Com passagens por Flamengo e Grêmio, o zagueiro Wallace Reis é prova de que nem jogadores de trajetória consolidada escapam de problemas fora do Brasil. Sem espaço no time gremista, Reis embarcou para Gaziantep, cidade de 1,5 milhão de habitantes no sul da Turquia. Defenderia, por empréstimo, o Gaziantepspor. Não sabia que teria de enfrentar, sem a família por perto, a barra de conviver com salários atrasados e promessas não cumpridas por dirigentes.
Ao fazer as malas, o jogador já havia decidido ir sozinho. Gaziantep fica perto da fronteira com a Síria e está a 123 quilômetros de Aleppo, cidade que se tornou símbolo da destruição provocada pela guerra no país. O temor de que o conflito se alastrasse, invadindo a Turquia, fez com que deixasse os familiares no Brasil.
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Ao menos o zagueiro tinha a companhia de um rosto conhecido. Paulo Victor, ex-colega nos tempos de Flamengo e hoje goleiro reserva do Grêmio, dividiu apartamento e angústias com Reis. A vida em Gaziantep encantava pelo encontro com uma cultura diferente e, apesar do temor do conflito na Síria, havia a liberdade de andar pelas ruas sem preocupação com a violência urbana que toma conta das cidades brasileiras.
No clube, porém, a rotina não era nada fácil. O atraso no pagamento dos salários persistiu por seis meses. O grupo de jogadores, que era dividido entre uma "panelinha" formada por turcos e outra, por estrangeiros, chegou a pensar em fazer greve. Mas seguiu adiante.
– Nunca tive problema em relação a salário em toda a minha carreira. Lidar com essa situação foi complicado, simplesmente por ter sido a primeira vez – conta o zagueiro, que diz ter sobrevivido com as economias durante o período sem vencimentos.
A situação financeira não era tão preocupante porque o jogador fez cortes em despesas que julgou desnecessárias. Diz ter um estilo de vida modesto, o que o ajudou a atravessar a turbulência.
Em junho, porém, ele cansou. Rescindiu o contrato e seu empresário foi à Fifa para cobrar os salários atrasados. Voltou, em um primeiro momento, ao Grêmio. Depois, definitivamente, ao conforto de casa: emprestado ao Vitória, onde iniciou a carreira na sua Bahia natal, busca a retomada em um lugar bem mais acolhedor do que a Gaziantep próxima demais das bombas de Aleppo.
* ZH Esportes