SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ao mesmo tempo em que o tênis de mesa brasileiro vive a expectativa de um resultado histórico de Hugo Calderano no Mundial individual realizado na Hungria nesta semana, pessoas ligadas à modalidade se animam com as possibilidades para o futuro dela no Brasil.
Aos 22 anos, Calderano é atualmente o sétimo colocado do ranking mundial e vem embalado pela ascensão que obteve em 2018.
No ano passado, o carioca que vive na Alemanha desde 2014 brilhou ao entrar pela primeira vez no top 10, chegar à decisão de um dos principais torneios do circuito e derrotar adversários que lideravam o ranking na ocasião, como o chinês Fan Zhendong (atual líder) e o alemão Timo Boll (5º).
Há alguns anos, Calderano passou a ser tratado como um modelo de sucesso pela Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, que afirma ter investido na carreira do atleta R$ 1,9 milhão de 2012 a 2018. O montante inclui principalmente despesas com técnicos e para a participação dele em competições.
Em 2010, o adolescente fez as malas e mudou-se, na companhia do avô, do Rio de Janeiro para São Caetano do Sul, principal centro do esporte no país. Ele começou a ser treinado pelo francês Jean-René Mounie, trazido ao Brasil justamente com a missão de detectar e lapidar talentos.
Entre os oito brasileiros que disputam o Mundial há nomes experientes, como Thiago Monteiro, 37, Gustavo Tsuboi, 33, e Jessica Yamada, 29. Outros são contemporâneos de Calderano, casos de Eric Jouti, 24, Vitor Ishiy, 23, e Lin Gui, 25.
A caçula da delegação é Bruna Takahashi, 18. Na 64ª posição do ranking, a jovem de São Bernardo do Campo já alcançou a melhor colocação de uma brasileira na lista e agora busca um clube na Europa para dar sequência à sua evolução. Por enquanto, ela viaja eventualmente para a Dinamarca, onde treina com técnicos chineses.
Ainda no início da carreira profissional, Bruna se vê com a missão de atrair mais meninas para o esporte e já conseguiu sucesso com uma, que inclusive mora na mesma casa que ela. Aos 14 anos, sua irmã, Giulia Takahashi, é a oitava melhor do mundo no ranking sub-15.
Giulia é vista como um talento de potencial similar ao de Calderano, cujo sucesso é comemorado por dirigentes e técnicos de tênis de mesa no país. Não só pelos resultados, mas por projetar a modalidade e atrair mais pessoas para ela.
"Muitos jovens vêm querer aprender tênis de mesa se inspirando nele, uma fonte inspiradora como essa é uma grande oportunidade para a gente conseguir mais jovens e crianças", diz Lincon Yasuda, coordenador das seleções olímpicas.
Yasuda compara o cenário encontrado por Calderano quando começou com o atual. "Agora podemos falar 'olha, você pode ser o número dez do mundo', antes não tinha isso. Nem todos vão se propor a fazer esse investimento, correr esse risco, mas com uma referência é muito mais fácil propor um projeto de alto nível para um jovem."
"Saímos do grupo de trás para o grupo médio para cima no nível internacional. Ter um jogador top 10 do mundo põe você no mapa do tênis de mesa mundial", afirma Francisco Arado, técnico da seleção masculina.
Anteriormente, o país teve Ubiraci Rodrigues da Costa, o Biriba, Claudio Kano e Hugo Hoyama como mesa-tenistas de destaque. Na Olimpíada do Rio-2016, então com 20 anos, Calderano chegou às oitavas de final e igualou o melhor resultado de um brasileiro, obtido por Hoyama em Atlanta-1996.
Provavelmente foi a primeira vez que a maioria dos presentes no Riocentro naqueles dias ouviu falar dele. Hoje Calderano tem 58,4 mil seguidores no Instagram e quando vem ao Brasil interrompe torneios para atender aos pedidos de foto dos fãs.
Técnico da seleção feminina, Hugo Hoyama acompanha de perto os feitos do xará. "O que o Hugo vem fazendo é fantástico. Isso motiva não só os que acompanham o esporte, mas os atletas novos, que têm o Calderano como seu ídolo. Quem sabe lá na frente surjam outros Calderanos, Hoyamas e Claudio Kanos", afirma.
O fenômeno pode crescer ainda mais dependendo do seu resultado no Mundial da Hungria, mas ele não terá vida fácil. O sorteio colocou como possível adversário de oitavas de final o chinês Ma Long, atual campeão olímpico e mundial.
"Hoje eu tenho capacidade de ganhar de qualquer jogador no mundo. Já consegui ganhar de quase todos eles. Claro que é muito importante ter uma regularidade alta para conseguir sempre disputar contra os melhores, mas já tenho nível para ganhar deles", diz Calderano.
Ele estreia no torneio na terça (23), ainda sem adversário definido. Os jogos podem ser vistos no site da federação internacional e, a partir de quinta (25), no SporTV.