Um clima de angústia paira sobre a região da Quarta Colônia, no centro do Estado. Angústia por ainda estar em busca de desaparecidos, angústia pela demora na reconstrução de estradas e angústia pela previsão do tempo.
Os nove municípios que formam a região histórica — a quarta colonizada por italianos no Estado — ainda tentam se recompor da enchente histórica que assolou a área. Os estragos atingiram sobretudo áreas rurais, o que, se por um lado, impacta um número menor de pessoas, por outro confere carga mais dramática e mais riscos no socorro a esses moradores presos em áreas remotas.
Conforme dados computados pelo Corpo de Bombeiros Voluntários de Agudo, a precipitação somou 605 milímetros nos últimos dias. Isso é quase cinco vezes mais do que o esperado para todo o mês de maio.
Toda essa água provocou grande cheia nos rios Jacuí e Jacuizinho, além de arroios. A força da água é quantificada pela vazão registrada no Rio Jacuí, na Usina Hidrelétrica de Dona Francisca. Com uma média regular de 270 mililitros cúbicos por segundo, a vazão saltou para impressionantes 10,6 mil litros cúbicos por segundo no pico da chuvarada, na noite de terça-feira (30).
Uma semana depois, o número reduziu para quatro mil litros cúbicos por segundo. Mas ainda bem superior ao normal.
Rodovias foram cobertas pelas águas, pontes acabaram danificadas e estrada vicinais desapareceram, sobretudo nas áreas de encostas. Em Agudo, município com a maior extensão territorial da Quarta Colônia, trezentas pessoas ainda são procuradas. Diariamente, helicópteros da Força Aérea Brasileira e um helicóptero privado realizam sobrevoos de ronda e fazem entrega de alimentos e resgates.
Quase 400 pessoas já foram socorridas no período de uma semana em Agudo. O ginásio municipal abriga 42 pessoas. Na Quarta Colônia, duas mortes foram registradas, sendo uma em São João do Polêsine e uma em Silveira Martins.
Estradas bloqueadas
Circular pela região é, no momento, uma tarefa desafiadora ou impossível, às vezes. A RS-287 tem bloqueios que impedem chegar à Quarta Colônia tanto a partir de Santa Maria quanto para quem sai de Novo Cabrais. Há bloqueios em Paraíso do Sul, Agudo e Santa Maria.
Um dos problemas mais graves é registrado na ponte seca sobre a várzea do Rio Jacuí, onde parte da cabeceira está na iminência de um colapso total em uma das faixas. Porém, alguns motoristas ignoram os riscos, removem cones e utilizam a faixa menos comprometida para seguir viagem entre Agudo e Santa Maria.
Dentro da Quarta Colônia, não é possível ir de Agudo a Dona Francisca (há bloqueio na RS-348) e de Dona Francisca a São João do Polêsine (devido a bloqueio na RS-348), nem acessar a Restinga Seca (por conta de bloqueio na RS-149).
Em razão de tantas interdições, o combustível é reservado apenas para socorristas em Agudo. Alguns supermercados registram, ainda, falta de água e hortifrutigranjeiros.