Não sei se vou conseguir, mas tentarei torcer contra a Seleção Brasileira na Copa América Centenário. As motivações são políticas. E frágeis como ainda é frágil a luta contra a corrupção no Brasil. No entanto, o escritor Mário Vargas Llosa recentemente avaliou como forte essa luta e a estendeu a outros países da América Latina. É o que às vezes sentimos com a Operação Lava-Jato, que parece não ter se encolhido para o impeachment. A nossa esperança de cidadão torcedor do país animou-se. Ela é mais frágil ainda e cheia de dúvidas, mas está mais viva do que nunca.
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Sabemos o quanto, na Copa de 1970, a Ditadura usou e abusou da Seleção. De sua imagem e seus feitos para mascarar a injustiça e a atrocidade que aquele governo impetrava ao mesmo tempo. Mas ali havia uma dissociação. Fora do campo, a realidade era abjeta, detestável; dentro era outra e maravilhosa como num conto de fadas, mas também real, no Reinado do Rei Pelé. A genialidade dele e do restante da corte – Tostão, Jairzinho, Gérson, entre outros – nem eram o principal. Havia garra em Brito, Piazza, Everaldo. Havia garra em todos.
Hoje, a Seleção é um arremedo de garra e tal afirmação não há de valer para os indivíduos que ali estão fazendo o seu trabalho. Muitos são honestos, esforçados e alguns são até mesmo candidatos a futuras genialidades. Mas nada do que fazem parece ter força para combater a desonestidade do ambiente. Isso inclui um ex-presidente da CBF que está preso e um atual sobre o qual pesam acusações muito sérias. Nada parece estar sendo apurado, mas o sintoma, face aparente de um corpo que sofre, está presente num futebol que não planta belezas, nem colhe bons resultados. A doença, como costuma acontecer, parece ter começado bem antes. Teve o fracasso hemorrágico de 2010, e o doloroso 7 a 1, com a contaminação do, anos antes, saudável Felipão.
Hoje, a saúde que resta parece estar de olho na corrupção. Ainda torço para que não tenha resumido o foco a um grupo ou um partido. Que ultrapasse as fronteiras de todos os departamentos, que adentre a CBF. Enquanto isso, eu tentarei torcer contra a Seleção, mas não sei se vou conseguir.
*ZHESPORTES