Cientistas britânicos usaram a tecnologia de edição de genoma para revelar o papel de um gene essencial no desenvolvimento inicial de embriões humanos, um potencial impulso para o tratamentos de fertilidade.
Eles usaram a técnica CRISPR-Cas9, baseada em uma enzima que age como uma "tesoura molecular" no genoma, para eliminar um gene chamado OCT4 de óvulos fertilizados.
Acredita-se que o OCT4 desempenha um papel fundamental na formação de embriões.
"Depois que o óvulo é fertilizado, ele se divide até cerca de sete dias e forma uma bola de cerca de 200 células chamada blastocisto", explicaram os autores do estudo nesta quarta-feira em um comunicado de imprensa.
"O estudo descobriu que embriões humanos precisam de OCT4 para formar corretamente um blastocisto".
Este foi o primeiro uso da edição de genoma para estudar a função dos genes em embriões humanos, o que poderia ajudar os cientistas a entender melhor o desenvolvimento inicial, disse o Instituto Francis Crick, cujos pesquisadores participaram do estudo.
"Esta prova de princípio estabelece um quadro para futuras investigações que poderiam transformar a nossa compreensão da biologia humana", afirmou o estudo, publicado na revista científica Nature.
O trabalho impulsiona a busca pelo uso terapêutico de células-tronco e tratamentos de fertilização in vitro (FIV), afirmou.
A nível técnico, o estudo confirmou a edição CRISPR-Cas9 como um "método poderoso" para examinar o papel dos genes individuais no desenvolvimento humano.
Esta técnica permite aos cientistas remover e substituir uma sequência defeituosa em uma fita de DNA com grande precisão.
O método pode, teoricamente, ser usado para eliminar mutações portadoras de doenças em embriões, ou para criar plantas mais nutritivas e resistentes e animais mais saudáveis.
É controverso porque, segundo seus críticos, pode ser usado no futuro para o "design de bebês", ou seja, a possibilidade de criar humanos com determinadas características físicas e cognitivas.
"Uma maneira de descobrir o que um gene faz no embrião em desenvolvimento é ver o que acontece quando ele não está ativo. Agora, demonstramos uma maneira eficiente de fazer isso", disse Kathy Niakan, uma das autoras do estudo.
"Se soubéssemos os genes-chave que os embriões precisam desenvolver com sucesso, poderíamos melhorar os tratamentos de FIV e compreender algumas causas dos problemas para engravidar. Pode demorar muitos anos para alcançar tal entendimento, nosso estudo é apenas o primeiro passo".
Os embriões utilizados no estudo foram doados por casais que haviam sido submetidos a tratamentos de FIV.
Outros especialistas comemoraram os resultados do estudo.
"Este estudo histórico confirma o status do CRISPR como uma ferramenta transformadora para a pesquisa", disse Andrew Chisholm, do fundo de pesquisa Wellcome.
Em agosto, cientistas dos Estados Unidos disseram que repararam uma mutação causadora de doenças no DNA de embriões humanos em estágio inicial usando a CRISPR-Cas9 - embora outras equipes de pesquisadores tenham expressado dúvidas sobre suas conclusões.
* AFP