Domingo, entre 13h e 17h, a Arena do Grêmio irá se converter no campo dos sonhos de 110 refugiados residentes na Capital.
Incluída no calendário da 58ª Semana de Porto Alegre, a Copa dos Refugiados será disputada por migrantes de países como Senegal, Haiti, Angola, Venezuela, Colômbia e Peru, que escolheram a cidade para reconstruir suas vidas e de familiares.
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De Caxias do Sul, virá um time formado por refugiados de várias nacionalidades. Haitianos residentes em Lajeado também enviarão uma equipe.
Ao todo, oito seleções correrão atrás de medalhas. Usarão os mesmos vestiários dos jogadores e percorrerão a zona mista, o caminho que leva ao gramado.
Uma trégua na dura rotina em um país estranho, que muitas vezes os rejeita.
Disputar a Copa dos Refugiados no luxuoso palco da Arena é muito mais do que poderia sonhar o refugiado congolês Jean Katumba.
Fundador da ONG África do Coração, desde 2014 ele organiza torneios semelhantes em São Paulo.
A diferença é que, na capital paulista, os jogos são disputados em centros comunitários como os de Glicério, Tatuapé e Itaquera. Nigéria, Camarões e Congo venceram as competições de 2014, 2015 e 2016.
- Para nós, jogar na Arena faz parte de um sonho. Agradecemos profundamente ao Grêmio. Palmeiras e Corinthians nunca nos deram essa oportunidade - diz Katumba, que chegará no sábado à Capital.
Karin Wapechowski, da Associação Antônio Vieira, entidade que se ocupa do reassentamento de refugiados e é reconhecida pelas Nações Unidas e governo federal, diz que é difícil precisar o número de migrantes residentes na Capital.
A contagem se torna complexa pela frequência com que trocam de cidade atrás de melhores oportunidades. Haitianos, conta ela, optam mais por empregos formais. Senegaleses têm veia para o comércio.
A maioria reside em repúblicas em bairros como Glória e Lomba do Pinheiro.
- Não dá para descrever a alegria deles com o evento. Um venezuelano foi conhecer o local das partidas e chegou a beijar a grama de tão feliz - relata Karin.
A Copa dos Refugiados é promovida pela Ponto, agência de inovação social, em parceria com entidades como a Associação Antônio Vieira (ASAV), Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Grêmio, Arena Portoalegrense e prefeitura de Porto Alegre.
Sócio-diretor da Ponto, Rodrigo Vicêncio vê no evento uma forma de despertar a sociedade para a necessidade da integração social de quem chega de outros países.
- É preciso colocar os refugiados como protagonistas dentro da cidade. Não pode existir esse muro invisível. Eles precisam de teto, comida, emprego. Incluí-los agora é evitar que, no futuro, caiam na criminalidade - destaca Vicêncio, observando que muitos dos migrantes possuem alta qualificação em seus países de origem e, aqui, por necessidade, optam por um subemprego.
No álbum de figurinhas da Copa, que será lançado no evento, os refugiados poderão compartilhar seus currículos em busca de oportunidade de empregos. Também contarão com com exames de saúde e receberão auxílio jurídico.
Para Jean Katumba, não basta apenas integrar. É preciso fazer parte, trabalhar, ser aceito como um cidadão igual.
- Nosso objetivo é tirar da cabeça das pessoas o preconceito de que o refugiado veio para cá por ter matado alguém em seu país. Ele tinha uma vida digna por lá. Veio para salvar sua vida e a da família - ensina.
O ingresso para a Copa dos Refugiados será um quilo de alimento não perecível, dentro da validade e embalagem lacrada.
Os donativos serão enviados para a Paróquia Nossa Senhora da Pompéia, no bairro Floresta, que dedica-se a acolher refugiados que chegam à Capital.
Às 13h ocorrerá o cerimonial de abertura. Os jogos vão das 14h às 16h. Filhos de refugiados que estiverem na torcida receberão presentes. Cerca de três mil pessoas, a maioria migrantes, são aguardadas.
*ZHESPORTES