Apergunta é comum nos consultórios e fora deles. Afinal, a homeopatia serve mesmo para quê? Se olharmos bem para a questão, ela envolve na sua inocência toda uma superficialidade de nossa época. A mesma interrogação petulante já se fez e se faz em tantos assuntos cruciais. A mais poética das situações em que a vi foi na música de Piaf, A quoi ça sert l'amour? (Para que serve o amor?). Ou, no caso da professora e filósofa Marilena Chauí, quando lhe perguntaram para que serve a filosofia. A resposta foi lindamente apresentada e incluía uma frase famosa entre os estudantes de filosofia que diz: "A filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual." E, no entanto, é a filosofia que pode instrumentar um espírito a libertar-se dos preconceitos do senso comum. Um verdadeiro instrumento de liberdade.
E, todos os dias, a perguntinha segue comparecendo aos consultórios dos homeopatas. Os pacientes buscam algum alívio a sintomas que já não respondem aos recursos tradicionais, e têm ali uma esperança. Amenizar os sintomas é o que eles querem em sua maioria, já não falam em cura, em superação, soluções. Andamos tão desesperançados, que qualquer alívio, mesmo de um "chazinho" pode ser bem-vindo. Ignoram completamente o potencial terapêutico que têm diante de si. Na verdade, aprendemos a nos contentar com pouco.
Opine: você acredita na eficiência do tratamento homeopático?
Como explicar-lhes que ali, naquele frasquinho, há uma revolução? Revolução para a saúde do paciente, que fará um tratamento do sintoma orgânico que o trouxe ao consultório e de toda a dimensão psíquica que condiciona tal estado de saúde. Revolução em sua vida, que possivelmente recuperará capacidades e esperanças muitas vezes já abandonadas. Revolução para a medicina, que estará mudando um paradigma terapêutico; e finalmente, revolução para a indústria, que precisará reformular-se.
Contam que Mario Quintana ao lhe elogiarem um "poeminha", respondera: obrigado por sua "opiniãozinha". Sempre penso nessa anedota quando me pedem um "remedinho". Estaremos, cada um de nós, preparados para um verdadeiro tratamento homeopático? Afinal, não é todo sujeito que se habilita a enfrentar com determinação, por exemplo, uma psicanálise. Pois se a homeo-patia mobiliza conteúdos psíquicos, é o que se faz.
A ansiedade de um paciente é apenas a ponta de um iceberg, uma flor que se mostra aos olhos. Há subjacente todo um mal que impregna o caule, a raiz, o todo. E do qual vemos apenas uma parte, talvez a menor. Um ansiolítico irá decepar a flor, deixando todo o mais intacto. Buscar tratar o caule, a raiz, as folhas, não é isto muito mais ambicioso e louvável? Pois é isto a que serve a homeopatia. É isto o que pode fazer um "remedinho" cuidadosa e longamente buscado.
Nisto, o que fere os brios da ciência mais ortodoxa é que em homeopatia considera-se este mal tão presente na flor quanto em cada um de seus espinhos ou ramos. E, pela análise de uma pétala, pode-se inferir o que anda pela raiz.
E onde o mérito de tão ambicioso tratamento, tão longa busca, tanta persistência?
Na liberdade que representa a saúde. Liberdade que a filosofia pode instrumentar ao espírito e a homeopatia pode assegurar as forças necessárias à empreitada.
A quoi ça sert l'amour? Para que serve o amor? Para que a filosofia? Para que homeopatia? Para a liberdade, em última análise. A saúde capacita o homem à luta pela felicidade, esta eterna esquiva. Hahnemann escreveu que a saúde viabiliza ao homem "buscar os altos fins da existência", e que Deus nos ajude a saber quais sejam.
*Médico homeopata
Opinião
Tema para debate: Homeopatia pra quê?
Como explicar-lhes que ali, naquele frasquinho, há uma revolução?
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