Desmanches localizados na Avenida Sertório, zona norte de Porto Alegre, removeram pelo menos parte das suas mercadorias do interior das lojas na noite desta segunda-feira. O esvaziamento ocorre no momento em que a Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP), amparada por uma legislação mais rigorosa que entrou em vigor em 2016, intensificou a fiscalização sobre os ferros-velhos. Duas ofensivas já foram feitas na Sertório em fevereiro: peças de veículos roubados e com o sinal identificador adulterado foram encontradas, três estabelecimentos foram fechados e três pessoas foram presas.
Pouco antes das 21h desta segunda-feira, a reportagem de ZH constatou a presença de quatro pontos de peças e restos de carros que estavam amontoados na calçada, em frente aos comércios, já de portas fechadas. Ainda havia movimentação. Homens circulavam entre os amontoados, remexiam, trocavam peças de lugar, conversavam entre si.
Em um dos pontos, localizado num trecho da Sertório que estava às escuras, um homem usava uma lanterna para verificar e mexer nos materiais.
Leia mais
Terrenos públicos são ocupados por desmanches ilegais na Capital
Secretaria da Segurança volta a fazer ofensiva contra desmanches na Capital
Rio Grande do Sul tem 1,3 mil desmanches clandestinos
Eram diversos equipamentos de veículos, inclusive centenas de tetos cortados da carcaça. Esse tipo de mercadoria costuma ficar estocada dentro dos estabelecimentos, que, em geral, contam com grandes depósitos nos fundos.
Em um quinto ponto, também próximo das 21h, um caminhão de grande porte estava estacionado dentro do pátio de um desmanche. Cinco homens trabalhavam no local: três estavam sobre a caçamba do veículo, já sobrecarregado de peças, e outros dois permaneciam no solo. No momento em que desconfiaram da presença de uma equipe de reportagem, emitiram gritos de alerta. Não foi possível confirmar com a SSP se eventual vazamento de informação sobre nova operação policial motivou a tentativa de esvaziamento de estoques.
A nova lei dos ferros-velhos determina que os comerciantes de autopeças usadas precisam obrigatoriamente estar cadastrados no Detran. Os produtos somente podem ser vendidos se estiverem registrados em um sistema online que gera um código de barra para cada peça. Com isso, as autoridades conseguem fazer rastreamento. A baixa nos estoques é automática com a emissão de nota fiscal eletrônica. Quem estiver fora da regra, é considerado ilegal. A mercadoria pode ser apreendida no ato pelas autoridades, com encaminhamento para a trituração.
Somente na Sertório, existem cerca de 40 desmanches, mas apenas cinco estão cadastrados no Detran. Reportagem de ZH publicada em 21 de fevereiro mostrou que outros cinco atuam em terrenos públicos locados da prefeitura de Porto Alegre com aluguéis a preços abaixo dos de mercado. Em um deles, a SSP encontrou peças de veículos roubados. O município anunciou que irá revogar o contrato com os seus cinco inquilinos.
