Ao longo da tarde desta terça-feira, a informação de que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL) aparecem na lista de parlamentares que podem vir a ser investigados na Operação Lava-Jato disparou pelos corredores do poder em Brasília. Era o começo de uma série de negativas e retaliações em um dia tomado pela tensão.
No aguardo da entrega no Supremo Tribunal Federal (STF) dos pedidos da Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar parlamentares que teriam relação com a corrupção na Petrobras, a ansiedade espalhou-se pelos três prédios separados pela Praça dos Três Poderes. Todos queriam saber os nomes da lista de supostos envolvidos.
- Brasília está à beira de um ataque de nervos - resumia um interlocutor do Planalto logo depois do almoço.
Lava-Jato: os próximos passos a partir da lista de Janot
Preocupados com os reflexos do caso no governo Dilma Rousseff e no PT, técnicos do palácio não escondiam o desejo de ver lista divulgada de uma vez. O suspense ajuda a paralisar o Planalto, que congelou nomeações de segundo escalão e a possível ida do ex-presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), para o Ministério do Turismo.
Nos prédios da PGR e do STF, muitos assessores engravatados andavam com passo apertado e rosto fechados, evitando conversas.
Na Câmara, deputados espiavam os celulares a todo instante, navegando em sites de jornais e redes sociais em busca de novas informações. Quando viam jornalistas, perguntavam sobre a situação no STF.
- Vocês já têm a lista? - indagou Mendonça Filho (DEM).
Irado com o vazamento de seu nome, promovido pelo próprio governo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi para o Twitter negar relação com os desvios ou qualquer aviso prévio da investigação por parte do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Já o senador Ciro Nogueira (PP-PI), outro especulado para constar na famosa lista, usou o Facebook para se defender: "Repito o que sempre sustentei: renunciarei ao mandato de senador da República se surgir qualquer prova objetiva que venha macular minha atitude como homem público".
O presidente do Senado, Renan Calheiros, respondeu com represálias ao Planalto. Na segunda-feira, desistiu de ir ao jantar de caciques do PMDB com Dilma Rousseff. No final da tarde de ontem, resolveu devolver a medida provisória que reverte a desoneração da folha de pagamento de diversos setores, editada pelo governo para viabilizar o ajuste fiscal. As reações eram esperadas em Brasília, já que peemedebistas avisaram o senador sobre o pedido de investigação.
- Renan tinha certeza há dias de que estaria na lista. Nutre uma vaga esperança - revelou um colega de parlamento.
A cronologia da Lava-Jato: