O poço parece não ter fundo para a Portuguesa. Rebaixado à Série D, o clube que congrega a colônia lusitana paulista torce agora para não surgirem interessados no leilão de seu estádio, dia 18 de novembro.
Só assim terá um local para disputar suas partidas em 2017. O leilão do Canindé é consequência do Caso Héverton, o absurdo erro administrativo cometido na última rodada do Brasileirão de 2013, que decretou o rebaixamento do clube à Série B por escalação irregular de um jogador.
Já em crise financeira, a Portuguesa somou somente 25 pontos em 38 jogos na segunda divisão e seguiu despencando, desta vez para a Série C. Agora, com uma folha de pagamentos de apenas R$ 98 mil, o destino inevitável foi a D.
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Dois personagens surgem como decisivos nessa espiral trágica. O primeiro é o ex-presidente Manuel da Conceição Ferreira, o Manuel da Lupa, julgado por conselheiros e expulso do clube por sonegar ao técnico Guto Ferreira e ao departamento de futebol a informação de que Héverton não poderia ser escalado.
O segundo, Ilídio Lico, que o substituiu. Sobre este recai a crítica de estar desatualizado e permitir que o clube mergulhasse em dívidas trabalhistas com jogadores e ex-funcionários.
É este débito, estimado em R$ 250 milhões, que consome a Portuguesa. Hoje, qualquer valor decorrente de bilheterias de jogos, aluguel de churrascaria e bares ou mesmo aluguel do Canindé para eventos religiosos é bloqueado diretamente na Federação Paulista por sindicatos de trabalhadores e dos Atletas Profissionais para a quitação das dívidas.
Mesmo assim, não faltam candidatos para assumir a presidência. Um deles é o radialista Alexandre de Barros, que transmite os jogos do clube pela Rádio Tropical FM.
- Vou em busca de patrocinadores. A colônia portuguesa é muito forte e já me ajuda com cotas de patrocínio nas transmissões. Se o clube arrancar bem na Série A2 paulista, novos patrocinadores irão se juntar - diz o candidato, confiante em montar um time competitivo com uma folha de R$ 5 milhões.
Na eleição, prevista para a primeira quinzena de dezembro, também devem concorrer Marco Antonio Teixeira Duarte e Marcelo Carvalho.
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Por enquanto, há um ponto em comum entre os três. Trata-se de repetir a estratégia do Bragantino, que conseguiu na Justiça que apenas 30% de sua arrecadação seja usada para saldar as dívidas trabalhistas.
Fervoroso torcedor do clube, o jornalista Flávio Gomes ainda aposta na salvação. Um sinal positivo, aponta ele, é a suspensão de outra proposta de leilão do Canindé, que ocorreria em 7 de novembro. Os interessados entraram em acordo com o clube e retiraram o pedido.
Quanto ao leilão de 18 de novembro, para saldar o restante da dívida trabalhista de R$ 154 milhões, Gomes vibra com a possibilidade de que o Grupo Mendes, um dos maiores fundos de empreendimentos da Baixada Santista, compre o Canindé, salde o passivo e ainda construa uma mini arena para o time disputar suas partidas.
Em troca, o grupo usaria o restante da área para erguer um complexo imobiliário.
- Já há uma carta de intenção assinada. Acho que sai negócio - confia Gomes.
Tudo seria melhor se a colônia portuguesa realmente investisse no clube. Das 6 mil padarias de São Paulo, 80% são de propriedade de portugueses ou seus descendentes.
Bastaria uma pequena contribuição mensal de cada um para que sobrasse dinheiro nos cofres da Portuguesa, vice-campeão brasileira de 1996.
- O problema é que os portugueses foram enriquecendo e viraram torcedores do São Paulo - brinca um desconsolado Flávio Gomes.
O depoimento de quem viveu os tempos de glória da Lusa
Candinho, ex-treinador
"É triste. No meu tempo, sempre foi um clube organizado, que paga em dia e fazia bons campeonatos. Por problemas de gestão, ela está se apequenando, como vários outros clubes brasileiros"
Clemer, ex-jogador
"Fico triste. Como não vou ficar? Por toda a sua tradição, a Portuguesa não merece estar nesta situação. Torço para que saia o mais rápido possível. Fica difícil opinar sem estar por dentro do processo"