A chuva não será adversário na Arena e no novo Beira-Rio. Para além de gramados comparáveis aos dos invejados palcos europeus - lolium perenne no caso do Grêmio, bermuda no do Inter -, há a tecnologia de ponta.
Para além, não - para baixo: o sistema de drenagem a vácuo impedirá que os campos virem charcos proibitivos para a prática do futebol.
E a dupla Gre-Nal está farta de exemplos em que suas ambições foram por água abaixo. No dia 30 de maio de 1993, Grêmio e Cruzeiro pisaram no Olímpico para o primeiro jogo da decisão da Copa do Brasil. A chuvarada daquele domingo tornou o gramado uma gigantesca poça. O público esperado, que era de 50 mil pessoas, não passou dos 31 mil. Sem bola no chão, o 0 a 0 foi festejado pelos mineiros que, em casa, conquistaram o título com vitória por 2 a 1.
GRÁFICO: Confira como funcionará a drenagem a vácuo no Beira-Rio e Arena
No dia 27 de setembro de 2009, o Inter perdeu dois pontos preciosos na vindoura briga pelo título do Brasileirão com o Flamengo - justamente seu rival naquele domingo. O 0 a 0 foi culpa, sobretudo, da tromba d'água que se abateu sobre Porto Alegre desde a noite de sábado. Virou um jogo de polo aquático, em que a bola parava o tempo todo, e os jogadores não paravam em pé. No final do campeonato, os cariocas terminaram exatamente dois pontos à frente dos gaúchos.
Cenas como essas não devem mais se repetir, graças à implantação da drenagem a vácuo, semelhante às que garantem as condições de jogo nos gramados ingleses e holandeses - para citar dois países castigados pelas chuvas. O sistema é uma exigência da Fifa para a próxima Copa do Mundo, no Brasil. Ou seja, uma obrigação para o Beira-Rio. E uma consequência para a Arena.
Hoje, as drenagens do Olímpico e do Beira-Rio - chamadas de "gravitacional" - não suportam as chuvas torrenciais. Consistem em canos colocados logo abaixo do gramado. Abaixo do solo, há uma grande caixa, a cisterna (de 10 por 10 metros, em média), que armazena a água que, posteriormente, é utilizada na irrigação do gramado. Quando lotada, no entanto, não há para onde a água "fugir" - ela ensopa o gramado.
Na drenagem a vácuo, a água da chuva é absorvida, primeiramente, pela parte interior da grama, que, seguida pela camada de areia, encontra uma camada de brita. Ao todo, o trajeto da água até os canos que irão absorvê-las e sugá-las tem de 60cm a 80cm.
É na brita que estão os canos, chamados de drenos secundários, que fazem com que a água escorra até o dreno coletor principal, de onde é sugada até o sistema de esgoto da cidade. O dreno principal é um cano que se estende por toda a lateral do gramado, armazenando a água. Fora do estádio, uma bomba de sucção é acionada e "puxa" a água em um processo parecido ao de uma pessoa tomando refrigerante com um canudo: rapidamente, não há mais líquido.
- O sistema a vácuo é capaz de drenar quatro vezes mais do que o gravitacional - afirma a diretora de patrimônio do Inter, Diana Oliveira.
- O investimento é alto. O custo será de aproximadamente R$ 12 milhões - diz Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos. No Beira-Rio, o custo é semelhante e fica entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões.
Santos foi pioneiro no Brasil
Quem acompanha futebol desde antes dos anos 1990 é capaz de recordar partidas enlameadas na Vila Belmiro. A casa do Santos era, em seu gramado, a antítese do futebol praticado por Pelé e Neymar. Localizada no litoral paulista, a cidade tem um lençol freático extremamente próximo do solo. Se chovia forte, o campo se transformava em um verdadeiro barral.
Em 1996, com a venda de Giovanni - meia que brilhou no Santos daquela década -, o clube pôde reestruturar seu gramado. Investiu o dinheiro na instalação da drenagem a vácuo, pioneira e até hoje a única no Brasil. A grama bermuda, por sua vez, não precisa de tanto sol e tem uma recuperação mais rápida à sombra.
- Não temos mais problemas com chuvas. Óbvio que o gramado fica molhado, mas não é significativo. Mesmo no inverno, conseguimos manter a mesma qualidade no gramado - afirma o gerente de patrimônio do Santos, Luiz Fernando Vella.
A reforma acarretou em um aumento de 50 centímetros no nível do campo. Nada que alterasse a visão de quem assiste aos jogos no setor mais próximo ao gramado, principalmente atrás dos gols. Entre novembro do ano passado e março deste ano, o Santos investiu em uma nova reforma. Desta vez, apenas na grama.