Um fenômeno de popularidade a partir de 2011 tornou o MMA um dos esportes mais consumidos no Brasil. Nos últimos anos, nomes como Anderson Silva, José Aldo, Rodrigo Minotauro, Lyoto Machida e Maurício Shogun saíram do quase anonimato entre o grande público para ter o mesmo reconhecimento popular que já tinham no nicho das lutas. Mas, nos últimos meses, uma das principais armas na popularização do esporte passou a se perder: o sucesso dos brasileiros no UFC, maior organização de MMA do mundo.
O Brasil, que chegou a ter quatro cinturões simultâneos em 2012, hoje tem apenas um – o de Amanda Nunes no peso galo feminino. Neste sábado, em Las Vegas, ela defende o título diante da quirguistanesa naturalizada peruana Valentina Shevchenko na luta principal do UFC 213.
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Zero Hora convidou lutadores, técnicos e especialistas para analisar as causas da queda dos resultados brasileiros. Além da batalha de Amanda Nunes, a chance de recuperação começa no dia 29 de julho, quando Cris Cyborg e Demian Maia disputam os cinturões de suas categorias – pena feminino e meio-médio masculino, respectivamente – no UFC 214, na Califórnia.
Os motivos para o declínio
Entressafra
O primeiro item apontado para a queda é uma natural passagem de bastão. Há um envelhecimento dos nomes que fizeram a transição do Vale-Tudo para o MMA e impulsionaram o esporte no Brasil – Anderson Silva, Minotauro e Minotouro Nogueira, Wanderlei Silva, Vitor Belfort –, e os jovens ainda não atingiram o mesmo patamar.
– É muito difícil manter todos os cinturões em um único país. O Brasil tem muita qualidade e quantidade de lutadores, e eu acho que é uma questão de tempo até alguns recuperarem – analisa Fabrício Werdum, campeão dos pesados do UFC entre junho de 2015 e maio de 2016.
Qualidade das academias americanas
Amanda Nunes, a única brasileira que detém um cinturão do UFC atualmente, treina nos Estados Unidos. E as academias da América do Norte têm tido destaque. Para o peso médio Antônio Carlos Cara de Sapato, a ida para os Estados Unidos foi fundamental para se tornar um lutador mais completo.
– Nos Estados Unidos, você tem muita facilidade para encontrar uma academia com toda a estrutura que um lutador precisa. No Brasil, eu tinha que dirigir horas para treinar uma modalidade em um lugar, depois horas para fazer a preparação física em outro local. Nos Estados Unidos, isso é mais concentrado, você consegue fazer todos os treinos em um só lugar – analisou o campeão do The Ultimate Fighter Brasil 3.
Estilo
O MMA começou, há mais de 20 anos, como um duelo de estilos – o representante do jiu-jitsu encarava o representante do boxe, por exemplo. Com a evolução da modalidade, passaram a se destacar os atletas completos. Hoje, o wresling (luta livre) tem um papel decisivo no esporte – e é um esporte dominado pelos americanos.
– Sou do jiu-jitsu, meu jogo é de grappler (luta agarrada). Então, sempre tento levar a luta para o chão. Mas para levar para o chão, precisa ter um bom wrestling. O Brasil não é um nome forte no wrestling, então a minha ida para os Estados Unidos foi muito por isso – acrescenta Cara de Sapato.
Investimento
Os lutadores americanos são realmente profissionais. No Brasil, à exceção das grandes estrelas, é comum ver lutadores que precisam trabalhar em outras áreas para se sustentar. Na avaliação de Fabiano Doca, técnico de MMA e líder da equipe Boxer, a falta de apoio cria obstáculos extras no desenvolvimento dos atletas.
– A maioria dos atletas "profissionais" no Brasil tem de trabalhar, fazer jornada dupla, às vezes tripla, para conseguir sobreviver. Enquanto nos Estados Unidos, vivem exclusivamente de luta, porque os patrocinadores abraçam este profissionalismo junto com os lutadores. Neste sentido, existe um grande abismo entre Brasil e Estados Unidos – observa.
Falta de reciclagem dos técnicos
O último – e não menos importante – ponto é a falta de reciclagem dos técnicos que preparam os grandes lutadores no Brasil. Somado a isso, entra a ausência de planejamento a longo prazo. Segundo o editor-chefe do Canal Combate, Marcelo Russio, os treinamentos no Brasil não acompanharam a evolução do esporte:
– Quando o UFC começou, ninguém conhecia o jiu-jitsu. Royce (Gracie) foi lá e mostrou como era efetivo. E começaram a importar nossos treinadores. Hoje, você vê brasileiros espalhados pelo mundo, como na America Top Team (uma das maiores academias especializada em MMA na Flórida). Lá, há planejamento a longo prazo. Aqui, não. Se somar entressafra, falta de atualização de equipes e poderio econômico ser muito menor no Brasil, você tem esse panorama que acaba levando à escassez de luta boa e cinturões – entende.
Como acompanhar o UFC 213
O evento terá transmissão ao vivo do Canal Combate em sistema pay-per-view. ZH acompanhará o UFC 213 em tempo real neste sábado a partir das 19h30min. O card principal começa às 23h. A luta da brasileira Amanda Nunes, que vale o cinturão peso galo, está prevista para a 1h de sábado para domingo.
CARD PRINCIPAL
Amanda Nunes x Valentina Shevchenko (título dos galos femininos)
Yoel Romero x Robert Whittaker (título interino dos médios)
Daniel Omielanczuk x Curtis Blaydes (pesados)
Fabrício Werdum x Alistair Overeem (pesados)
Anthony Pettis x Jim Miller (leves)
CARD PRELIMINAR
Travis Browne x Oleksiy Oliynyk (pesados)
Chad Laprise x Brian Camozzi (meio-médios)
Thiago Santos x Gerald Meerschaert (médios)
Jordan Mein x Belal Muhammad (meio-médios)
Rob Font x Douglas Silva de Andrade (galos)
Cody Stamann x Terrion Ware (penas)
Trevin Giles x James Bochnovic (meio-pesados)