Um dos principais líderes da ala petista Mensagem ao Partido, que faz oposição ao grupo que comanda nacionalmente a sigla, o ex-governador gaúcho Tarso Genro iniciou articulações políticas para a formação de uma frente de esquerda no Rio de Janeiro.
A estratégia inclui aproximação com o PSOL, sobretudo com o deputado estadual Marcelo Freixo, provável candidato dos socialistas à prefeitura do Rio nas eleições municipais de 2016. Os movimentos e o tom elevado das críticas ao governo Dilma Rousseff até podem dar margem para interpretações de que Tarso está de saída do PT, mas políticos próximos ao ex-governador garantem que essa hipótese está absolutamente descartada.
Tarso vem dedicando parte do seu tempo a atividades no centro do país. Na semana que passou, esteve no Rio por dois dias. Palestrou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ao lado de Freixo, com quem manteve conversa reservada.
A frente de esquerda, uma alternativa à crise do PT e ao possível vácuo de representação desse campo de pensamento, reuniria líderes políticos, partidos, intelectuais, acadêmicos e movimentos sociais. No Rio, o PT está enfraquecido desde o final da década de 1990. Nos últimos anos, colecionou um histórico de aproximação coadjuvante ao PMDB, com apoios ao prefeito Eduardo Paes e ao ex-governador Sérgio Cabral.
Pessoas próximas a Tarso dizem que uma das possibilidades é que ele tente levar o PT a apoiar Freixo nas eleições municipais de 2016. Seria uma forma de comprometer a sigla com causas de esquerda. Na avaliação de Tarso, o ideário petista está perdido dentro prática partidária, sobretudo após o início do programa de ajuste fiscal do governo Dilma, comandado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
- O PT está muito fragilizado lá (Rio), submetido ao PMDB, com apoios ao Paes e Cabral. Ele vai tentar levar o PT ao encontro do Freixo - afirmou um parlamentar próximo a Tarso.
Em São Paulo, tática se tornaria inviável
A escolha da capital fluminense para a formação da frente de esquerda ocorre por conta das relações políticas e intelectuais de Tarso na cidade. Outro motivo é a necessidade de fazer a articulação no centro do país, para gerar mais visibilidade e consequência. Em São Paulo, a tática seria inviável. O ex-governador conta com alianças mais tímidas entre os paulistas, que são alvo frequente das suas críticas.
- Não digo que ele está tentando tornar a Mensagem ao Partido em maioria no PT. Isso é muito difícil. Mas é para forçar o campo majoritário a se deslocar mais à esquerda - afirma um líder petista que prefere não se identificar.
A intenção do ex-governador é fazer a disputa política por dentro do partido, levando a corrente Construindo Um Novo Brasil, majoritária na sigla, a assumir posições de esquerda e liderar a formação de uma nova frente política em todo o país. O plano do ex-governador seria iniciar a caminhada no Rio, mas ampliar seus efeitos para as eleições de 2018 em todo o país.
- Ele está anunciando esses movimentos às vésperas do congresso nacional do PT, que será de 11 a 13 de junho, em Salvador. É uma demarcação interna. Uma sinalização dele de que o PT tem de alterar o rumo e a linha política - comentou um dirigente partidário que preferiu não se identificar.
As articulações são definitivas e estão em caráter avançado. Tarso irá adquirir um imóvel no Rio e passará mais tempo no centro do país. A reportagem tentou contato com o ex-governador via assessoria, mas ele optou por não se manifestar.