Os moradores e visitantes de Paris vivenciaram, cada um a sua maneira, os dois cercos a suspeitos de terrorismo na sexta-feira, quando sete pessoas foram mortas. Enquanto policiais isolavam as áreas localizadas no subúrbio da capital francesa, os parisienses buscavam informações e sofriam o impacto das ações do terceiro dia de perseguições. A tensão também chegava aos turistas, alguns deles assustados com toda a movimentação.
Moradora de um prédio a alguns metros da loja de produtos judaicos na qual Amedy Coulibaly fez dezenas de reféns no início da tarde de sexta-feira (ao final, ele e quatro dos reféns morreriam), a faxineira polonesa Malgorzata Stepniewicz, 32 anos, encontrou uma paisagem impressionante ao retornar para casa:
- Cheguei em casa por volta de 16h e tinha policiais para todos os lados, nenhum carro podia entrar na minha rua, o metrô parou longe e as lojas estavam todas fechadas.
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Malgorzata teve de voltar mais cedo do trabalho porque o diretor da creche da filha ligou e disse que seria preciso fechar a escola mais cedo. Segundo ela, o marido não pode busca-la porque se locomove de carro e as rodovias próximas estavam todas bloqueadas. A solução de Malgorzata para buscar a menina foi parar a duas estações de metrô da escola, que fica próxima da casa delas, e andar até lá.
Já a fotógrafa portuguesa Gina Sanches, 45 anos, deixou a residência, no 16º distrito parisiense, extremo oposto da cidade, para registrar em imagens o episódio no mercado judaico. Ela tentou se aproximar mais do local, mas foi impedida pela polícia.
- Ficamos a mais ou menos 900 metros da mercearia e deu para ouvir o barulho de pelo menos três explosões. Em seguida, houve um tiroteio enorme - conta.
Longe dali, no museu do Louvre, dezenas de turistas se aglomeravam pacientemente em longas filas para tentar comprar entradas. Entre eles, Yummy Miaki, estudante japonesa de 17 anos, que veio a Paris com outros nove adolescentes. Animada para conhecer o museu, Miaki disse que preferia não pensar em possíveis ataques:
- Não tenho medo, acho que tem muitos policiais cuidando dos locais públicos.
Com o plano Vigipirate colocado em prática após os assassinatos na sede da revista Charlie Hebdo, a vigilância a museus, bibliotecas, shoppings e demais locais públicos aumentou. Bolsas e sacolas são revistadas e as pessoas passam por detectores de metal.
Nos metrôs e ônibus, algumas estações e paradas próximas do aeroporto Charles de Gaulle - os suspeitos do ataque à publicação estavam entricheirados num local próximo dali - ou da mercearia judaica permaneceram fechadas durante todo o dia. Ruas, comércios, avenidas e até escolas próximas também foram esvaziados.
A circulação foi fechada ainda na Rue de Rosier, no 3º distrito da capital, região de forte presença judaica no centro da cidade. Porém, fora dali, a vida parecia seguir quase normalmente, como relata a publicitária brasileira Aline Tissot, 32 anos:
- A única diferença foi ficar acompanhando tudo no trabalho pelo noticiário da tevê.
Para Gina Sanches, o sentimento não é de pavor.
- Não acho que as pessoas estejam com medo, em pânico, acho que estamos todos ainda muito chocados, mas tentamos levar uma vida normal - diz.
Depois de presenciar cenas de guerra em zona urbana, a fotógrafa voltou para o outro lado da cidade de metrô. A cidade adormeceu sem saber se o pesadelo acabou.
No mapa, confira o local dos ataques em Paris:
Atentado a Charlie Hebdo
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Megaoperação policial de caçada aos terroristas que mataram 12 pessoas em ataque a semanário satírico teve profundo impacto no dia a dia dos cidadãos
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