A tempestade chegou às praias do mundo no ano passado, aumentou de intensidade em 2015 e pelo jeito não será dissipada tão cedo. Capitaneada por Gabriel Medina, Mineirinho e Filipe Toledo, uma geração de brasileiros vem desbancando redutos tradicionais do surfe - um feudo dominado por australianos, americanos e havaianos - e promete ficar no topo das ondas por muitos anos. Saiba como os ventos favoreceram o surgimento de tantos talentos ao mesmo tempo.
Entenda como funciona o sistema de pontuação no Surfe
Gabriel Medina, Adriano de Souza, o Mineirinho, e Filipe Toledo são os expoentes de uma trupe que ficou conhecida no universo do surfe como "brazilian storm", ou "tempestade brasileira". O furacão no Circuito Mundial tem um epicentro: o litoral de São Paulo. Mineirinho nasceu em Guarujá. Medina ficou mundialmente famoso por ser fruto de Maresias, praia pertencente a São Sebastião. Já Filipe Toledo deu os primeiros passos no esporte em Ubatuba.
Surfe brasileiro: sucesso lá fora, crise doméstica
- São Paulo tem um dos melhores litorais do Brasil, com ondas de todo tipo. Esse fator, somado ao bom desenvolvimento da base e à realização de campeonatos amadores bem organizados, favoreceu o surgimento desses surfistas. - afirma Klaus Kaiser, gerente da WSL na América do Sul - E eles são extremamente talentosos - completa.
- O trabalho feito no surfe de base em São Paulo é muito forte. É como uma escola de alto nível que você escolhe para o seu filho estudar. Quem passa por aqui tem vaga em qualquer campeonato do mundo - compara Sílvio da Silva, o Silvério, presidente da Federação Paulista de Surf.
Silvério afirma que o foco da federação é o surfe de competição, com disputas que envolvem crianças a partir de sete anos até jovens de 18 anos. A entidade dá suporte a 12 associações de municípios do litoral, que promovem campeonatos locais, formando um ranking. Os melhores são habilitados a disputar o circuito paulista amador.
Segundo o dirigente, essa formatação movimenta o calendário paulista ao longo do ano: em média, são realizadas em torno de 60 etapas na temporada.
Silvério destaca que não apenas Mineirinho, Medina e Filipe participaram do circuito amador paulista. Surfistas de outros Estados que hoje despontam no circuito também decidiram morar e competir em São Paulo. É o caso de Ítalo Ferreira, 20 anos, atual campeão brasileiro e 11º colocado no ranking mundial, e Jadson André, 14º na lista, ambos nascidos no Rio Grande do Norte.
Em comum além do talento e do berço paulista, o trio de ouro do surfe brasileiro despontou muito cedo para o esporte. Filho de uma dona da casa e de um estivador, Mineirinho - atual líder do ranking mundial - tinha nove anos quando foi descoberto por Luiz Henrique Saboia Campos, o Pinga, um treinador de surfe de Guarujá.
- Alguns amigos da praia falavam sobre dois ou três meninos. Um deles era o Mineirinho. Um dia ele chegou e perguntei: "E aí, vamos pegar onda?". Foi ali que comecei meu trabalho com ele, que durou até dois anos atrás - lembra Pinga, que se tornou um espécie de mentor do surfista, negociando desde contratos com patrocinadores até matriculando-o em colégio particular e curso de inglês.
Estreia no esporte aos 10 anos de idade
Incentivado pelo padrasto, Charles Rodrigues, Medina começou a surfar com a mesma idade de Mineirinho. Aos 11 anos, vencia o primeiro campeonato no Brasil. Aos 15 anos, conquistava a primeira vitória em uma etapa do WQS, a divisão de acesso à elite do surfe. Na avaliação de Teco Padaratz, surfista catarinense que venceu duas etapas do Circuito Mundial na década de 1990, a oportunidade de viajar pelo mundo e disputar, ainda na adolescência, competições de alto nível é um trunfo da nova geração.
- Faltou experiência de ondas maiores para mim. É importante surfar desde cedo ondas como as de Taiti ou Pipeline, por exemplo. Eu só comecei a viajar quando virei profissional. Teve onda que só fui conhecer na própria bateria - afirma Teco.
Responsável por um show de aéreos na última etapa, no Rio, Filipe é o mais precoce do trio. Filho de Ricardo Toledo, bicampeão brasileiro de surfe nos anos 1990, o vice-
líder do ranking subiu pela primeira vez em uma prancha aos 10 meses de idade, nos braços do pai. Aos seis anos, conta Ricardo, o filho revelou um desejo: "Quero ser campeão do mundo no surfe".
- Filipe tem o sangue nos olhos pelo surfe, sempre foi muito competitivo - orgulha-se o pai.
Apesar da disputa acirrada na água, os surfistas brasileiros aparentemente convivem em harmonia na areia. Em meio às comemorações pela conquista na etapa do Rio, no último domingo, Filipe destacou a união dos atletas brasileiros:
- O suporte que a gente dá para o outro é muito bom, no fim dos eventos sempre vem alguém para dar parabéns.
A próxima etapa será realizada entre 7 e 19 de junho, em Fiji. O retrospecto brasileiro é favorável: em 2014, Medina venceu a competição e recuperou a liderança do ranking nas ondas tubulares do arquipélago do Pacífico. A torcida brasileira é para que o mau tempo continue para os surfistas gringos.
*ZHESPORTES
No topo
A tempestade brasileira que chegou para ficar no Surfe
Gabriel Medina, Mineirinho e Felipe Toledo comandam uma geração de brasileiros que vem desbancando redutos tradicionais do esporte
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: