Na semana marcada por comoção mundial pelo acidente que vitimou a delegação da Chapecoense, o Inter mostrou como transparecer insensibilidade a tragédias acarreta profundo dano à imagem. A série de entrevistas controversas concedidas por dirigentes e jogadores escancarou a fragilidade da comunicação do clube. Um dos preceitos básicos que deve nortear os pronunciamentos, a compassion — termo sem definição precisa na língua portuguesa, que designa sentimento de pesar, e é a base da comunicação de crise — foi praticamente esquecida.
Mais do que compaixão, compassion expressa o desejo de estar no lugar daquela pessoa ou organização para sentir a mesma dor que ela está enfrentando. Tal sentimento passou longe da declaração de Fernando Carvalho, quando comparou a tragédia vivida pela Chapecoense com a situação de risco iminente de rebaixamento em que o Inter se encontra. Apesar da retratação do dirigente no dia seguinte, a manifestação provocou reação dos jogadores, que afirmaram não ter condições psicológicas de entrar em campo na última rodada do Brasileirão.
O posicionamento coletivo gerou nova declaração da diretoria colorada na quinta. Diretor de futebol, Ibsen Pinheiro afirmou que "não foi o Inter, foram os jogadores" os responsáveis pela declaração, fazendo coro à manifestação de Piffero, que disparou que o campeonato "ficaria em aberto" caso a última rodada não fosse disputada.
Faltou compassion do Inter com a Chape e dos dirigentes com os jogadores colorados. Além disso, mesmo com luto decretado e bandeira a meio mastro no Beira-Rio – sinais que deveriam significar prioridade total à solidariedade –, o clube entrou no STJD com ação para tentar tirar pontos do Vitória, adversário direto na luta contra o rebaixamento. O momento era de profunda consternação no mundo inteiro com a situação da Chapecoense. Mas, no Inter, nada se via além da preocupação com seus próprios interesses.
No sábado, a crise de imagem ficou ainda mais evidente. Enquanto Vitorio Piffero concedia entrevista na Arena Condá, durante velório coletivo, torcedores da Chapecoense bradavam: "Vai para casa", entre outras expressões que demonstravam rejeição à presença do presidente colorado. A crise dentro de campo deu lugar a nova crise no Inter. Em três dias pós-tragédia, três notas foram lançadas pela comunicação corporativa para tentar desfazer o desastre das entrevistas de seus dirigentes e evitar repercussão de fatos “mal interpretados”.
Gaúcha
Renata de Medeiros: falta de compassion gera crise de imagem no Inter
Jornalista da Gaúcha analisa momento do Inter sob o ponto de vista de comunicação no gerenciamento de crise
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