É até difícil de acreditar, mas nem sempre Francesco Totti jogou na Roma. E foi justamente neste período que nasceu sua ligação com o clube, uma história de fidelidade esportiva e amor por uma instituição – ou por uma torcida.
A lenda começou quando Totti ainda era criança. Jogava no Trastevere, clube centenário do bairro homônimo da capital italiana, e era o craque do time. Quando recebeu o calendário do torneio de base daquele ano, avisou:
– Contra a Roma, eu não jogo.
É a materialização do sonho de qualquer guri. Ou, ao menos de qualquer guri contemporâneo meu – hoje não sei se essa geração tem mais vontade de jogar pelo time do coração ao longo da vida.
Leia mais:
Wendell Ferreira: dinheiro fala mais alto no UFC
Cláudio Furtado: Carlo, o Grêmio não vai te perder
Eduardo Cardoso: "Precisamos falar sobre o mata-mata"
Enfim, Totti é o torcedor que desceu da arquibancada e foi campeão. Quantas vezes, na curva sul, deve ter pensado "vou mostrar para eles como se faz", naquelas gerações meia-boca que sucederam a super-Roma de Falcão.
Pois aos 17 anos, Totti fez. Em sua primeira temporada – e nas outras 22 seguintes – fez ao menos um gol. E na de 2000/2001, foi brilhante.
Começou antes mesmo do campeonato. Na Eurocopa, Totti mostrou que era sensacional.
Holanda x Itália, semifinal. Depois de empate no tempo normal e na prorrogação com dois jogadores a menos, a Amsterdam Arena esperava os pênaltis. Depois de sua cobrança, Pirlo explica a Totti os movimentos do goleiro Van Der Sar. O capitão da Roma, então, informa:
– Tanto faz, vou bater de cavadinha (colherinha em italiano).
De fato, bateu. E fez. Depois daquela abertura de temporada empolgante, Totti desfilou ao lado de companheiros que formaram um time inesquecível da Roma. Com Antônio Carlos, Aldair, Cafu, Marcos Assunção, Emerson, Batistuta, Montella, Delvecchio e outros tantos, sob a batuta de Fabio Capello, desbancou as milionárias Juventus e Inter, o milionário Milan e a então campeã Lazio para promover uma das maiores festas da história da capital.
Porque, mesmo que não seja um multicampeão com seu clube, Totti pode se orgulhar: uma conquista com a Roma equivale a 10 da Juventus. A emoção do ineditismo, da dificuldade e da adversidade supera qualquer hegemonia. E descer da arquibancada para ser campeão com seu time do coração é maior do que tudo.
*ZH ESPORTES