Desalojados de um acampamento no centro econômico de Nova York, manifestantes que inspiraram protestos contra o capitalismo em todo o mundo chegam a ser cobiçados pela esquerda americana como um braço político do Partido Democrata. Os "indignados", no entanto, sabem que irão se transformar em algo, mas ainda não têm clareza em quê.
- Agora eles terão que ocupar espaço com o poder de suas ideias. Com a frase acima, e talvez sem querer, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, deixou a dica para o movimento Ocupem Wall Street. Na terça-feira, ele mandou varrer do coração econômico de Manhattan um acampamento de ativistas que não tinha data para acabar.
Nos últimos dois meses, centenas de indignados tomaram conta - com sacos de dormir e barracas - de uma praça a 300 metros da bolsa de valores de Nova York. Batizaram a iniciativa de Ocupem Wall Street e inspiraram manifestações em diversos países. Agora, desalojados em pleno inverno americano, sem líderes ou estrutura institucional por trás, eles enfrentam o desafio de manter fortalecida sua luta contra o capitalismo.
Apesar do barulho, até agora pouco conteúdo prático emanou dos protestos. Os ativistas garantem que têm disposição suficiente para amadurecer a causa, embora não saibam com clareza como. Segundo o médico carioca Alexandre Carvalho, 28 anos, coordenador do Comitê de Arte e Cultura do Ocupem Wall Street, o entrosamento é o ponto forte do grupo.
- As ideias vão surgindo, e a galera vai aparecendo na rua. Não é uma pessoa ou um comitê que planeja, são grupos vindos de todas as profissões, propondo ideias, ações maiores ou menores. É muito fluido - explicou por telefone, na quinta-feira, enquanto participava de uma nova ação na ilha de Manhattan.
De fora, brotam opiniões sobre a sobrevivência da iniciativa. Dirigentes do Partido Democrata já sonham em seduzir os manifestantes. Secretário do Trabalho no governo de Bill Clinton, Robert Reich pediu aos colegas de legenda que fiquem de olho no que está surgindo. Ele vislumbra ali uma versão esquerdista do Tea Party, que ganhou projeção como a ala mais conservadora e barulhenta dos republicanos. Os ativistas, no entanto, não esboçam sinais de que isso poderia ocorrer, já que eles rejeitam aproximação partidária e um dos alvos de seus protestos tem sido o governo do presidente democrata Barack Obama.
Leia a matéria completa na edição dominical de Zero Hora.
Ocupar o quê?
Movimento Ocupem Wall Street pode ser absorvido pelo Partido Democrata americano
Manifestantes inspiraram outros protestos em diversas partes do mundo
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