Nova York - No final de 1985, com o fim do regime Marcos nas Filipinas à vista, um caminhão grande estacionou diante da residência no Upper East Side onde Imelda Marcos ficava e dava festas na cidade.
Caixas foram empilhadas na calçada e quando o novo governo assumiu o país em 1986 e pediu a casa, as pinturas majestosas antes penduradas nas paredes, incluindo uma série de ninfeias de Claude Monet, haviam desaparecido.
As famosas obras de arte permaneceram desaparecidas durante mais de duas décadas, com sua localização e proprietários sendo um mistério.
Tudo isso mudou recentemente quando a secretária pessoal de Marcos, Vilma Bautista, velha suspeita do roubo das obras-primas desaparecidas, e dois sobrinhos dela foram acusados de tentar vendê-las.
Eles conseguiram vender a mais conhecida, "Le Bassin aux Nympheas" (1899), de Monet, dois anos atrás por US$ 32 milhões, embora o comprador londrino tivesse reservas quanto ao fato de Bautista e seus sobrinhos serem os proprietários legítimos, segundo a acusação.
A ex-secretária, Bautista, 74 anos, dona de casas na cidade de Nova York e em Long Island, foi apontada ré, em conjunto com Ferdinand e Imelda Marcos e seus advogados nova-iorquinos, em ação levada à Suprema Corte do Estado de Nova York, em 1986, pedindo a devolução dos bens do casal ao governo filipino.
Os promotores acusaram Bautista de manter em segredo diversas obras de arte adquiridas pelos Marcos durante quase 25 anos. Contudo, de acordo com a acusação, no começo de 2009, Bautista e os sobrinhos começaram a agir para vender discretamente parte das obras.
Ainda segundo os termos da acusação, depois que a pintura da ninfeia de Monet foi vendida a uma galeria londrina em setembro de 2010, Bautista ficou com a maior parte do lucro, mas deu uma parcela aos sobrinhos, Chaiyot Jansen Navalaksana, 37 anos, e Pongsak Navalaksana, 40 anos, além de outros envolvidos em Nova York cujos nomes não foram divulgados.
Ela também foi acusada de tentar vender outras três pinturas valiosas: "L'Eglise et La Seine a Vetheuil" (1881), de Monet, "Langland Bay" (1887), de Alfred Sisley, e "Le Cypres de Djenan Sidi Said" (1946), de Albert Marquet, também conhecida como "Vista Argelina".
Os três réus são acusados de conspiração; Bautista e Chaiyot Navalaksana também são acusados de evasão fiscal por não apresentarem informe de renda pela venda do Monet. Se condenada pelas principais acusações contra ela, Bautista pode pegar até 25 anos de prisão, e seus sobrinhos, até quatro anos.
Bautista alegou inocência por meio do advogado e foi solta após pagar fiança de US$ 175 mil. Os sobrinhos não compareceram à Suprema Corte Estadual, em Manhattan. Seu último endereço conhecido é em Bangcoc; as autoridades aguardam seu retorno a Nova York.
Nos anos anteriores ao fim do regime do marido, Imelda Marcos acumulou uma grande coleção de obras de arte e outros artigos valiosos, exibidos em propriedades do governo nas Filipinas e em Nova York.
Segundo registros do tribunal, Marcos comprou três das pinturas numa galeria londrina na década de 1970. Duas ("Vetheuil" e "Langland Bay") foram despachadas ao Palácio de Malacanang, residência oficial do presidente filipino. "Vista Argelina" foi adquirido pelo Museu Metropolitano, de Manila.
Marcos manteve a pintura das ninfeias para si mesma e, em algum momento, as outras três pinturas nas Filipinas foram enviadas para ela, em Nova York.
Segundo registros do tribunal, não está claro como Bautista obteve a posse das pinturas, mas os promotores asseguram que ela as guardou durante anos.
Segundo a acusação, a trama começou no início dos anos 1990, quando um parente de Bautista "convenceu" um tabelião a reconhecer um documento lhes dando a autoridade para vender as obras de arte. O documento trazia a assinatura de Marcos, mas segundo os promotores, Bautista e seus familiares estavam agindo sem o conhecimento da ex-primeira-dama.
Dezoito anos depois, os três começaram a tentar vender as pinturas. O documento da acusação cita vários e-mails de um sobrinho, Chaiyot Navalaksana, ao irmão mais velho, Pongsak, e cúmplices cujos nomes não foram divulgados.
De acordo com os e-mails, os três temiam ser presos e um dos colaboradores desistiu de vendê-las para não correr riscos.
"Parem todas as vendas... decidimos não seguir adiante", o sobrinho mais jovem escreveu ao irmão num e-mail de 2009. "É muito arriscado... podemos ser pegos... e os preços seriam baixos demais no mercado negro."
No começo de 2010, eles recrutaram dois corretores imobiliários de Manhattan, cujo nome não é citado na acusação. Os corretores acharam um comprador potencial para a pintura das ninfeias de Monet e marcaram uma reunião no apartamento de Bautista em Manhattan.
Num e-mail, o Navalaksana mais jovem escreveu ao irmão estar preocupado em como lidar com a autenticação da pintura. Ele havia conversado com um advogado, de quem esperava receber cobertura jurídica sob o privilégio reservado a clientes.
A venda não deu certo porque o comprador desconfiou de se os vendedores seriam os verdadeiros donos da pintura.
Depois, os corretores identificaram um comprador potencial em Londres. O mais jovem dos sobrinhos escreveu ao irmão que o comprador "encontraria formas criativas de obter a documentação necessária".
Segundo documentos do tribunal, a venda foi concluída e, no dia 14 de setembro de 2010, cerca de US$ 28 milhões foram depositados numa conta em nome de Bautista. Outros US$ 4 milhões foram transferidos para uma conta conjunta da ex-assistente e dos dois corretores, como comissão pela venda.
De acordo com a acusação, Bautista deu mais de US$ 5 milhões aos sobrinhos. Após a venda, Chaiyot Navalaksana enviou um e-mail a um dos cúmplices dizendo que sua tia queria que ele se reunisse com o irmão "para lhe dar um monte de graaaaaaanaaa".
The New York Times
Ex-assessora de Imelda Marcos é acusada de vender pinturas supostamente roubadas
Vilma Bautista é suspeita de roubar e vender obras primas desaparecidas por mais de duas décadas nas Filipinas
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