Jornalista nunca deve deixar de ser repórter. Se esquecer o cerne do seu ofício, pode apostar que a sentença de morte está lançada. Há quem fique até famoso carregando tintas nas teses definitivas e adjetivadas, se distanciando da notícia, mas isso não tem a ver necessariamente com jornalismo. Tem a ver com fama. Tomei este mantra como regra desde que deixei a militância da reportagem diária e passei a me dedicar a formular opiniões.
Só que não é muito fácil sobreviver apostando em notícias neste mar de opiniões multimídia de hoje. Como você não pode se esconder atrás de uma notícia chinfrim, usando-a como biombo para fugir daquela posição que te renderá patrulhas e intolerâncias, fui espargindo minhas teses.
Suponho que esteja agradando, porque nunca fui tão instado a tê-las. E a tendência é este ritmo aumentar até o sufocamento, neste mundo opiniático acelerado. Aí está o drama que me assalta. Por que raios o cronista esportivo tem de ter opinião formada instantaneamente sobre tudo?
Somos obrigados a responder perguntas sem resposta por definição, sob pena de murismo. Você tem de ter respostas. Sempre. E respostas definitivas. Não importa se você acredita nelas.
O que é importa é tê-las. O mundo é das certezas. Tenho medo de tantas certezas. Mas elas estão aí. Dilma e Aécio. PT e PSDB. Golpe e clamor popular, para ficar no maniqueísmo implícito nas passeatas deste domingo. Pontos corridos e mata-mata.
A dúvida está tão fora de moda que, se você a admite e sobe no muro para pensar, leva pedradas tão violentas dos dois lados que cai. Acaba por ficar de um lado na marra, meio desmaiado. Suspeito até que, na próxima eleição, os institutos de pesquisa suprimirão a opção indeciso para o eleitor.
O Grêmio anunciou Cristian Rodríguez. Ele é um jogador de grife, de Liga dos Campeões, de Copa. Se estava emprestado ao Parma, um clube falimentar, e não mais no Atlético de Madrid, é por que já esteve melhor.
Mas não faz tanto tempo assim que esteve melhor. Nem chegou aos 30 anos. Brilha na seleção uruguaia. Cristian dará certo no Grêmio? Eu até entendo que sim, mas certeza mesmo, não tenho. Ninguém pode ter. Há um universo imponderável no futebol que nenhum outro esporte exibe. O honesto é dizer não sei e alinhar prós e contras forjados na informação.
Só que ninguém aceita um não sei honesto. A ordem é mandar uma opinião convicta, mesmo sem convicção.
O árbitro Francisco Neto foi estupidamente carimbado de Chico Colorado por Felipão. Neste caso tenho certeza, como tenho na proteção equivocada dos clubes às organizadas e da necessidade de defender a democracia de muitos que malandramente falam em seu nome por aí.
Foi um desrespeito profissional o que o técnico do Grêmio perpetrou, logo ele que sofre com o carma do 7 a 1. Neto foi incluído no sorteio de Brasil-Pel e Inter e deu a sorte (ou azar) de ser o escolhido. Fui instado a opinar: certo ou errado?
A FGF não quis capitular para Felipão. É um bom motivo. Mas também é correto pensar que é uma exposição desnecessária. Tudo o que o árbitro fizer será colorado (condicionamento) ou gremista (a crítica de Felipão), mesmo com o Xavante no meio. Francisco Neto será criticado ainda que acerte tudo.
Quem se importa com tantas dúvidas sem brilho?
Pois então anote aí: orgulhosamente, não sei se Cristian Rodríguez dará certo no Grêmio e nem se Francisco Neto deveria apitar neste domingo, em Pelotas.
Carrego aqui comigo algumas certezas, mas me orgulho mais de minhas dúvidas.
*ZHESPORTES