A pouco mais de um mês do Natal, Caxias do Sul parece não ter entrado no clima natalino. Casas e lojas, no Centro e nos bairros, seguem uma tendência de pelo menos dois anos, trocando grandes enfeites nas fachadas por pequenas guirlandas ou presépios. A Praça Dante Alighieri, que já foi ponto de visitação nessa época com luzes piscantes e coloridas, hoje conta apenas com poucos enfeites artesanais confeccionados por voluntários: onze velas contornam o chafariz e os postes ganharam poucos laços vermelhos. A crise econômica é o principal motivo para o empobrecimento da decoração, que deixa a cidade mais bonita e atraente, e ainda colabora para o aumento do espírito natalino.
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Responsável pelo embelezamento do Centro, a prefeitura cortou gastos com eventos como o Natal Brilha Caxias para investir recursos em áreas mais urgentes, como saúde e educação, de acordo com o chefe de gabinete, Paulo Dahmer:
– Com a diminuição da arrecadação, os gastos foram segurados. Isso já tinha acontecido com a Semana Farroupilha, realizada com ajuda da iniciativa privada. Nessa crise, não deixar áreas essenciais descobertas e pagar o funcionalismo são prioridades. A verba foi cortada e um dos reflexos, claro, é a qualidade e quantidade de enfeites. Mas procuramos maneiras e alternativas de fazer o Natal acontecer, mesmo com menos dinheiro.
E os valores investidos em 2016 na decoração do Natal Brilha Caxias são bem menores do que os investidos no ano passado. Em 2015, com parceria da CDL Caxias, R$ 230 mil foram gastos; neste ano, a prefeitura disponibilizou R$ 19 mil. Por meio da assessoria de imprensa, a CDL Caxias informou que entrou apenas como apoiadora do evento neste ano por decisões internas.
– Estamos em uma época que é preciso escolher onde investir. Há dois anos o prefeito anunciou uma contenção de gastos e, a partir disso, fizemos um planejamento. Claro que os enfeites, as luzes, são visíveis e, como temos uma quantidade menor nesse ano, há quem ache ruim. Mas mesmo sem tanto dinheiro, conseguimos montar uma programação cultural variada, com espetáculos nas igrejas, nos distritos. O espírito de Natal, voltado às famílias, à fé e à fraternidade, são as pessoas que criam, independente da decoração – acredita a secretária municipal da Cultura, Rubia Frizzo.
PROGRAMAÇÃO NATAL BRILHA CAXIAS**
Segunda-feira
20h: As Filhas de Vinícius, no Teatro Municipal Pedro Parenti. Ingressos a R$ 30, R$ 15 (estudantes, mais de 60 anos e classe artística).
Terça-feira
16h: show com o saxofonista Adão Léo, na Praça Dante Alighieri. Entrada franca.
Quarta-feira
20h: Expresso 25, no Teatro Municipal Pedro Parenti. Ingressos a R$ 30, R$ 15 (estudantes, mais de 60 anos e classe artística).
Quinta-feira
16h: show com o saxofonista Adão Léo, na Praça Dante Alighieri. Entrada franca.
** O evento é uma realização da prefeitura, Sistema Fecomércio/SESC, com o apoio da CDL Caxias, Banco do Vestuário e Moneo Serviços Financeiros, e patrocínio da Caixa. A programação se estende até 6 de janeiro de 2017.
Bairros e distritos se viram como podem
Bairros distantes do Centro e distritos de Caxias também sentem o reflexo do corte de gastos para o Natal. Em Ana Rech, famosa pelos presépios, alguns hábitos da época são mantidos, mas a programação do tradicional
– Os últimos anos estão sendo difíceis em função da crise. Quem não tem dinheiro não está gastando e quem tem um pouco está guardando. A comunidade fala, fica triste que nosso Natal não é mais o mesmo. Há pelo menos seis anos não temos mais os Presépios da Vila, atração que as pessoas visitavam com um dindinho, mas nem por isso desistimos. No dia 3 de dezembro teremos uma missa na praça com show do Padre Ezequiel e a chegada do Papai Noel. Para essa 26ª edição, esperamos um público de mais de seis mil pessoas. Queremos manter o espírito natalino em todos – garante Alberto Salles, presidente da Associação Amigos de Ana Rech (Samar), responsável pelo Encanto de Natal.
Galópolis também se prepara timidamente para a celebração com a XI Magia do Natal no Vale Iluminado. Uma das atrações do bairro nessa época, a Rua Orestes Manfro, já começou a ser enfeitada pelas 27 famílias residentes. Para não deixar que a tradição se perca, os moradores arrumaram uma maneira de fazer com que a via sempre seja decorada: há 18 anos, guardam uma quantia mensal, que é recolhida no final do ano para a compra de enfeites. A contribuição é pequena, R$ 30 ao ano, mas faz diferença, de acordo com Vera Vial Rosso, 65 anos, moradora da casa 199.
– Ninguém está podendo jogar dinheiro para cima, mas não é por isso que vamos deixar as nossas casas sem a presença do Natal. Mantemos o nosso padrão humilde, mas o espírito natalino está na nossa rua. E é isso que importa nessa data, não é? – questiona a aposentada.
Zona Norte enfeitada e na contramão da tendência
Há oito anos em Caxias do Sul, o frei cearense Emiliano Dantas está espantado com a tímida decoração de Natal na cidade. Adorador da data, ano a ano ele ficava encantado com a Praça Dante Alighieri e com os famosos presépios de Ana Rech. Há poucos dias, visitou os dois pontos e ficou triste com o que viu. Coordenando o Murialdo Santa Fé, resolveu descruzar os braços e criou o projeto Brilha Zona Norte. A ideia foi montar um concurso para motivar as famílias dos bairros atendidos pela instituição, como Santa Fé, Canyon, a decorarem suas casas interna e externamente. Como incentivo, a mais criativa ganhará uma cesta de Natal.
– Não sei se por questões financeiras ou políticas, o Natal em Caxias parece estar esquecido neste ano: a praça Dante vergonhosamente decorada, as ruas com poucas expressões... Mas esperamos que a nossa região, muito conhecida pelos crimes e violência, brilhe agora. O Natal servirá, também, para que a periferia saia da sombra e chegue na luz – espera Emiliano.
A família de Lisandra Pereira de Alexandre, 42 anos, antecipou, de dezembro para novembro, a montagem da decoração natalina por apostar no Brilha Zona Norte. Com a ajuda dos oito filhos, o pinheirinho e o presépio já estão montados na casa número 60 da Rua Favo de Mel, no Belo bairro Horizonte.
– Não temos muitos enfeites, mas sempre damos um jeito de fazer algo. Nesse ano o frei nos ajudou a deixar ainda mais bonito. Acho importante que as crianças não percam o espírito de Natal. E foi uma festa montar, todo mundo gostou de tirar bolinhas da caixa, ligar as luzes. A casa ficou mais alegre, o clima muda. Vamos colocar enfeites lá fora também, para que quem passe aqui na frente se alegre – conta Lisandra, mãe de Stéfany, William, Rafael, Rodrigo, Emily, Isabelly, Isadora e Wesley.