Se no sábado o Brasil-Pel conquistou a histórica passagem para a Série B do Campeonato Brasileiro (desde 2008 não há clube gaúcho na Segunda Divisão do Brasileiro), neste domingo a torcida xavante retribuiu aos ídolos cada gota de suor. Uma multidão acompanhou o carro de som com os jogadores pela cidade em uma comemoração frenética e apaixonante.
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A delegação viajou sete horas desde o Ceará onde no sábado arrancaram o empate em 0 a 0 com o Fortaleza diante de 63 mil adversários no Castelão, pegou a estrada para Pelotas e encarou mais três horas em carro de som no início da cidade até a consagração final no Bento Freitas.
Uma multidão acompanhou a recepção aos ídolos em carreata, motos e a pé, com a devoção de famílias inteiras, com crianças de colo seguindo o carro de som por quilômetros até o estádio.
A loucura começou cedo da manhã de domingo. À espera do voo da delegação, xavantes invadiram o saguão do terminal novo do Salgado Filho. Só às 13h30min, o Brasil-Pel tomou a estrada, não antes de trocar de ônibus na garagem da empresa Planalto, perto da Arena do Grêmio. E torcedores de Porto Alegre acompanharam tudo.
Finalmente na estrada para Pelotas, os primeiros torcedores se juntaram à delegação no Grill de Cristal. Uma dezena de carros e um ônibus com torcedores esperava os ídolos. No caminho, mais grupos quase invadiam a pista da BR-116 forçando o ônibus a reduzir a velocidade a todo momento. Mas a aglomeração maior ocorreu a partir da entrada da cidade, de 350 mil habitantes.
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O ônibus da delegação foi engolfado por uma carreata à frente e atrás e assim se arrastou até o ponto em que os jogadores passaram para o carro de som no início da Avenida Fernando Osório. Centenas de motoqueiros e uma multidão acompanharam os ídolos a pé em romaria pela cidade, em um clima frenético de trio elétrico só visto nos títulos nacionais e continentais da Dupla Gre-Nal.
– Não dá para acreditar no que se vê, não é? – disse o presidente Ricardo Fonseca, sonhando com um novo momento do clube – Agora é o divisor de águas. Se não se segurar como estrutura, como clube de torcida, talvez não tenha outra chance – finalizou.
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Ao lado do presidente, os jogadores pulavam um axé music consagrado de carnaval. Nem o técnico Rogério Zimmermann, desde maio de 2012 no clube, comandante dos acessos para a Primeira Divisão do Gauchão, da Série D para C em 2014, escondeu a espanto diante de tamanha recepção.
– É paixão pura. O que a gente tinha em mente era isso: conseguir em campo essa alegria para a alegria, é a razão do Brasil – disse Zimmermann.
Quando o carro passou em frente do campo Pelotas, a Boca do Lobo, o trombonista no carro de som tocou a Marca Fúnebre, homenagem ao rival.
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Uma prova simbólica dessa veneração aconteceu durante a passagem da Série D para C do Campeonato Brasileiro, no ano passado. O ônibus da delegação quebrou na entrada da cidade e a torcida o empurrou, com esforço descomunal, até o estádio Bento Freitas.
O atacante Gustavo Papa ainda tem sobressaltos com a energia da torcida:
– Isso entra em campo, sim. Quem não se comove com tanta devoção?
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Escureceu e os jogadores, mesmo cansados, ainda pulavam no carro de som incentivados pela torcida, que seguia a pé a ganhava adesões.
– Até o Bento Freitas – gritavam.
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O estádio é a próxima conquista do Brasil-Pel.Na última quinta-feira o Conselho Deliberativo aprovou um projeto de reconstrução do Bento Freitas, que ficaria com capacidade para 13 mil torcedores em uma primeira etapa. Está encaminhado o plano de permuta dos módulos iniciais com uma construtora portuguesa, que ergueria duas torres de apartamentos em uma área ao lado do estádio. Outras três etapas elevariam o estádio para 21 mil lugares, aos moldes da Arena Condá.
Para abraçar a multidão que o acompanhou pela cidade, a casa rubro-negra tem hoje o máximo de 8 mil lugares. É muito pouco, embora com o coração caliente de ontem à noite.
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*ZHESPORTES