Extorsão, fraude, lavagem de dinheiro, propinas, subornos. Contratos irregulares, eleições e escolhas de sedes de competições sob suspeita. Prisões.
O mundo do futebol acordou estarrecido com os desdobramentos da mega-investigação conduzida pelo FBI sobre as entranhas das negociatas do futebol mundial. De acordo com o Departamento de Justiça dos EUA, a corrupção remete a 1991. O envolvimento brasileiro é evidente: não à toa há dois indiciados e um condenado daqui.
Diante das múltiplas irregularidades apontadas, fica a dúvida sobre quais são os principais pontos da investigação. Entenda a seguir.
CONTRATOS DE MARKETING
Dirigentes que cobram dinheiro "por fora", empresários que pagam para ter direitos de transmissão e comercialização de jogos e competições. Essa é a dinâmica das principais irregularidades verificadas nas investigações.
A corrupção foi detectada, principalmente, na organização de campeonatos na América do Norte e Central - que pertencem à Concacaf - e na América do Sul - da Conmebol. Irregularidades foram constatadas em contratos de competições como as eliminatórias da Concacaf para a Copa do Mundo, Copa América, Libertadores e Copa do Brasil.
O Departamento de Justiça dos EUA não foi específico ao citar que verificou crimes como extorsão, fraude eletrônica e lavagem de dinheiro, entre outros, nos contratos. Fica a dúvida, por exemplo, do motivo pelo qual uma propina paga em um acordo de duas entidades privadas se configura em crime.
A explicação pode estar no sistema jurídico americano, em que não há necessidade de enquadrar os atos em uma lei específica. Basta citar decisões anteriores para embasar os processos. Assim, condenações passadas por fraude em contratos de entes privados podem dar sustentação ao indiciamento dos envolvidos.
POR QUE OS ESTADOS UNIDOS?
Há outra característica do sistema jurídico americano que auxilia o andamento das investigações. É a que permite processar estrangeiros não residentes nos Estados Unidos, desde que os crimes tenham alguma relação com o país. Foi o princípio que baseou vários casos contra terroristas que praticaram ou planejaram atentados.
Assim, um contrato da CBF com uma fornecedora de material esportivo entra no escopo das investigações, simplesmente pelo fato de que essa empresa é americana. O uso de um banco dos EUA para as transações, ou até de um servidor de internet do país, pode ser suficiente para levar o processo adiante.
Além disso, a Concacaf, uma das entidades investigadas, está sediada em Miami, na Flórida. Nesta quarta-feira, agentes do FBI apreenderam documentos na sede da confederação.
COPAS DA RÚSSIA E DO CATAR
Era consenso ontem entre analistas experientes de que a escolha dos dois países para sediar, respectivamente, as Copas de 2018 e 2022, serviu como estopim para as investigações. Os EUA eram candidatos a receber o evento em 2022, e a surpreendente eleição do Catar em meio a rumores de compra de votos dos membros do Comitê Executivo da Fifa colocaram uma lupa - especialmente entre ingleses e americanos, derrotados no processo - sobre como a entidade define os locais de seus grandes eventos.
Promotor experiente, o americano Michael Garcia foi nomeado pela Fifa para investigar possíveis irregularidades na escolha das sedes das duas Copas. Seu relatório repleto de denúncias não foi divulgado pela entidade, o que o revoltou e aumentou as suspeitas de que algo estava errado. Nesta quarta, enquanto o Departamento de Justiça dos EUA divulgava detalhes da investigação, a polícia suíça recolhia documentos na sede da Fifa referentes à escolha de Rússia e Catar.
MUNDIAL NA ÁFRICA E COPA AMÉRICA DE 2016
O inquérito mostrou que fraudes relacionadas a grandes eventos vão muito além das polêmicas sedes das duas próximas Copas. A de 2010, na África do Sul, entrou no escopo das investigações, assim como a Copa América de 2016.
- A Copa do Mundo de 2010 foi a primeira realizada no continente africano, mas, mesmo para este evento histórico, dirigentes da Fifa e outros corromperam o processo por meio de propinas para influenciar a decisão da atribuição da sede da competição - disse Loretta Lynch, procuradora-geral dos Estados Unidos, antes de falar das irregularidades na competição continental do próximo ano, que será realizada em seu país:
- As investigações revelaram que aquilo que deveria ser uma manifestação esportiva foi usado como um veículo para uma rede maior para encher os bolsos de executivos, com subornos que somam 110 milhões de dólares.
As consequências da operação contra a Fifa que prendeu Marin:
* ZH Esportes