Não se trata de alarmismo ou de papo catastrófico, mas as previsões do tempo não são nada animadoras: a influência do El Niño, que tem sido intensa e avassaladora no Rio Grande do Sul, deve trazer uma incidência ainda maior de temporais e de chuvas. Santa Maria e a Região Central sofreram, e muito, nos últimos dias, com a força e a intensidade destrutiva dos fenômenos naturais, que deixaram um saldo de estragos e de prejuízos econômicos e sociais à população.
Rajadas de vento de 134 km/h foram as maiores já registradas em Santa Maria
Especialistas que conversaram com o "Diário" são unânimes: a única saída para minimizar os efeitos de eventos climáticos extremos passa pela prevenção e por investimentos.
25 mil clientes ainda estão sem luz em Santa Maria
Neste contexto, Santa Maria goza de uma particularidade privilegiada e única: a cidade tem um curso de Meteorologia, ligado à UFSM, e ainda o Grupo de Modelagem Atmosférica, o Gruma. Segundo meteorologistas e profissionais da área, é preciso virar a chave e agir preventivamente e não apenas após os desastres. A saída passa pela união de esforços.
Cidades da região contabilizam estragos depois dos temporais
Ou seja, haver uma articulação política envolvendo vários setores, sejam os poderes públicos (municipal, estadual e federal), diversas entidades representativas e universidade. Santa Maria pode trilhar o exemplo que deu certo em Blumenau (SC). Na cidade historicamente assolada por tragédias naturais, o poder público, as Forças Armadas, uma instituição de Ensino Superior e o empresariado se somaram em uma única frente. Não se pode impedir enxurradas ou enchentes, mas minimizar o seu impacto.
Prejuízos com vendaval chegam a R$ 5 milhões em Santa Maria
- Não se tem controle sobre eventos naturais. O que faz diferença para uma comunidade não é se está localizada em uma região mais próspera. Hoje ganham destaque aquelas cidades, com maior recorrência a desastres, mas que estão preparadas e com visão de se reinventarem pós situações extremas - diz o coronel Aldo Baptista Neto, que comanda o Centro de Ensino Superior do Bombeiros de SC.
Prefeitura e UFSM acenam com ações preventivas
Começam a ser dados os primeiros sinais de que o poder público acordou para a necessidade de agir preventivamente em eventos naturais extremos. A primeira sinalização vem da própria prefeitura de Santa Maria. O prefeito Cezar Schirmer (PMDB) estuda implementar uma superintendência para tratar de situações de emergência, como as vividas nos últimos dias com alagamentos e vendavais. Schirmer não adiantou como o órgão iria trabalhar, mas informou quais deverão ser as prioridades:
- Teremos como foco três pontos: moradias à beira de arroios e cursos dágua, moradias em áreas de risco como morros, e a questão do depósito irregular de lixo, que acaba entupindo bueiros e causando alagamentos. Mas não há, por enquanto, previsão de trabalhar com institutos de meteorologia para fazer alertas sobre a chegada de tempestades.
Do lado da UFSM, o reitor Paulo Burmann também acena com a possibilidade de uma parceria. Mas ele ressalva: não se trata de uma via de mão única. É preciso que municípios ou, até mesmo, as prefeituras da região e os governos estadual e federal se somem à iniciativa. O tema será tratado com a prefeitura de Santa Maria e governo do Estado.
- É uma parceria em que todos ganham. E, mais, é a única forma de minimizarmos os estragos e danos que, infelizmente, todos acabam sofrendo.
O cientista político e presidente do Instituto e presidente do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais (Inpro), Benedito Tadeu Cesar, avalia que é necessário uma mudança de mentalidade e de prioridade dos gestores públicos.
- O problema é que os governos só agem e colocam dinheiro no que lhes dá visibilidade. Investir dinheiro em demandas excepcionais não dá vitrine. Aí, o que se faz é enxugar gelo: agir quando está tudo perdido.