Um garoto de sorriso fácil, carismático mas, ao mesmo tempo, tímido em frente aos microfones. Quando sobe em um skate, vira fenômeno. Assim é o gaúcho Luan Oliveira, 25 anos. Criado na pista do IAPI, em Porto Alegre, hoje divide-se entre o Brasil e os Estados Unidos, onde tem um apartamento na Califórnia, para treinar e participar dos principais campeonatos da modalidade street. O talento é tanto que ele já foi chamado de "Neymar do skate", em comparação ao craque do Barcelona.
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O skatista viveu em 2015 o melhor ano de sua carreira. Passou mais de 160 dias em viagens. Visitou cidades na América do Norte, América do Sul, Europa, África e Ásia. Terminou o ano como líder do ranking da Street League, que é considerada a maior disputa de skate de rua da atualidade, com 385 pontos - venceu as etapas de Los Angeles e New Jersey, mas perdeu a última para o conterrâneo Kelvin Hoefler.
Uma de suas paradas finais na temporada é justamente a Capital, onde participa da 7ª edição do Matriz Skate Pro, campeonato que ocorre na pista do IAPI neste sábado. Nas terras gaúchas, é tempo de curtir seu apartamento no bairro Três Figueiras e rever velhos amigos. É aqui que o garoto tem a parceria de Cezar Gordo, skatista profissional que foi um dos principais responsáveis por iniciar Luan no mundo do esporte.
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O menino era do futebol. Chegou a jogar um ano nas categorias de base do Grêmio. Ganhou um skate de plástico do pai, aos 10 anos, mas pouco deu importância. Só foi descobrir a intimidade com as quatro rodinhas quando passou a ver outros skatistas andando na rua da casa onde morava, no bairro Jardim Botânico. Foi paixão impossível de conter.
- Skate é um amor eterno. Meu companheiro. Não consigo decifrar. É igual ao sentimento por um filho. Amor sem fim. Sempre que tenho um problema, boto meu pé no skate e esqueço tudo - contou em entrevista à ZH.
Foto: André Ávila
Entre as manobras praticadas na pista do IAPI, a criança de corpo esguio chamou a atenção aos 11 anos. Cezar Gordo, à época, havia recém fundado a loja Matriz, uma das mais tradicionais na modalidade. Resultado: Luan se tornou o segundo skatista a ser patrocinado pela marca. Uma aposta certeira.
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De mentor, o skatista profissional se tornou a família de Luan. O tema aliás, é delicado para o jovem. Os pais, ambos já falecidos, o deixaram aos cuidados da avó quando ainda era pequeno. Anos depois, a mulher que o criou também morreu, devido a um câncer. O skate se tornou, portanto, a sobrevivência e a vida de Luan. Na parceria com Gordo, o menino evoluiu pelas pistas da cidade e ganhou novos patrocínios.
- Ele é um skatista constante. Acerta manobras difíceis que, muitas vezes, um outro skatista leva horas ou dias para acertar. Tem uma facilidade e uma constância muito grande - elogia o mentor.
Até hoje, Gordo brinca que Luan "dá trabalho". Apesar de todo o talento e o foco, a nova sensação do esporte no Brasil precisa, às vezes, levar uma bronca.
- É uma relação de irmão. Mas sou o que ele precisar. Se é para dar um puxão de orelha, sou pai. Se é para andar de skate, sou irmão e amigo - explica.
A virada na carreira
Foi através de Cezar Gordo que, há três anos, outro pilar fundamental foi erguido na carreira de Luan Oliveira. Rafael Xavier, conhecido como Rafinha, entrou na vida do skatista para ser seu agente. Mas é muito mais do que isso. Virou seu companheiro de todas horas, em viagens, entrevistas e treinamentos. Formado em publicidade, Rafinha exerce o papel de "coach" (técnico, em inglês) na vida de Luan.
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É ele o responsável por tornar o menino menos resistente a entrevistas. Luan não gosta muito de falar em frente às câmeras. Para ele, apenas o skate bastava. Com o tempo, passou a entender que, para ser ídolo, precisava assumir responsabilidades maiores. Não é que faltasse simpatia. Essa, segundo Rafinha, é uma característica que veio com o skatista. Faltava Luan se acostumar aos compromissos que chegam com a fama. Hoje, ao encontrar os admiradores que possui Brasil afora, o ídolo distribui autógrafos, sorrisos e fotos.
- Todo mundo estava vendo o carisma dele, mas não trabalhava todo o potencial. Ele nunca foi um bad boy, longe disso. E, a partir de um momento, ele passou a ser bem visto aos olhos de pais, de avós. Eu acho que ninguém está preparado para sair na rua e tirar foto. Requer uma atenção, porque a pessoa perde um pouco da individualidade, da privacidade, e aí pode vir um conflito: quero ser esse skatista? O Luan queria mais. Para ser bem remunerado, para estar em destaque, as pessoas têm de te conhecer - aponta Rafinha.
Rafinha e Luan comemoram sucesso (Reprodução/Instagram)
As metas a serem alcançadas são traçadas ano a ano. Os dois sentam e projetam o futuro. O calendário é sempre cheio. Desde 2011, o garoto passou a viver parte da rotina no país americano, onde ocorrem as principais competições de skate. Atualmente, cada mês é dividido em duas partes: são cerca de 15 dias em Porto Alegre e outros 15 em andanças pelos mais variados lugares.
Os treinos e competições não são problema para Luan. Ele quer mais é andar sobre as quatro rodinhas. O que o incomoda, na verdade, é quando algo não sai como planejado.
- Ele é extremamente exigente. Como a maioria dos atletas de ponta, ele não aceita errar. O mundo inteiro diz que está bom, e ele acha que o pé dele ficou um centímetro mais longe de onde deveria estar. Até deixa de fazer coisas quando achar que vai errar. Por exemplo, ele fala inglês fluente, um ótimo português, um espanhol fluente. E deixa de dar entrevistas porque acha que pode falar algo errado.
Elogios à performance
As recentes apresentações nas pistas têm rendido elogios de mitos do skate. Bob Burnquist, maior referência do esporte no Brasil, não poupou palavras ao falar de Luan.
- Eu acho o Luan Oliveira o melhor skatista do mundo - comentou em entrevista à ZH. - É um dos skatistas mais incríveis, independente de ser brasileiro ou não. Por ser brasileiro, a gente fica mais orgulhoso ainda. É uma referência mundial.
O garoto recebeu com surpresa ao elogio. Maior de todos? Ainda é cedo para encarar assim a si próprio.
- É absurdo ouvir isso dele (risos). Para mim é uma loucura. Eu me espelho muito nele, e sempre foi assim. Eu assistia a vídeos do Bob desde pequeno. Então, é um orgulho enorme.
Para Luan, nem é preciso ser tão elogiado. Basta ter um skate, uma rua ou uma pista. Assim ele fica satisfeito.
Serviço
7ª edição do Matriz Skate Pro
Data: sábado, 5 de dezembro
Horário: das 9h às 18h30min
Local: Pista de skate do IAPI (Rua Dr. Eduardo Chartier, 965, Porto Alegre)
Premiação: R$ 14 mil ao primeiro colocado, R$ 5 mil ao segundo e R$ 3 mil ao terceiro
Entrada gratuita
Em caso de chuva, o evento será transferido
*ZHESPORTES