Fábio Mahseredjian é um preparador físico que dá expediente mesmo sem ninguém para treinar. Trabalha por telefone. Nada de fazer o jogador suar do outro lado do mundo. É algo simples, de conversar, perguntar como está no clube, se ficou de fora por lesão ou opção técnica e mostrar que está monitorado apesar da distância de um oceano _ ou dois, no caso dos chineses.
O ritual se repete com os preparadores dos clubes dos nossos craques. Mahseredjian aproximou a CBF dos gigantes europeus. É o que conta nesta entrevista, concedida ao programa No Mundo da Copa, da Rádio Gaúcha.
Com a vaga na Copa, o momento da Seleção é de tranquilidade para testes?
O momento não é de relaxamento. Na Seleção, nunca se pode relaxar, tem de continuar sempre pensando na próxima partida, na próxima convocação, estar muito atento aos atletas presentes no nosso raio de convocados. Hoje são cerca de 35, mas esse número pode passar disso, diminuir. Observamos quantos minutos jogou, se jogou, se não jogou. E, se não jogou, por que ficou de fora? Entro em contato para saber se a ausência é por motivo de departamento médico. Se está machucado, quanto tempo ficará fora, que tipo de lesão é. O trabalho segue, sem relaxamento algum.
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Com a vaga, o foco da comissão técnica passar ser a estrutura na Rússia?
Pensar na Copa, evidentemente, já pensamos. Mesmo antes de estarmos classificados já pensávamos. Havia ido à Rússia no final de 2016. Essa última visita (em abril) foi a quarta dos integrantes da comissão técnica à Rússia. Você tem de se planejar. Eu já tinha visitado, antes o Guilherme, que trabalhava aqui, tinha visitado. Fui no ano passado com o Luiz Vagner (Vivian) e com o Hamilton Correia, outro supervisor. Rodamos 16 ou 18 sedes, mais ou menos. Fizemos uma pré-seleção, excluímos as que não nos atendiam. Voltamos agora com o Edu (Gaspar) para visitar sete ou oito sedes, para fazermos mais um pente fino. Mesmo assim, aparecem outras desde. Até final do ano, podem aparecer outros base-camps. Novos locais tem entrado e ficado à disposição no site da Fifa. Temos acompanhado semanalmente e vamos fazer outra visita em julho ou agosto, para observamos algumas sedes de que havíamos gostado.
Recentemente, em entrevista ao No Mundo da Copa. Edu Gaspar nos disse que esse filtro está próximo de definir a casa da Seleção na Rússia. A ideia é de um local exclusivo?
Existem lugares exclusivos e mistos. Qualquer dos lugares tem de ter dois campos de treino, uma situação da qual o Tite não abre mão. Como disse a vocês, pode ser com privacidade total ou não. Estamos discutindo, temos reuniões quinzenais a respeito disso. Não só de base-camp, mas do que queremos desde a apresentação, que será em maio de 2018, não temos a data precisa ainda. Quando dias vamos ficar na Granja? Se vamos ficar, quando vamos para a Rússia? Passaremos na Europa para fazer parte da pré-temporada e amistosos? Pelas regras da Fifa, temos de chegar até cinco dias antes da nossa estreia. Nada nos impede, porém, de ir bem antes.
A ideia é ficar o mais próximo possível de Moscou?
Não estamos levando isso em consideração, não. O que levamos é a estrutura que nos atenda perfeitamente. Isso é o primeiro ponto
Será preciso levar algum equipamento ou algo específico disponível aqui no Brasil e que não foi encontrado por vocês na Rússia?
Sempre temos de levar algo daqui, com o qual estamos acostumados. Temos nossos parceiros aqui na CBF. Por exemplo, a Tecnogym é nossa parceira que fornece equipamentos de musculação. Como aconteceu em 2010, na Copa que fui, essa parceira deve montar nossa sala de musculação lá. O departamento médico vai levar os equipamentos de medicina esportiva e fisioterapia. Isso será levado daqui para lá, não tenho dúvida
A definição da casa da Seleção a Rússia pode ser batido antes do sorteio, em dezembro?
