Junho de 2000 foi um mês frio. Atipicamente frio. No meu caso, terrivelmente frio, à beira do insuportável. O motivo...
Repórter esportivo na época, fui enviado por Zero Hora a Caxias para acompanhar os preparativos finais do Caxias, treinado por um certo Adenor Bachi e que, dias depois, teria dois embates com o Grêmio pelas finais do Gauchão. Assim que a equipe de reportagem chegou ao Centenário, desci do carro, entrei no estádio e passei a assistir ao treino, no qual Tite comandava e jogava. À beira do campo, eu via a forma como o então desconhecido treinador armava seu time para surpreender o poderoso rival.
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Magro e habilidoso, o atacante Serginho fazia as vezes de Ronaldinho, astro do adversário. Assim que o atacante reserva do Caxias pegava na bola, os volantes Ivair e Titi e o lateral Sandro Neves tinham de grudar nele. Tite repetiu várias vezes a ação para torná-la automática. Foram exaustivos 90 minutos de treino tático. Até que o treinador apareceu na beira do campo e conversou com os repórteres. Evitou qualquer tipo de comentário sobre o que estava armando para superar o rival Antonio Lopes, do Grêmio, àquele momento um dos grandes treinadores do Brasil.
Em meio a vários colegas gremistas e colorados, eu, corintiano, brinquei: esse cara vai acabar no Corinthians. Pura galhofa que, em 2004, aconteceu. Foi a primeira das três passagens dele pelo clube paulista, o qual comandou em 376 partidas – bem mais do que os 281 jogos em que esteve à frente da dupla Gre-Nal.
Depois da Libertadores e do Mundial de 2012, corintianos criaram um sentimento incomum entre torcedores e técnicos do Brasil. O que gremistas e colorados sentem por jogadores como Renato e Falcão, corintianos sentem por Tite. Acreditem, é uma relação diferente da que Felipão, Espinosa, Minelli e Abelão têm com os times gaúchos. Na semana passada, ao ler a notícia de que Adenor Bachi apareceu em oitavo lugar no ranking de melhores técnicos, fiquei feliz. Não tenho dúvida que, nos seis jogos que venceu pela Seleção, Tite trabalhou com a mesma simplicidade e determinação que mostrou na Serra. Foi inevitável para mim lembrar daquele encontro de junho de 2000. Na época, enquanto eu conversava com o treinador do Caxias, alguém arrombou o carro de ZH e levou minha mala e a de toda a equipe. Era final de sexta-feira, e ficamos em Caxias do Sul até a manhã de segunda. Fiquei sem carteira para comprar alguma roupa – e mesmo que eu tivesse dinheiro, o comércio estava fechado. O jeito foi se virar com uma jaqueta fina. Nem sei qual era a temperatura, mas estava à beira do insuportável...
*ZH ESPORTES