Passados dois dias daquele que foi o maior susto da vida do agricultor José Bortoluzzi, 61 anos, ele conta, ainda incrédulo, como foram os minutos de terror em que ficou refém de três criminosos na tarde de terça-feira. Ele aguardava a mulher, que havia saído de ônibus de Santa Maria, no trevo de Santuário, quando um Gol branco encostou, e dois homens armados desceram e o ameaçaram. O carro dele foi roubado e usado para dois assaltos a postos de combustíveis em Agudo e Restinga Seca na noite de quarta-feira.
- Eles disseram para eu abrir a porta senão iam me queimar. Implorei para eles pegarem tudo e me deixarem, mas mandaram eu entrar no carro. Eles me prometeram que se eu fizesse o que eles pedissem, iam me liberar. Contaram que iam usar meu carro para um acerto de contas, que iam matar dois caras e que eram de Santa Cruz do Sul - recorda a vítima.
No carro de Bortoluzzi, um Corsa Sedan, dois dos três bandidos sentaram nos bancos da frente e um foi com ele no banco de trás. Depois de percorrer alguns quilômetros em direção a São João do Polêsine, os criminosos pararam o carro e disseram que colocariam a vítima no porta-malas. Foi um dos momentos mais tensos.
- Eu disse: "Eu vou morrer no porta-malas". Mas aí eles deixaram uma parte do banco de trás levantada, que dá com o porta-malas, para eu conseguir respirar. Um deles perguntava se eu estava bem seguidamente - lembra.
Alguns minutos depois, já em uma estrada de chão, viria o momento de maior medo para Bortoluzzi. Ele conta que os criminosos pararam o carro, e ele pôde ouvir barulhos vindos do capô e um forte cheiro de gasolina.
- Quando senti aquele cheiro de gasolina, pensei "agora não tenho mais como me salvar". Achei que iam colocar fogo em mim, mas tinha fé em Deus que iam fazer como me prometeram - relata a vítima.
A última parada seria o alívio para Bortoluzzi. Cerca de 50 minutos depois que foi capturado, os criminosos tiraram-no do porta-malas, próximo ao Rio Soturno, entre Restinga Seca e Dona Francisca, aproximadamente 40 quilômetros distante de onde foi pego, e amarraram suas mãos. Ordenaram que ele não olhasse para trás durante 30 minutos e ainda avisaram que ele encontraria seu carro próximo ao mesmo lugar onde foi capturado, já que eles teriam terminado o "acerto de contas" que tinham para fazer.
- Um deles queria me colocar um pano na boca, aí o outro disse que eu era um cara do bem, que tinha ajudado eles, que não era para colocar. Esse mesmo disse que ia deixar as amarraduras frouxas para eu conseguir sair e ainda olhou as horas no meu relógio e disse o horário que era - narra.
Na estrada, Bortoluzzi pediu ajuda para um carro que passava no local e foi até a Delegacia de Polícia de Dona Francisca, onde foi feito o registro. Passado o susto, como prometido, os bandidos deixaram o veículo próximo ao local onde pegaram Bortoluzzi na terça-feira. Agora, o agricultor terá de prestar depoimento na Polícia Civil de Restinga Seca e fazer o reconhecimento do seu carro. Mas, para ele, o mais importante é estar vivo.
- Nunca tinha acontecido isso. Só tenho que agradecer a Deus que tudo ficou bem e pedir que isso não aconteça com mais ninguém - desabafa.