as pequenas cidades de Ochoa e de Zamora. O imigrante tropeçara em um sensor no terreno, e depois um avião não tripulado e um helicóptero - equipados com câmeras captadoras de calor - confirmaram que havia pessoas indo na direção norte através dos arbustos na planície aluvial. Lentamente, as equipes avançaram, a cavalo, em caminhões e com todos os veículos de terra.
Foi uma exibição impressionante que produziu um resultado ambíguo. Uns poucos policiais acompanharam três homens desde o mato, junto com dois garotos adolescentes e uma jovem. Todos, com exceção de um, vieram da América Central e logo seriam enviados de volta.
Mas isso era só parte do grupo. Outros oito deles escaparam, afirmaram os agentes, juntamente com os dois guias, que aparentemente fugiram de volta atravessando o rio para o México. Na manhã seguinte, Zamora viu os quatro imigrantes atravessarem na frente dele.
Mas Zamora parecia dividido, alternando entre aborrecimento e resignação. Apoiado em um poste de aço, parecendo ter 88 anos em vez de seus 77, ele disse que, enquanto os imigrantes conseguissem encontrar trabalho - enquanto o sistema de incentivo longe da fronteira não mudasse -, as pessoas viriam. Ele sabia disso porque foi a sua própria experiência. Embora legalizado agora, quando jovem, há mais de 60 anos, ele atravessou o mesmo rio a nado para buscar o sonho americano.
The New York Times
Segurança das fronteiras continua sendo um desafio para os Estados Unidos
Governo americano segue em busca de solução para o problema da migração ilegal
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