Uma nova gripe, H7N9, matou 36 pessoas desde que foi encontrada pela primeira vez na China há dois meses. Um vírus recém-descoberto da família SARS causou 22 mortes desde que foi encontrado na Península Arábica no verão passado.
Em anos recentes, isso poderia ter sido motivo de pânico. No entanto, dessa vez as vendas de frango e carne de porco não caíram como durante surtos de gripes anteriormente ligadas a suínos e aves. O número de viagens para Xangai e Meca não diminuiu, tampouco houve alertas pelo fechamento de fronteiras nacionais.
Será que essa resposta calma é adequada? Será que o surgimento simultâneo de duas novas doenças sugere algo mais grave?
Segundo especialistas, a resposta para ambas as perguntas pode muito bem ser "sim".
- Fizemos um excelente trabalho a nível mundial nos últimos 10 anos - disse o Dr. William B. Karesh, especialista em vida selvagem e chefe de políticas de saúde da EcoHealth Alliance, que monitora epidemias entre animais e seres humanos. - Em comparação a H5N1 e SARS, estamos resolvendo o problema dessas doenças muito, muito rápido.
Mas o veterinário acrescentou que "as pessoas se tornaram descuidadas pensando 'Ah, OK, é só mais uma doença'" - e o mundo não pode se dar ao luxo de relaxar. A ameaça é real: novas doenças estão surgindo mais rápido do que nunca.
O parasitologista Peter Daszak, presidente da EcoHealth, diz que 5,3 novas doenças surgem a cada ano. Crescimento populacional, desmatamento, uso excessivo de antibióticos, agricultura industrial, comércio de animais vivos, caça de animais selvagens e as rápidas viagens aéreas estão entre as causas.
Alguns aspectos dos novos vírus são assustadores. O coronavírus árabe - agora oficialmente denominado MERS, que quer dizer síndrome respiratória do Oriente Médio - mata uma a cada duas pessoas infectadas, enquanto a SARS matou menos de um quarto. Em laboratório, o vírus se replica mais rápido do que a SARS, penetra as células do pulmão mais facilmente e inibe a formação de proteínas que avisam ao corpo que ele está sob ataque.
A gripe H7N9 foi fatal em um quarto dos casos conhecidos - a gripe espanhola de 1918 matou apenas dois por cento de suas vítimas - e já tem uma mutação perigosa, que facilita a replicação nas temperaturas do corpo humano.
Ainda assim, a melhoria da vigilância significa que tais ameaças estão sendo encontradas mais cedo, possibilitando que haja tempo para desenvolver contramedidas, como vacinas, e diminuindo a probabilidade de que um vírus como o da gripe de 1918 volte a matar milhões de pessoas.
Resposta ágil para vírus sorrateiros
A capacidade do mundo de detectar novas doenças se acelerou por razões tanto técnicas quanto políticas. Hoje o sequenciamento genético é feito rapidamente em muitos laboratórios. É possível ter acesso imediato a descrições precisas de sintomas. Além disso, sequências genéticas de novos vírus são frequentemente colocadas em bases de dados públicas, de modo que o percurso que percorrem pode ser rastreado. Os cientistas descobriram, por exemplo, que uma convenção da juventude católica realizada em Sydney, Austrália, em 2008 atraiu cepas de influenza que semearam novos surtos em todo o hemisfério norte.
Não menos importante: os países que costumavam esconder os surtos ocorridos em seu território agora admitem quando são acometidos por eles. Seria praticamente impossível agora, por exemplo, repetir o que aconteceu na África na década de 1980, quando presidentes do continente insistiram durante anos que não havia ninguém com AIDS na região.