Existe a possibilidade de bater o martelo antes, sim. Não precisa esperar o sorteio. As pessoas sempre perguntam: e se não jogar no local em que está hospedado? A Alemanha, aqui no Brasil, não jogou no local em que ficou hospedada. Pelo contrário, ficou em um local de difícil acesso no litoral da Bahia, tinha de pegar ônibus, atravessar de balsa para chegar ao aeroporto. E ganhou a Copa. Como teve sucesso, tudo foi aprovado. Se a seleção alemã não tivesse ganho a copa, as críticas teriam recaído sobre a logística.
Quando a seleção deve se apresentar e quantos amistosos haverá nesse período de preparação?
A apresentação será em meados de maio. Pelo regulamento da Fifa, cada confederação deve dar sete dias de folga para o atleta ao final do campeonato nacional que ele disputa. A questão é que cada campeonato acaba numa data diferente. Tem a Copa do Rey, a FA Cup, a Liga dos Campeões. A ideia é fazer dois amistosos, como foi em 2010.
Pelo aspecto físico, é bom a Seleção estar fora da Copa das Confederações?
Estamos preocupados com a necessidade de os jogadores terem um período de férias agora no meio do ano. Temos dois amistosos em data-Fifa agora em junho, na Austrália. Fizemos levantamento e há atletas que estiveram na Copa de 2014, nas duas últimas Copas Américas, em 2015 e 2016, e ainda na Olimpíada.
Na Copa, você receberá jogadores em diferentes padrões físicos, vindos da China, do Brasil, da Inglaterra. Como colocar todos no meemos padrão?
Temos de individualizar cada vez mais. Primeiro, temos de ter o diagnóstico de como chegará à nossa mão, com. A partir daí, traçamos um planejamento que atenda à sua necessidade. Cada atleta, é difere rente.
Como é esse modelo de trabalho diário com expediente na CBF?
É diferente, a CBF não estava acostumada com o esse tipo de trabalho. Quando o Edu Gaspar e o Tite chegaram aqui, começaram a idealizá-lo. Fui contratado um mês depois. Para você ter ideia, agora, estou aqui na CBF, sentado à minha mesa, trabalhando, observando atletas. Hoje conversei com o Gabriel Jesus e com o Diego. Esse acompanhamento ficou individualizado, conseguimos monitorar de forma específica cada aletas. Buscamos uma aproximação maior com os clubes da Europa. Isso é importante. Antigamente, só se falava por telefone com o atleta e, quando se conseguia, com o médico do clube dele. Ficava um telefone sem fio. Agora, minimizamos problemas que aconteciam antigamente. Isso faz parte do trabalho diário aqui na CBF.
Há um grupo de WhatsApp para se comunicar com os jogadores?
O grupo de WhatsApp é mais da parte de analise de desempenho. Eu falo diretamente com o atleta quando ele tem alguma lesão ou está voltando de alguma lesão e jogará uma partida oficial.
Foi criada uma agenda com os profissionais das áreas técnicas dos clubes? Há contatos semanais com eles?
Não, não é assim. Ao fim de cada convocação, que é sempre na terça-feira, por exemplo: o Barry Hamilton, fisiologista do Manchester City, o Andreas Kornmayer, preparador físico chefe do Liverpool, o Darlan (Schneider), do Guangzhou Evergrande, recebem um relatório de tudo o que o atleta do clube deles fez conosco aqui na Seleção. É um documento de quatro a cinco páginas, em que tentamos atender à necessidade de cada clube. O Martin Bucheit, chefe de performance do PSG, nos fez elogio muito grande, porque somos a única confederação a enviar um relatório que ele recebe antes mesmo de o atleta se reapresentar. Ele deu o exemplo de que nem a seleção francesa tem essa preocupação com o retorno dos atletas ao seu clube de origem.
