Em uma certa tarde de outubro, Marcelo Medeiros recebeu um telefonema. Era uma chamada do presidente Giovanni Luigi, que foi direto na pergunta, precedida por um breve "alô":
_ Gostarias de ser vice-presidente do Inter?
Neto de Afonso Paulo Feijó, filho de Gilberto Medeiros e sobrinho de Marcelo Feijó, todos ex-presidentes do clube, Marcelo Medeiros respondeu de pronto:
_ É claro que sim. Um convite desses não se recusa, presidente.
Aos 52 anos de idade, 24 deles como conselheiro do Inter, o advogado esperava pelo dia em que a convocação chegaria. Acabou eleito 1º vice-presidente do clube na noite de 8 de novembro. Dois meses antes do convite presidencial, Marcelo havia passado 10 dias em Salina Cruz, um dos paraísos do surfe mexicano, com um grupo de amigos. Entre eles, o bluesman porto-alegrense Fernando Noronha. Com quatro décadas dropando as ondas e viajando por 11 países diferentes com a prancha no avião ou no rack, desde a Praia da Cal, em Torres, até Mentawai, na Indonésia, Marcelo está na Calçada da Fama da Federação Gaúcha de Surfe.
_ Minha próxima viagem será para a pré-temporada, em Gramado _ conta Marcelo, sabedor de que o novo desafio vai tirá-lo por algum tempo do surfe. _ Mas vejo o Inter como um mar grande e bom de surfar _ completa.
Marcelo garante que não será ele o novo vice de futebol do Inter. Tenta evitar o tema, por vezes, mas está sendo preparado para ser candidato a presidência do clube em um futuro próximo. Advogado, dono de uma das maiores bancas do Estado, a Campos Advocacia Empresarial, ao lado do sócio Marco Antônio Campos, ele divide a vida em cinco pilares: família, Inter, surfe, escritório e amigos. Ao falar sobre futebol, começa lembrando Paulo Roberto Falcão.
_ Gosto de um time com um camisa 5 que saiba jogar. Falcão não foi o maior 5, foi o maior jogador da Era Beira-Rio. Depois dele, vem o D'Alessandro. E o Fernandão foi o maior líder de time em campo _ afirma Medeiros.
O herdeiro de Gilberto Medeiros promete buscar a união do clube. Vai procurar pessoalmente integrantes de outros movimentos, até os de oposição à gestão Luigi, a fim de tentar uma reunificação mínima que seja do clube _ sobretudo em um ano de dificuldades como promete ser o de 2013. Marcelo lembra que o pai costumava observar Fernando Carvalho. Ainda um jovem colaborador do departamento jurídico e aspirante a diretor das categorias de base, nos anos 80, Carvalho já chamava a atenção do experiente dirigente.
_ O pai sempre me orientava: "Te aproxima do Fernando Carvalho. Esse guri vai dar bom". Meu pai me ensinou muita coisa e morreu um dia antes de a minha filha nascer... _ comenta Marcelo, no único momento em que seus olhos ficam marejados, em mais de duas horas de conversa.
Hoje, Laura está com 14 anos e já deixa os cabelos do pai-coruja um pouco mais brancos. Marcelo segue rodeado de colorados. A mãe, Alzira, 75 anos, é quem mais entende de futebol na família e a mulher, Luciana, é mais fanática que ele, assegura o novo dirigente, que costuma deixar o estresse de lado em braçadas quase diárias na piscina do Leopoldina Juvenil. Apesar do jeitão descolado, camisa, jeans e docksides, atrás da sua mesa no escritório, Marcelo se autodenomina um mau humorado. Na trilha sonora pessoal, o ecletismo com as músicas de Wishbone Ash, AC/DC, Eagles, Supertramp, Macy Gray e Lynyrd Skynyrd parece contrastar com o surfe e o suposto comportamento mais sisudo.
_ Gosto de gente mau humorada porque elas são as mais espontâneas. São as mais sinceras.