Tropas militares vigiaram as principais vias de acesso ao Rio de Janeiro, neste sábado (29), após o lançamento do Plano de Segurança do Rio, uma operação contra o crime organizado que também terá de vencer o ceticismo de uma população saturada da violência.
O envio de uma força de 10 mil agentes federais, entre eles 8.500 militares, foi autorizado na sexta-feira (28) pelo presidente Michel Temer e deve durar até o final de 2018.
Neste sábado, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, reiterou que o objetivo da "Operação Segurança e Paz" é "chegar ao comando, aos arsenais (do tráfico de drogas)", em vez de provocar um "efeito inibidor" de apenas alguns dias, ou semanas.
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– Estamos fazendo um reconhecimento em áreas e microáreas que serão fundamentais para ações futuras – declarou Jungmann, em entrevista coletiva.
Os agentes terão, principalmente, tarefas de Inteligência e farão operações surpresa, descartando ações ostensivas como a ocupação de favelas controladas por traficantes.
Hoje, as tropas se concentravam, em especial, na Baixada Fluminense, nos arredores do Aeroporto Internacional do Galeão e na Zona Oeste. Também havia soldados espalhados pela praia de Ipanema, na Zona Sul do Rio, e em frente ao Museu do Amanhã, na zona portuária.
A imprensa local relata que alguns motoristas manifestaram, com buzinaços, sua satisfação de ver militares assumindo a segurança das ruas. A mobilização e a ostentação de armas assustava muitos turistas, porém, que pediam explicações sobre o que está acontecendo na cidade.
Os militares já intervieram em outras ocasiões pontuais, como na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas, em 2016.
Esse envio de tropas foi feito, inicialmente, em coordenação com projetos de integração urbana e social das favelas e com a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em comunidades. Esses programas se viram afetados pela crise do Estado do Rio, à beira da falência, e pela recessão econômica do país.
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– Só o futuro dirá – afirma João, atendente de um café de Copacabana, enquanto olha na televisão os blindados instalados na Linha Vermelha.
– Não vai dar nada, como sempre – comenta, resignado, o motorista de aplicativo de transporte urbano Emerson Silva.
Para o editor do site especializado DefesaNet, Nelson Düring, "tudo depende de como será a reação da sociedade e dos governos aos primeiros confrontos".
"Segurança e Paz" se propões "a ir além da operação dos Jogos", concentrada em "conter a criminalidade", disse Düring. Agora, completou, o objetivo é "começar a desarticular as gangues. Isso realmente pode ser bastante traumático". Atingir as "cadeias de comando" do tráfico de drogas "pode ser uma Lava-Jato do crime. A cabeça não está no morro, está na beira da praia. O menino de 15, 16 anos com um fuzil não representa nada. O problema é quem está acima dele".
Outro aspecto diz respeito ao investimento social. – De nada adianta ter militares nas ruas, se o Estado não chega com projetos de saúde e educação – conclui Düring.
Já o escritor Anderson França, um cronista da violência no Rio muito seguido nas redes sociais, acredita que "a chegada dos militares não resolve nada".
– Estamos trazendo militares para uma cidade totalmente desgovernada, sem discutir as causas, pelas quais está desgovernada", advertiu o autor do livro "Rio em shamas – em conversa por telefone com a AFP na sexta-feira à noite.
– Acho que é uma prática de diversionismo – avaliou França sobre o presidente Temer, que registra apenas 5% de aprovação de seu governo, o pior desde a redemocratização no país.
– Eu não acho que ele faça isso porque ele está preocupado com o estado de segurança no Rio de Janeiro... Esse governo não se estabelece pautado em preocupações de ordem social – considerou o escritor, referindo-se à política de ajustes promovida por Temer e pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
A socióloga Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, comentou que "o Rio vive uma crise estrutural e crise aguda" e, em entrevista à rádio CBN, ela disse se questionar se "esse impacto cenográfico vai ter um impacto estrutural".