Aghata Narrara nasceu aos nove meses. O tempo de vida durou pouco mais de um dia e meio. Com um problema respiratório, a menina não conseguiu sobreviver à espera pela liberação de leito em algum hospital do Estado equipado com UTI neonatal.
A diferença deste para os outros casos de bebês que morreram aguardando por uma vaga em atendimento especializado é que Aghata estava internada no mesmo andar do Hospital de Caridade de Canguçu, no sul do Estado, onde existe toda uma estrutura de UTI montada, porém interditada desde fevereiro pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Desde a interdição, a menina é o terceiro bebê que nasce no hospital e que esbarra na falta de leito. A direção da casa de saúde de Canguçu não quis se manifestar sobre o caso nem falar sobre o que está sendo feito para que a UTI neonatal seja reaberta. O local teve as portas lacradas porque, de acordo com a SES, não havia médicos suficientes para atender a demanda dos 10 leitos disponíveis ao Sistema Único de Saúde.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o Hospital de Caridade de Canguçu ainda não teria apresentado a comprovação de corpo clínico em número suficiente para que a interdição do local seja reavaliada. A direção do hospital chegou a encaminhar ofício com o nome de uma empresa terceirizada que forneceria os profissionais para atender no local, porém a empresa ainda não possuía registro no Conselho de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers).
Distante das negociações entre direção do hospital e Secretaria de Saúde, o agricultor Carlos Sodré, 29 anos, preparou todo o enxoval do primeiro filho. Uma única peça foi usada: Aghata morreu na madrugada desta segunda-feira e o sepultamento aconteceu no final da tarde.
- Eu tinha ouvido falar nessa falta de leito, mas nunca imaginei que fosse acontecer com a minha família. Durante todo o dia a única resposta que nos davam é que não havia vaga em nenhum hospital do Estado. Como eu faço para entrar em casa agora? Como eu faço para seguir adiante depois de não ter conseguido fazer absolutamente nada para salvar a minha filha? - diz, emocionado.
A SES argumenta que a menina teria nascido com uma má formação e que pela complexidade do caso somente hospitais de Porto Alegre teriam capacidade para prestar o atendimento e que um exame teria sido solicitado, mas a equipe de Canguçu não teria feito o encaminhamento. Será aberta uma auditoria na SES para investigar o caso e os procedimentos que envolveram o parto e o pré-natal.
Caos na saúde
Sem atendimento especializado, recém-nascida morre em hospital de Canguçu
Aghata Narrara nasceu no Hospital de Caridade de Canguçu, onde existe uma UTI neonatal estruturada, porém interditada pela SES desde fevereiro
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