Uma confusão entre alunos, pais e professores da Escola Augusto Ruschi, na Cohab Santa Marta, marcou, na terça-feira, uma tentativa de retomada das aulas. Depois de os docentes grevistas e não-grevistas terem decidido pelo retorno das aulas na instituição no turno da tarde, em reunião na segunda-feira, estudantes que ocupam a instituição desde o dia 22 de maio impediram o acesso ao colégio.
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Cerca de 50 pessoas, entre pais, professores e alunos que pediam o retorno das aulas foram barrados no portão da escola, por volta das 13h. Em função disso, uma confusão se criou em frente à instituição. Do lado de fora, gritos, bate-boca e relatos de indignação. Alunos e pais que preferiram não ser identificados pela reportagem disseram que os integrantes da ocupação estariam armados de cabos de vassoura, barras de ferro e facões.
BM é acionada após confusão entre alunos, pais e professores na Escola Augusto Ruschi
Em meio ao clima de tensão, um adolescente chegou a sacar uma arma, apontou na direção de estudantes e ocupantes e foi contido por uma professora da escola (assista ao vídeo abaixo).
Escola Augusto Ruschi, em Santa Maria, tem computadores furtados
– O que está acontecendo é que há alunos ali dentro que nem são da escola. Tem gente de outras instituições. Cadê os pais? Se os professores querem dar aula, tem que deixar. Eles falam que estão no direito deles e que só saem dali com decisão judicial – relatou Luiza Oliveira, 51 anos, mãe de uma estudante do Ensino Médio.
Clima tenso e hostil
O colégio foi o segundo a ser ocupado na cidade, e as aulas no turno da manhã retornaram no dia 8 de junho, após negociação entre manifestantes e professores. No entanto, desde o primeiro dia de ocupação, nenhum dos alunos se reporta à imprensa para entrevistas. Na terça, cerca de 20 pessoas participavam da ocupação e acompanhavam a movimentação na frente do portão que dá acesso à escola. Do lado de dentro, durante a confusão, um dos alunos que faz parte da ocupação ameaçou com pedras a equipe do Diário.
– Estou indignada. Quebraram os portões para não abrir com o controle. Estão armados com cabos de vassoura e cassetete. Eles ameaçaram um por um os estudantes que estão aqui fora pedindo para voltar a estudar – relata Tainara Andrade, 15 anos, estudante do 1º ano do Ensino Médio.
Pais, professores e alunos disseram que vão recorrer ao Ministério Público (MP), ainda na tarde de quarta-feira, para tentar resolver a situação.
Falta diálogo
A vice-diretora do turno da tarde da instituição, Greice Raquel Mobs, afirma que representantes da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (8ª CRE) e do Conselho Tutelar, além da Brigada Miliar e da Polícia Civil foram acionados. Segundo ela, há dificuldade em dialogar com os manifestantes.
– A dificuldade é entender o que os alunos que não são daqui estão pedindo. Muitos dos que estão ali dentro são ex-alunos que tiveram problemas disciplinares e que, por isso, não estão mais na escola. Qual é a pauta deles? Eles mudam toda hora – afirma Greice.
Conforme a vice-diretora, um documento com mais de 20 páginas com fotos do patrimônio escolar depredado durante a ocupação foi elaborado. Há relatos de paredes pichadas e mesas, computadores e cadeados depredados. Pais e professores afirmam que os integrantes da ocupação não fazem parte da comunidade escolar e são de outros movimentos e instituições.
Reunião entre diferentes órgãos quer resolver o problema
Em 14 de junho, a Justiça negou o pedido de desocupação das escolas estaduais feito pela Procuradoria Geral do Estado (PGE). Como alternativa, o juiz Fernando Carlos Tomasi Diniz, da 4ª Vara da Fazenda Pública, que julgou a ação civil pública, afirmou que os estudantes poderiam permanecer nas escolas, desde que garantissem o acesso de alunos, professores, pais e funcionários aos estabelecimentos, não impedindo a realização das atividades letivas.
Para tentar resolver o problema da volta às aulas na escola Augusto Ruschi, uma reunião entre Promotoria Regional da Educação, 8ª Coordenadoria Regional da Educação (8ª CRE) e professores está marcada para quinta-feira, às 13h30min, no Ministério Público (MP), para tratar da desocupação.
A coordenadora adjunta da 8ª CRE, Jussara Finamor, disse, na terça, que a Secretaria de Educação do Estado e a PGE já estariam informados sobre o que houve na Augusto Ruschi e que estariam tomando as devidas providências. De acordo com Jussara, a 8ª CRE vai aguardar outra reunião, prevista para acontecer quarta-feira à tarde, entre pais, alunos e promotoria, para resolver os próximos passos.
A diretora do 2º Núcleo do Cpers Santa Maria, Sandra Régio, disse que o movimento estudantil é independente do movimento docente e que não poderia falar a respeito dos acontecimentos no Augusto Ruschi por não ter sido informada ainda sobre o ocorrido.
A respeito da confusão entre alunos, pais e professores, o Conselho Tutelar Oeste, que atua na região onde a escola funciona, disse que a orientação da promotoria é de que o órgão não se envolva.
– O Conselho só se envolve quando tem criança e adolescente em risco, sem responsáveis por perto. Nesse caso, os pais estavam presentes, e os estudantes menores de idade que estão ocupando a escola estão sob responsabilidade da escola e da 8ª CRE – afirmou uma conselheira tutelar que pediu para não ser identificada.