Com os chineses, como funciona o trabalho depois de chegarem de uma viagem tão longa e desgastante?
Nós tivemos a ideia, quando vimos que campeonato chinês para uma semana antes da data-Fifa, de pedir a esses atletas que viajassem imediatamente ao final da partida pelo seu clube. Com eles aqui, primeiro, temos de adaptá-los ao fuso horário, de 11 ou 12 horas. Depois, eu e o Cléber Xavier vamos ao encontro desses três jogadores, geralmente o Gil, o Paulinho e o Renato Augusto, e ministramos treinos não só físicos como técnicos. Isso aconteceu nos CTs de Fluminense, Corinthians, Palmeiras e São Paulo, que foram atenciosos, nos ajudaram oferecendo jogadores da base. Geralmente, são 16, 18 atletas, que usamos em treinos de campos reduzidos. Isso nos ajuda a readaptar quem vem da China ao futebol brasileiro e ao fuso horário. Vemos que tem funcionado, pelas grandes performance deles na Seleção.
Como você vê o trabalho dos jogadores com preparadores particulares? Qual sua orientação e acompanhamento?
São dois atletas na Seleção. O Douglas Costa, que trabalha com um profissional de Porto Alegre, e o Neymar, que tem Ricardo Rosa, um amigo pessoal meu, o conheço há anos, trabalhamos juntos. Vejo com bons olhos. É importante esse trabalho físico individualizado, desde que haja tempo também. Esses dois atletas têm tempo, mas cada país e cada comissão têm uma forma de trabalhar. Estive há pouco na Juventus, de Turim. Observei que há um trabalho físico muito bem feito. O preparador chefe, o Simone Folletti, trabalha muito bem o aspecto físico dos jogadores, com treinamento funcional, com o que chamamos de metabólicos, que são treinos de corridas intervaladas. Assim, não tem porque o Dani Alves e o Alex Sandro, que jogam lá, terem preparador físico particular. Não sei como é o Barcelona e o Bayern, não estive lá. Mas alguns clubes, como o Chelsea, trabalham muito forte o aspecto físico através de sua comissão técnica italiana. Outros clubes, não trabalham tão fortemente e alguns atletas veem com necessidade de contratar seu preparadores. Volto a dizer que não sei como é no Barcelona e no Bayern, não estive lá.
Existe preocupação com o Douglas Costa, que tem sofrido seguidas lesões?
Não vemos com tão grande preocupação assim. Ele foi acometido por lesões em épocas de convocações. Não foram lesões grandes, como a que sofreu no final da temporada passada, de adutor, quando fomos à Copa América dos EUA. Ele, ficou dois meses parado. Evidentemente que, quando chegarmos às vésperas da Copa do Mundo, devemos ter uma atenção especial.
Neste último ciclo de Copa do Mundo, fala-se muito de intensidade. Como você imagina que será o Mundial da Rússia?
A tendência é de um futebol de velocidade, de alta intensidade. Os treinadores não abrem mais mão de trabalhar dessa forma. Não é que todos os treinos têm de ser altamente intensos, se não o atleta não aguenta. É preciso equacionar o trabalho.
Vamos para uma Copa de bastante calor?
Não, não é bastante calor. Em São Petersburgo, mais ao norte, não faz tanto calor. Na própria Moscou, não é tão intenso. A Copa acaba no dia 15 de julho, quando o calor aumentará. As temperaturas oscilarão entre 18ºC e 30ºC. Quando você fala alto calor, imagino o verão de Porto Alegre, com 28ºC à noite, umidade altíssima. Isso é calor (risos).
Mas não haverá variações como tivemos no Brasil.
Depende, se levar em consideração Sochi e São Petersburgo, por exemplo. Sochi fica mais ao Sul, é praiana, mais úmida. São Petersburgo, mais ao Norte, tem temperaturas mais amenas.