Só um milagre poderá salvar um dos eventos tradicionais de Porto Alegre na Semana Farroupilha. Sem verba suficiente, o desfile temático de 2014 está cancelado até segunda ordem. Ontem, o coordenador de Tradição e Folclore da Secretaria Municipal da Cultura (SMC), Giovani Osório Tubino, confirmou que a Copa do Mundo fez cinco patrocinadores desistirem do evento, fazendo o caixa de patrocínio deste ano minguar em R$ 600 mil dos R$ 1,1 milhão necessários para aprontar os nove carros que cruzariam a Avenida Edvaldo Pereira Paiva na noite de 19 de setembro.
Já o coordenador do desfile, Josemar Basso, mantém a esperança de até a próxima sexta-feira arrecadar o dinheiro necessário para dar continuidade ao trabalho iniciado há um mês em dois barracões do Porto Seco, na Zona Norte da Capital. Vinculado à Fundação Cultural Gaúcha/MTG, entidade responsável pela organização do evento, Josemar tem batido na porta de empresários na tentativa de convencê-los a apostar na tradição.
- No primeiro desfile, há 13 anos, apenas 2 mil pessoas nos assistiram. Em 2013, foram cerca de 25 mil. Vínhamos numa crescente. Nos reestruturamos para fazer um belo desfile neste ano. Infelizmente, dependemos de um milagre para conseguir patrocinadores - disse Josemar.
Dinheiro da iniciativa privada
Conforme Giovani, a verba da Cultura para os Festejos Farroupilhas é de R$ 330 mil anuais. O valor é destinado à parte estrutural do acampamento e dos dois desfiles - o desfile de 20 de setembro é de responsabilidade do Estado. As alegorias do temático são produzidas com dinheiro da iniciativa privada.
- A Copa nos tirou os principais patrocinadores. Por isso, já enviei ofício ao prefeito e ao secretário municipal de Cultura informando a decisão de, infelizmente, cancelar o evento - afirmou.
"É uma situação muito triste"
Emocionado, Mano Brum, um dos três carnavalescos responsáveis pelo desfile deste ano, lamentou o cancelamento inesperado do evento. Para este ano, o tema "Eu Sou do Sul", decidido em fevereiro, levaria para a avenida o chimarrão, a fauna e a flora do Estado e os costumes, em carros com iluminação especial e movimentos. Desde maio, cerca de mil voluntários de nove invernadas estão ensaiando o espetáculo que seria apresentado durante o desfile.
- Até já tínhamos contratado um escultor de Parintins para confeccionar as esculturas dos carros. Mesmo que entre alguma verba, o filho nascerá pela metade. É uma situação muito triste - desabafou, com os olhos marejados.
Trabalhadores na expectativa
Enquanto a situação parece definida, nos barracões os funcionários que construiriam os nove carros temáticos permanecem na expectativa. Segundo Josemar, entre julho e setembro, cerca de 250 trabalhadores atuam de forma indireta no evento _ vendedores e comerciantes que atuam na noite do desfile, por exemplo. Outros 160 trabalham no Porto Seco, com salários que variam entre R$ 250 e R$ 500 semanais.
Um deles é o serralheiro João Paulo Guimarães, o Palito, 62 anos, que há mais de 40 anos atua no Carnaval da cidade e desde o início dos desfiles temáticos trabalha na área da ferragem. Experiente na função, ganharia R$ 500 semanais. Ontem, com olhar de incerteza, ele observava os primeiros carros ainda nos ferros.
- Este dinheiro sempre entrava em boa hora. Esperarei até sexta-feira. Se, realmente, não voltarem na decisão, vou procurar outro serviço até o Carnaval - comentou, desolado.
Mulher de Palito, a decoradora Eloir Barbosa, 48 anos, já tinha desmontado os carros alegóricos que seriam utilizados para o desfile. Nem por este serviço ela deverá receber:
- Neste momento, nem penso no dinheiro. Fico triste, isso sim, de não vê-los na avenida.
Entenda o caso
O desfile temático ocorre há 13 anos na Capital.
Há dois anos, ele passou a ser feito na noite de 19 de setembro, sob responsabilidade da prefeitura e do MTG. Na manhã de 20 de setembro, ocorre o desfile tradicional, de responsabilidade do governo do Estado.
Para que os dois desfiles ocorram, são necessários R$ 1,1 milhão - verba arrecadada a partir de patrocinadores.
No temático, são apresentados nove carros com alegorias e 1 mil voluntários participam do desfile.
Em 2014, os organizadores só conseguiram R$ 500 mil até agora.
Com o dinheiro arrecadado, será possível fazer um único desfile em 20 de setembro. Nele, seriam mesclados os participantes do temático junto com o tradicional, sem a utilização dos carros.
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