Com dez anos de idade e cinco meses de gravidez, uma menina que foi estuprada por seu padrasto no Paraguai aguarda o parto internada junto a outras futuras jovens mães. Apesar da pressão internacional, as autoridades do país rejeitam a interrupção da gravidez.
O caso provocou comoção em todo o mundo, com o pedido de várias organizações humanitárias que insistem em que a vida da menina corre risco. Ela tem tem 1,39 m e pesava 34 kg no início da gravidez.
O caso gerou um intenso debate na sociedade paraguaia entre os defensores do aborto "pelo estupro" e os contrários à interrupção. A constituição paraguaia proíbe o procedimento, salvo em casos de risco de vida para a mãe.
O governo, a justiça e a Igreja Católica e outros grupos civis expressaram sua forte oposição ao aborto, evocando, entre outras razões, o estado avançado da gravidez. Os médicos afirmam que a menina passa bem e que a gravidez segue "normal" neste momento.
- Ela não sente dores e nem complicações - explicou a médica Dolores Castellanos, chefe do setor de Infância e Adolescência do hospital da Cruz Vermelha em Assunção, onde está internada a vítima do estupro.
A menina está sob a proteção do hospital e sob a supervisão de médicos, psicólogos e psiquiatras e sob observação do ministério da Saúde.
O padrasto, Gilberto Zarate Benitez, 42 anos, foi declarado foragido da justiça e a mãe da menina está detida no presídio feminino, acusada de obstrução da investigação judicial por tentar esconder o parceiro.
A menor compartilha uma ala reservada a meninas-mães com outras cinco adolescentes, de 13, 14 e 16 anos, que esperam ou já tiveram seu bebê.
- Ela é a mais nova - apontou Castellanos, que ordenou uma dieta especial rica em proteínas, ferro, cálcio, muito líquido e atividade normal.
Recentemente, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) manifestou sua preocupação com a vulnerabilidade das meninas paraguaias que sofrem abuso sexual.
- No Paraguai, todos os dias duas meninas com idades entre 10 e 14 anos dão à luz. Estes casos resultam de abuso sexual e, na maioria das situações, de abuso sexual repetido pelo qual as vítimas não receberam a devida proteção - afirmou Andrea Cid, responsável pela proteção de crianças do Unicef.
A especialista revelou que cerca de 650 meninas com idades entre 10 e 14 deram à luz em 2014 e outras 20 mil jovens com idades compreendidas entre 15 e 19 enfrentaram gravidezes no mesmo período.
*AFP