Três meses de descanso e conversas com a esposa Gabriela após os Jogos Olímpicos do Rio foram necessários para que Thiago Pereira entendesse que era a hora de encerrar a carreira. Motivado a tocar seus projetos nas piscinas do Brasil, o ex-nadador de 31 anos afirma que a decisão não tem volta. E só fecha o sorriso ao projetar o ciclo difícil que os esportes olímpicos terão até Tóquio-2020.
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– Não só a natação, mas os esportes brasileiros podem se preparar, que o bicho vai pegar nos próximos quatro anos – disse Thiago, em entrevista exclusiva ao LANCE!.
Qual é o balanço que faz da sua carreira? Foi como planejava?
Estou feliz demais. Foi maravilhoso. Olho para trás e vejo que tudo o que almejei consegui conquistar. Nunca tive a meta de vencer um adversário específico. Falam muito sobre (Michael) Phelps, e pelo menos uma vez posso dizer que venci todos. São 20 anos de carreira, de 1997 a 2017. Cada treino na madrugada valeu a pena. Como atleta e na vida, fui um vencedor.
Mas daria para encarar mais um ciclo olímpico, não?
Dava, é claro. Mas a pergunta tem de ser outra. É se eu ainda estou disposto a abrir mão de tudo, ainda mais uma edição dos Jogos. Aí é que começa a pesar. Foi uma decisão acertada. Não tenho nada a reclamar. Nadei Pan-Americano e Jogos Olímpicos em casa, ganhei uma medalha olímpica em cima do Phelps. Acho que valeu, né? (risos)
E a situação dos esportes aquáticos em meio à crise na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA)? O que espera para este ciclo?
Não só a natação, mas todos os esportes brasileiros podem se preparar, que o bicho vai pegar nos próximos quatro anos. Tivemos tudo nos últimos quatro. O ciclo da Rio-2016 foi único. Mas acho que faz parte. Tem muita gente falando na falta de apoio financeiro. Porém, essa não é uma crise só no esporte, mas do país, que abrange a política e as empresas. Todos teremos de ser fortes e querer muito. Mas as dificuldades servem como aprendizado. Elas fazem com que a gente cresça lá na frente.
De alguma forma o contexto de crise influenciou na sua decisão?
Não, porque a decisão vinha sendo tomada desde o ano passado, independentemente de crise. Também não foi por falta de clube. Eu não procurei nenhum clube, justamente por não saber se eu poderia firmar um compromisso com eles. Se não tenho certeza, não posso assinar contrato para um mês depois largar. Sentei com minha esposa nos últimos três meses do ano passado e chegamos a essa conclusão.
O que você pretende fazer agora?
Pretendo agora, no Maria Lenk, fazem uma última aparição. Acho importante. Vamos ver se fazemos uma baguncinha. Estou conversando. Preciso fazer uma despedida da água. De repente juntar uma criançada...
E os projetos para a carreira?
Já tem alguns acontecendo, como o Thiago Pereira Swim Camp, inspirado no programa americano de desenvolvimento de nadadores, e o Troféu Thiago Pereira. Também enho me preparando, desde janeiro, para palestras. E um foco que tenho agora, com mais tempo, é visar o lado do afogamento. Há dados preocupantes em nosso país, que as pessoas não conhecem. O índice de mortes é alto. Estamos no top-3. Somos um país tropical, cercado por água. O inicial é passar a mensagem para os pais da importância da natação, pois o maior índice de mortes desta forma é entre dois e oito anos. E uma criança não vai falar para os pais “preciso aprender a nadar”. Temos de começar a mostrar isso. Quando os governantes começarem a abraçar a causa, haverá mudanças. Enquanto isso, temos de levantar a bandeira. Estou correndo atrás da metodologia, em parceria com o Nicolas Nilo, também nadador. Estando fora, sobra mais tempo. Era difícil me dedicar a esses projetos enquanto tinha de treinar e competir. Eu sou mente aberta. Além dos projetos, estou aberto. Não necessariamente sei agora o que quero para o resto da vida. O que me deixa tranquilo é que estou empolgado, feliz e disposto.
Quais foram as três conquistas mais marcantes? A prata em Londres foi a maior delas?
Não posso negar as 23 Pan-Americanas, 700 e tantas, mais de 100 nacionais. Houve várias. A prata em Londres estará sempre em primeiro, não tem como. A medalha olímpica é o grande sonho de qualquer atleta, mas eu somaria tudo, pois foram passos para eu chegar ao pódio em Londres. Em segundo lugar, colocaria o recorde de medalhas no Pan. Espero que ele dure por mais alguns anos. Em terceiro, as conquistas nos Mundiais.
Não volta atrás sobre a aposentadoria? No encerramento dos Jogos, você disse que nadaria mais um ciclo...
Não tinha decidido ainda parar naquela época, pois ainda tinha compromisso com o Minas. E eu não queria tomar qualquer decisão sem ter um descanso antes. O calor da Olimpíada me fez falar aquilo. É a emoção do momento, de pensar que aquilo ali pode ser sua última. Mas, depois de três meses, resolvi. E não tem volta (risos). Nem a pau. Quem sabe outro esporte? Natação, não.