A decisão da Conmebol pelo inchaço da Libertadores mais parece o morador que ergue obra pomposa em casa à semelhança do vizinho mas deixa gatos na fiação, acabamento tabajara e entulho na calçada. À primeira vista, é atraente a repentina mudança de G-4 para G-6 mais o campeão da Copa do Brasil (G-7) ou G-8 (com o campeão da Sul-Americana). Olhando melhor, é um bondinho da América.
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Vamos às interrogações. A Conmebol busca mais dinheiro e poder com o aumento de clubes (além do Brasil, Argentina, Chile e Colômbia ganham mais vagas)? A resposta é sim. Levou em conta o impacto técnico em competições como o Brasileirão? Há dúvidas. A nova competição se valorizaria com a enxurrada de brasileiros? Não se sabe. Desde 2013 não temos finalista na América (se um brasileiro finalmente abocanhar o título em 2018, teremos nove clubes na edição de 2019). Nove. Daria 20% dos futuros 44 participantes.
Subitamente, o Santos (quarto colocado do falecido G-4, com 48 pontos) e o Fluminense (quinto, com 46) ficam confortáveis há 10 rodadas do fim do ano. Atlético-PR (42 pontos), Corinthians (41), Botafogo (41), Grêmio (40) e Ponte Preta (39) ganham gás na corrida pelo G-6 – até porque Palmeiras, Atlético-MG, Santos e os próprios Corinthians e Grêmio seguem na Copa do Brasil, o que abriria G-7.
Com o frisson renovado dos intermediários, há quem preveja vida mais dura aos remediados, do Vitória (12º) para baixo. Há uma ironia nisso. Se a mudança tivesse sido implantada em 2015, o quinto e o sexto seriam Inter e Sport, dois dos que despencaram em 2016. Significa que, cada vez mais, ou está classificado ou perto da degola.
Tudo isso inspirou o meu colega Rafael Diverio, aqui no Esporte da Zero Hora, a praticar seu esporte preferido da cornetagem: "Desse jeito, até o São Paulo, de Rio Grande, vai entrar na Libertadores".
Sem falar que a fase pré-grupo agora prevê a hilária classificação do "melhor eliminado".
O alongamento da competição, de fevereiro a novembro, também pode causar embaraços. Atropela regionais (que são dispensáveis) e acumula três competições (problemático no paquidérmico calendário brasileiro). E por que a urgência do canetaço? Por tudo isso, a Conmebol dá ares de Europa (que não é ruim), mas deixa gatos e entulhos pelo caminho (o que é bem sul-americano).
*ZH ESPORTES