Há três anos, o Brasil foi goleado pela Alemanha no histórico 7 a 1 que resultou na eliminação na semifinal da Copa do Mundo. Zero Hora convidou comentaristas para analisar o impacto que a goleada teve, e qual o reflexo do jogo no desenvolvimento do futebol brasileiro desde então.
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Maurício Saraiva, comentarista da RBS TV
Se o presidente da CBF não pode comprar perfume do lado de lá da fronteira por medo de ser preso e se o presidente anterior da CBF está em prisão domiciliar em Nova York, não há como dizer que houve drástica mudança no futebol brasileiro. A única coisa realmente nova por aqui é a presença, enfim, do melhor treinador do país comandando a seleção do país. Mas nem isso é possível elogiar sem ressalva; Tite não foi a escolha natural depois da Copa em que o Brasil levou 7x1. O então presidente da CBF, hoje em Nova York de tornozeleira, recontratou Dunga três anos atrás. O trabalho não teve sucesso, Dunga saiu e, aí sim, finalmente se fez justiça a quem já deveria ter sido escolhido antes.
Então, embora tenhamos hoje uma seleção brasileira competitiva e candidata forte a campeã na Copa da Rússia, não houve nenhuma reforma estrutural no futebol brasileiro. Trabalho de base sem inovação, calendário apertado, dirigentes ainda acreditando que ser raposa é legal e levar vantagem a qualquer preço é lícito, eis o que vigora até hoje por aqui. Da forma como se elege o presidente da CBF, não há perspectiva de evolução. Como sempre, veremos espamos de avanço por conta do personagem que estiver na casamata da seleção. No contexto do futebol brasileiro, porém, não tenho esperanças.
André Baibich, repórter de ZH
Por um lado, aprendemos com o 7 a 1 que é preciso mais estudo, mais ciência, mais método para potencializar talentos. Uma geração de técnicos jovens, que dão importância a tudo isso, nasceu e ganhou oportunidades. Como são inexperientes, cometeram erros. Algo natural, mas que provocou alguma reação de correntes que insistem em ver o futebol como um jogo simplório, decidido por indivíduos e não pelo coletivo.
A Seleção evoluiu justamente por contar com um treinador que une rodagem e conhecimento. Colocou o time a jogar o mesmo esporte praticado nos grandes times da Europa – aquilo que os times de Felipão e Dunga jogavam não era o futebol como o conhecemos hoje – sem deixar de aproveitar o talento individual brasileiro. A goleada alemã só não foi capaz de implodir, como é necessário, a cúpula da CBF. Passaram-se três anos, fomos apresentados a evidências contundentes de que os últimos três presidentes da entidade se envolveram em corrupção, e a mesma turma segue por lá. O futebol brasileiro só muda pela qualidade de alguns profissionais. Pela gestão é que não será.
Luiz Zini Pires, colunista de ZH
Ver o Brasil pela ótica da Seleção Brasileira é fácil. Parece que tudo mudou. O país renasceu. O nosso futebol é outro. Tite recuperou a Seleção. Ofereceu um novo modelo de jogo, criou um sistema de trabalho e organizou uma comissão técnica de clube europeu de ponta.
A mudança se encerra na boa fase da Seleção. Transitória? Não? O Mundial da Rússia terá a resposta.
A estrutura da CBF permanece intacta e seu presidente continua no radar do FBI. Os desunidos clubes brasileiros não desenvolveram uma associação. A Primeira Liga, competição criada por eles, fracassou logo na segunda edição. Os 27 grandes clubes brasileiros devem R$ 6,2 bilhões, o valor cresce sem parar, e os jovens jogadores continuam deixando o Brasil às dezenas cada janela europeia. A gestão dos clubes é feita por torcedores dirigentes.
O 7 a 1 é tatuagem. Só sai com cirurgia. Os que mandam no futebol continuam esquentando as mesmas cadeiras que ocupavam bem antes do fatídico 2014.
Cléber Grabauska, comentarista da Rádio Gaúcha
No início, existia quase uma imposição de que tudo fosse mudado. E imediatamente. Falou-se em buscar conhecimento com técnicos estrangeiros. Ter Guardiola ou Simeone na Seleção seria o ideal para o desespero da época. Aos poucos, o desespero diminuiu. A ascensão de Tite serviu para mostrar que o futebol brasileiro, feito por brasileiros, ainda teria salvação. E hoje vivemos assim. Acho que o 7 a 1 e Tite serviram para os brasileiros enxergarem o nosso futebol dentro das quatro linhas de uma forma diferente. Novos técnicos estão surgindo. Novas ideias estão sendo colocadas em prática. Mas isso somente dentro das quatro linhas. Fora, nos gabinetes de federações e confederações, quase nada mudou.