Coordenadora do Centro de Microgravidade da PUCRS, a PhD em Medicina Aeroespacial Thais Russomano tinha apenas 5 anos quando assistiu, ao vivo, Neil Armstrong dar o passo que marcaria a história da humanidade sobre superfície lunar.
- Não tenho claro se a ida de Armstrong à Lua me influenciou a querer ser astronauta ou se assisti as notícias de sua missão porque já me era um tema atraente - conta.
Em entrevista a ZH, a professora visitante na área de fisiologia espacial do Kings College, de Londres, comentou a influência do feito de Armstrong sobre a ciência espacial e destacou a importância das missões espaciais para a humanidade.
Zero Hora - Qual a importância de Neil Armstrong para a astronomia?
Thais Russomano - Sua importância não foi propriamente para a astronomia, a ciência que estuda o universo, mas para a ciência espacial, no caso, os voos espaciais tripulados. Neil Armstrong foi um marco para a humanidade, por ter sido o primeiro ser humano a pisar na Lua. Isso estimulou a crença de que se pode, sim, colonizar outros mundos, abrindo a possibilidade de se viver, habitar, trabalhar em luas e outros planetas. Com a missão à Lua, a humanidade alargou seus horizontes, mudando conceitos arraigados há milênios, e alterando, filosoficamente, sua posição na história do cosmos.
ZH - A ida do homem à Lua influenciou de alguma maneira tuas escolhas profissionais?
Thais - Imagino que sim. Vi, ao vivo, a transmissão da chegada da Apollo 11 à Lua, e acompanhei a missão de perto, mesmo sendo uma menina de apenas 5 anos. Por essa época, comecei a dizer que queria ser astronauta e viajar pelo universo em naves espaciais. Meu programa de TV preferido passou a ser o seriado Perdidos no Espaço, que via todos os dias. Em verdade, não sei o que começou primeiro. Não tenho claro se a ida de Armstrong à Lua me influenciou a querer ser astronauta ou se assisti às noticias de sua missão porque já me era um tema atraente. Seja como for, esse sonho infantil foi forte o suficiente para moldar minha vida pessoal e profissional.
ZH - Cientificamente, qual é o valor das viagens do homem à Lua?
Thais - As missões do programa Apollo trouxeram importantes conhecimentos sobre o nosso planeta, pela primeira vez visto e fotografado de um outro corpo celeste, e do nosso único satélite natural, a própria Lua, através do estudo de seu solo, atmosfera.... Em termos históricos, foi o maior feito do ser humano. A tecnologia desenvolvida para isso acabou trazendo benefícios em varias áreas e influenciando o cotidiano do cidadão comum em todo o planeta Terra. Como exemplo, temos tênis com uma melhor absorção do impacto graças às botas dos astronautas; cadeiras para tetraplégicos controladas pelo movimento do queixo, como os astronautas na Lua comandavam seus carros de exploração (rovers); óculos de sombra com maior capacidade de absorção de luz e radiações, conhecimento originado dos capacetes dos astronautas. Como ressaltado antes, em termos filosóficos, nossa posição como seres terráqueos, presos à Terra, mudou por completo. Ganhamos o estado de seres universais, pois demos o primeiro passo para colonizarmos outros mundos.
ZH - As missões a Marte realizadas hoje têm a mesma relevância histórica que a chegada à Lua?
Thais - Sim, penso que uma missão tripulada a Marte terá um significado tão grande quanto foi a chegada do homem à Lua. Há muitos planos para se levar um homem ao planeta vermelho, mas acho que eles são, em geral, muito otimistas. Ainda temos muito que estudar e aprender para conseguirmos transportar com segurança um ser humano até lá e trazê-lo de volta com vida à Terra. O presidente norte-americano John Kennedy desafiou os EUA para que realizasse uma missão tripulada à Lua até o final da década de 60. As condições não eram favoráveis, mas, com o apoio político necessário e um robusto investimento econômico, isso se tornou possível. Quem sabe não é o que precisamos para uma visita a Marte?