Os motivos que levaram dois homens a atear fogo num idoso em Vacaria, na madrugada de quinta-feira, talvez nunca fiquem esclarecidos. Mas o delegado Vítor Fernando Boff, responsável pela investigação, tem convicção que a dupla não tinha outro objetivo senão matar Darci Teles Motta, 62 anos.
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Elio Moreira Soares, 37 anos, e Rafael Sousa de Sousa, 18 anos, foram presos no domingo e admitiram envolvimento no crime. Os dois homens, porém, trocam acusações sobre quem foi o responsável por acender um isqueiro e colocar fogo nas roupas de Motta. O idoso não teve chances de receber socorro e morreu com queimaduras no rosto e no tórax na esquina das ruas Ramiro Barcelos e Inácia Vieira.
A Polícia Civil pedirá uma reconstituição do caso.
Um detalhe que chama a atenção dos investigadores é a relação entre Soares e Sousa. Até a tarde de quarta-feira passada, os dois jamais haviam se cruzado pelas ruas de Vacaria. Os dois se conheceram horas antes do crime em algum ponto da cidade. Mais tarde, saíram às ruas para praticar crimes, o que incluiu o assassinato de Motta e o assalto contra um morador de rua num intervalo de 20 minutos.
Natural de Coronel Bicaco, no oeste do Estado, Soares tinha o costume de passar temporadas em Vacaria para trabalhar na colheita. Ele estava na cidade havia algumas semanas, e dormia numa construção abandonada da área central.
Segundo o delegado Boff, Soares relatou que passou um período no albergue municipal, mas migrou para a rua sem motivo aparente. Ele tem pelo menos nove passagens na polícia por crimes de menor potencial ofensivo como danos ao patrimônio e furtos em Coronel Bicaco e na vizinha Santo Augusto. Sousa, por sua vez, não tinha antecedentes criminais enquanto maior de idade. Até ser preso, residia na casa de uma tia, no bairro Vitória, em Vacaria.
- Não sabemos como eles se conheceram e por que motivo decidiram agir juntos - afirma Boff.
A investigação não sabe o que os dois fizeram antes dos ataques contra Motta e o morador de rua. Tampouco se consumiram bebidas ou drogas.
Câmeras registraram pequena explosão
O idoso, que tinha o costume de caminhar pela área central da cidade à noite, foi abordado por volta das 1h50min de quinta-feira. Ele tinha problemas mentais e era conhecido na cidade. De acordo com a companheira dele, Dorvalina Inês do Carmo, 57, ele costumava ir até a região onde aconteceu o homicídio para beber água em uma fonte na calçada. Perto da fonte, houve o ataque.
- Os dois autores afirmaram que a vítima não esboçou reação ou qualquer agressividade. Apenas decidiram atacar sem explicar realmente a motivação. Em seguida, colocaram fogo na roupa nele com um isqueiro. Talvez por estar inconsciente devido às agressões, a vítima sequer teve como se livrar das roupas e morreu ali - relata Boff.
A polícia não conseguiu estabelecer se houve o uso de material combustível para propagar as chamas, algo que os autores negam. Imagens de câmeras de segurança, porém, registraram um pequena explosão junto ao corpo do idoso, o que sugere a presença de alguma substância.
Cerca de 20 minutos depois, Soares e Sousa investiram contra o morador de rua a socos e pontapés. Na sequência roubaram roupas e outros objetos do homem que dormia na entrada de um prédio. Quando foi preso no domingo, Soares inclusive usava a botina desse morador de rua. Nesta segunda-feira, essa vítima passou por um exames de lesões no Departamento Médico Legal.
Soares e Sousa estão recolhidos temporariamente no presídio de Vacaria. O inquérito será concluído em 30 dias.